Detentos destroem peças de inquéritos antes da fuga

Agente Messias: o retrato da humilhação (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

Na fuga, os 21 detentos custodiados na 5ª Delegacia Metropolitana deixaram um rastro de destruição. Portas das salas e dos armários foram arrombadas e os laudos periciais, drogas fruto de apreensões e outras peças de inquéritos policiais ficaram espalhadas nos compartimentos da delegacia, onde havia apenas dois agentes de plantão para dar atendimento a 42 detentos.

Os fugitivos levaram a arma, a chave do veículo de um dos agentes, carteira com documentos pessoais e dinheiro e há suspeita que também roubaram parte da droga que estava custodiada na delegacia como parte integrante dos inquéritos policiais. Metade dos detentos optou por ficar. Este grupo de presos decidiu mobilizar a comunidade, pedindo apoio para acionar a polícia militar e prestar solidariedade aos dois agentes da polícia civil, que foram maltratados, humilhados e ameaçados de morte durante a rebelião, que culminou com a fuga de 21 detentos, segundo os primeiros levantamentos realizados pela polícia. “A gente não fugiu porque a gente quer a liberdade de boa”, justificou Roberto Lopes Santos, preso por estelionato, que topou se identificar para a equipe de reportagem do Portal Infonet.

Humilhação e tortura

Inquéritos foram espalhados por vários compartimentos

Nesta rebelião, o agente Murilo Messias dos Santos, que prevê aposentadoria para o próximo ano, passou os piores momentos da vida profissional, dominado por um dos detentos, que insistia em enforcá-lo. Com uma corda amarrada ao pescoço, o agente ficou sufocado, preso à grade de uma das celas, rebatendo-se tentando se defender, e ouvindo sempre a mesma frase: “você precisa morrer, vou lhe matar agora”, conforme revelou o próprio agente policial em conversa com o Portal Infonet.

Segundo informou, os presos serraram um pedaço da grade de uma das celas onde estavam detidos, taparam o buraco com um pedaço de plástico e aguardaram a primeira alimentação do dia. “Quando fui servir o café, não vi que a grade estava serrada e um deles saiu daquele buraco, me rendeu, colocou a corda no meu pescoço e me deixou preso na grade. Tá vendo minha camisa, tá toda rasgada. Fui eu lutando, me arrastando para me livrar da corda. Fiz muita força para respirar”, revelou o agente, sem esconder a revolta decorrente da falta de condições de trabalho naquela delegacia. “Aqui nem férias, eles estão dando a gente”, comentou.

Os detentos que não fugiram revelaram a angústia dos policiais, que, além de torturados física e psicologicamente, ficaram trancafiados em uma das celas. “Eles trancaram os coroas ali e deixaram aqui tudo aberto pra gente fugir, mas a gente não quis”, revelou um outro detento, que está na Delegacia acusado de porte ilegal de arma.

Armários quebrados

Quando chegaram à delegacia, os policiais militares encontraram os dois agentes trancados na cela e as portas da delegacia todas abertas. Observando a estrutura, os policiais militares também não esconderam a insatisfação.  “Este não é lugar para se trabalhar, não tem a mínima estrutura. Onde já se viu deixar inquéritos junto com presos em uma delegacia?”, observou um PM, que prefere o anonimato.

Arma

Por volta das 8h da manhã, policiais militares foram novamente acionados para tentar prender um suspeito que tentava comercializar uma arma no mercado central de Aracaju. Segundo informações do cabo Couto, do 8º Batalhão, o suspeito pode ser um dos fugitivos da 5ª Delegacia. “Quando ele percebeu a aproximação da equipe, ele deu uma volta e pegou uma contramão e fugiu na shineray”, informou o cabo.

Até o momento, nenhum dos detentos foi recapturado e os policias militares permanecem realizando rondas na tentativa de localizá-los. O Portal Infonet tentou ouvir a Secretaria de Estado da Segurança Pública, mas não obteve êxito. Os dois delegados que atuam naquela unidade não atenderam aos telefonemas e a assessoria de imprensa se comprometeu a divulgar uma posição oficial da SSP posteriormente. O Portal Infonet permanece à disposição. Informações devem ser encaminhadas por e-mail jornalismo@infonet.com.br ou por telefone (79) 2106 – 8000.

Por Cássia Santana

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