Falando de Semana da Pátria

Por Malva Barros * …Estou mesmo ficando velha… Penso logo quando me vejo obrigada a iniciar um assunto com: “no meu tempo”… mas, a verdade é que no meu tempo, era uma festa o dia 7 de setembro. Não falo da festa exterior, com desfiles, bandas, militares marchando naquele modo tão esquisito. Falo da festa interna, da emoção que sentíamos por ser aquele o dia 7 de setembro. Nos irmanávamos mal amanhecia o dia. O sentimento do povo estava completamente voltado para a nação, a nossa Pátria amada, idolatrada e a saudávamos, com os corações cheios de alegria. Estava no auge de meus sete anos. Era a menina mais bonita do primeiro ano e a mais inteligente (a modéstia pediu férias) também. Tínhamos orgulho do Brasil, ufanávamos nosso peito juvenil ao nos postarmos para cantar nossos hinos. Eu era a baliza nos desfiles, sapatilhas brancas, roupinha de bailarina, longos cabelos em coque, rosto alegre com brilhantes olhos de jabuticaba, vendo o povo acenando bandeirolas na avenida. Hoje, presenciei a discussão das mães de família que foram convocadas para apoiarem o grupo escolar, visando o abrilhantamento do desfile de 7 de setembro. Todas, sem exceção, são contrárias a fazer mais um sacrifício para ajudar a colocar em ordem os instrumentos, bem como, não querem comprar tênis e uniformes novos para o dia da “festa cívica”. Sentada, desconfortavelmente, em minha cadeira de palestrante, ouço as colocações: – Mais uma contribuição? Agora é dinheiro pra tudo que é coisa, já mandei nessa semana para ajudar a comprar papel ofício; há uns quinze dias para material de limpeza, até para comprar giz já enviei uns trocados. Vocês esquecem que os estudantes daqui são filhos de gente pobre? – Desfile pra quê? Comemorar o quê? Diga o que tenho para comemorar. Meu marido desempregado, meu filho precisa de banca e não posso pagar e o que temos para comer em casa não sei se dá para chegar até o dia do desfile. – Comemorar independência… Independência de quê? Somos dependentes de tudo! Até do bom humor com que o pessoal do FMI acordar pela manhã. As mães estão furiosas, não há como acalmá-las. Levanto-me e peço silêncio apenas com as mãos. Pego o microfone e começo a dizer o que escrevi nos dois primeiros parágrafos. Vejo quando se calam e tenho a atenção de todas voltada para minhas palavras e continuo: – Sei que a situação hoje é de uma instabilidade imensa. Não há como negar que o país está mergulhado num mar de dificuldades. Mas não é motivo para que passemos a ensinar a nossos filhos a relegarem ao esquecimento nossas datas comemorativas. O menino criado sem sentimentos de amor à Pátria será o corrupto ou o corruptor de amanhã. Será aquele que venderá o país sem pensar nos resultados. As crianças brasileiras precisam ter brasilidade, não podem perder a capacidade de amar apesar de… É fácil amar quando tudo vai bem, mas será meritório amar ao que nos atende em todas as nossas dificuldades? Muitas de vocês rezam, oram fervorosamente para que Deus atenda às suas preces, mas nem sempre o desejo de vocês é atendido. Isto é motivo para duvidarem da existência Dele? Para deixarem de comemorar o Natal? Não, não é. A sua terra natal já não tem tantas palmeiras, os sabiás já não entoam livremente seus cantos, nossas riquezas são levadas por piratas nacionais e estrangeiros, mas… Ela deixa de ser nossa terra, nosso país? Não… Fui convidada para falar sobre a importância do dia 7 de setembro. Mas vejo que o importante é falar sobre o cidadão do futuro, sobre seus filhos. Se eles crescerem sem respeito pela pátria, duvido que tenham condições de desenvolver respeito pela casa, pela cidade, pelo bairro, pelos pais, pelos filhos… O governador quer que o colégio desfile todo paramentado para que possa mostrar, no dia do desfile, que nossas escolas funcionam a contento. Acho que a escola deve desfilar. Mas que desfile segundo as posses de cada estudante. Quem não tem tênis branco que vá com o calçado que tiver, mesmo que seja uma sandália salgabunda. Se a farda já perdeu o brilho, a calça está curta, a camisa apertada, mande seu filho com a roupa lavada e passada. Mostre seu capricho ao governador e que ele mesmo veja em que está se transformando a família sergipana. Mas ensine a seu menino ou menina, que filho ama e respeita a mãe independente dela ser boa e que cidadão ama e respeita a Pátria independente de quem dirige os destinos da nação. “Ensine o menino o caminho por onde deve andar para que mais tarde não se desvie dele”. É assim que está escrito no mais antigo livro do mundo: a Bíblia. Este ensinamento se conserva sempre novo, atual e próprio de ser praticado em qualquer terra, até mesmo na nossa terra brasileira. Não sei se era bem isso que a direção da escola esperava ouvir de mim… Mas, com certeza, era o que as mães mais precisavam nesta manhã: apoio, apoio incondicional. * Coordenadora do Armazém Literário, Técnica Agrícola, Professora de Informática e Escritora.

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