Lesões profundas no corpo do animal são características de atropelamento por embarcações motorizadas (fotos : FMA)
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Gravemente ferido e apresentando diversos cortes ao longo do corpo. Foi assim que a equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) e Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), responsáveis por executar o Subprograma Regional de Monitoramento de Encalhes e Anormalidades – PRMEA[i] do litoral norte de Alagoas ao litoral norte da Bahia, encontrou o peixe-boi marinho “Astro”, no dia 23 de março. O animal, que costuma utilizar o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia como área de circulação, estava na Praia de Mangue Seco (BA). Imediatamente, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM) – uma estratégia de conservação e pesquisa da FMA para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil – foi avisado sobre o ocorrido e já está no local auxiliando no monitoramento e avaliação de “Astro”.
As lesões, algumas profundas e intercaladas, presentes no corpo do animal são características evidentes de atropelamento por embarcações motorizadas, nas quais são perceptíveis as marcas ocasionadas por casco e principalmente por hélice. O peixe-boi marinho (Trichechus manatus) está em perigo de extinção no Brasil. Cada indivíduo existente é de suma importância para a perpetuidade da espécie. Considerando a gravidade da situação, uma força-tarefa está sendo mobilizada. Aproximadamente 18 profissionais (representantes do PVPBM, PRMEA e da APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio) – entre médicos veterinários, biólogos, ecólogos e técnicos de campo, com vasta experiência em manejo de peixes-bois marinhos – encontram-se em Mangue Seco. A missão é realizar a captura do animal e proceder a avaliação minuciosa dos ferimentos existentes, sendo empregado o tratamento pertinente para o caso. Em seguida, “Astro” receberá um equipamento de telemetria satelital e todos os seus deslocamentos serão acompanhados.
“Estamos concentrando todos os nossos esforços para sanar os ferimentos constatados no Astro, por meio do tratamento apropriado, tendo em vista a gravidade das lesões identificadas. Em paralelo, a nossa equipe de educação ambiental já se encontra em campo informando a todos os condutores de embarcação sobre os riscos destes acidentes para estes animais”, afirma o pesquisador e médico veterinário, João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Em um ambiente conservado, o peixe-boi marinho pode viver uma média de 50 a 60 anos. No entanto, os impactos ambientais provocados pelo homem ainda representam a maior ameaça à espécie. Lixo, esgoto e substâncias tóxicas lançadas nos mares e nos rios, circulação intensa de embarcações motorizadas nos locais de ocorrência da espécie, degradação dos manguezais, destruição da mata ciliar, construções desordenadas em praias e estuários, a perda de habitat (estuários e áreas costeiras), captura acidental em redes de pesca. Todos estes fatores colocam em risco o ambiente, a saúde e a vida deste mamífero.
“Astro” é um peixe-boi marinho reintroduzido
“Astro” têm um histórico de extrema importância para a conservação do peixe-boi marinho no Brasil. Em 1991, ele foi encontrado ainda filhote encalhado na praia de Aracati, no estado do Ceará, sendo em seguida encaminhado para o Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, em Itamaracá, onde recebeu atendimento adequado e permaneceu por três anos em processo de reabilitação. Em 1994, foi transferido para um cativeiro construído em ambiente natural, em Paripueira (AL), e, após readaptado às condições ambientais, foi solto nesta mesma região. Astro, junto com o peixe-boi “Lua”, foram os primeiros animais da espécie a serem reintroduzidos no Brasil. Por volta do ano de 1998, “Astro” se deslocou para o litoral de Sergipe e, desde então, vem utilizando a área compreendida entre o rio Vaza-Barris (SE) até Mangue Seco, no litoral da Bahia.
“É importante destacar que a presença deste animal nesta região é de grande relevância, pois trata-se da reocupação de uma antiga área de ocorrência histórica e constitui a distribuição mais ao sul da espécie no Brasil”, lembra João Carlos Gomes Borges. O coordenador do PVPBM ressalta ainda que a presença de “Astro” nesta localidade tem, ao mesmo tempo, despertado preocupações de diversos profissionais e Instituições envolvidas na estratégia de conservação da espécie, tendo em vista que o animal apresenta um histórico de atropelamentos desde 2001, já sendo constatado pelo menos seis eventos desta natureza. Além disto, frequentemente “Astro” sofre com o forte impacto de interações dos turistas que visitam a região, já sendo registrados casos de pessoas que oferecem alimentos e bebidas a ele, o que pode trazer sérios problemas para o animal.
O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – que é realizado pela FMA e patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental – desenvolve iniciativas que possam evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. A equipe do Projeto orienta que caso alguém encontre um peixe-boi marinho, não ofereça alimentos nem toque no animal. No caso em que estes estejam encalhados (vivos ou mortos), o primeiro procedimento é comunicar ao órgão ambiental atuante na região ou entrar em contato com a FMA, pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 99961-1352/ (79) 3025-1427. Em casos de encalhe de animais vivos, enquanto aguarda a chegada do resgate, a pessoa deve seguir as seguintes orientações: 1- Se o animal estiver exposto ao sol, proteja-o fazendo uma sombra; 2- Não o alimente e nem tente devolvê-lo à água; 3- Evite aglomeração a sua volta.
Fonte : Ascom Fundação Mamíferos Aquáticos
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