Polícia já investiga 196 inquéritos contra militares

Vítimas temem que militar volte as ruas
O envolvimento de policiais militares em crimes bárbaros como estupros contra idosa e adolescentes e até homicídio contra um colega de farda, chocou os sergipanos. De acordo com a assessoria da Polícia Militar de janeiro deste ano, até a última sexta-feira, 27, já foram abertos 188 sindicâncias, 196 inquéritos policiais militares e 7 conselhos de disciplina.

Uma discussão sobre vaga de estacionamento com um colega de farda teria levado militares a trocar tiros na Orla da Atalaia, local de grande movimento e de maior fluxo de turistas do Estado. Um saldo negativo que terminou na morte do jovem policial Alisson Farias Souza, de 24 anos.

Estupro

Infelizmente a morte do militar não foi o único caso envolvendo a corporação. Nesta semana, mãe e filha teriam sido estupradas por um cabo da PM. O relato das vítimas que acusa o policial militar identificado como José Hademecles Góis da Silvarelato mostra como o cabo usava o poder de polícia a favor do crime. Assustadas e temendo que o policial possa ser colocado em liberdade cerca de dois dias após o fato, mãe e filha não conseguem entender porque foram vítimas de tamanha brutalidade.


M.C.G. de 54 anos, e A. G, de 21 anos, foram estupradas e ameaçadas pelo militar. O triste relato já noticiado pelo Portal Infonet (ver vídeo abaixo) mostra que a ação do policial intimidava as vítimas que tinham medo de denunciar. “Quando fui estuprada fugi de casa porque sabia que ele não iria mais me deixar em paz, passei fome na rua com medo de voltar e ele fazer alguma coisa comigo e minha família”, conta A.G acrescentando que o cabo andava armado.  


A mulher só teve coragem de denunciar o acusado quando a mãe foi vítima do mesmo crime. “Quando vi a minha mãe sendo estuprada perdi o medo e decidi procurar a polícia, mas tenho medo dele não ficar preso, porque ele é acostumado a fazer isso e não dá em nada”, lamenta.


O comandante da Polícia Militar, coronel Carlos Pedroso, explicou que José Hademecles foi expulso da corporação, mas a Justiça reintegrou. “Ele foi expulso, mas por uma ordem judicial foi reintegrado a corporação. Quero ressaltar ainda que ele foi preso em flagrante por policiais militares”, afirmou.  


Adolescentes


O delegado da Delegacia de Grupo Vulneráveis (DAGV), Alessandro Vieira, confirmou que prendeu um aspirante do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (CBMSE) identificado como Elton Gonçalves dos Santos, de 31 anos, acusado de estupro de vulneráveis.

De acordo com o delegado o militar foi preso após realizar um programa com duas meninas de 13 anos na Orla de Atalaia, por volta da meia-noite.

A psicológa Edelvaisse Ferreira

Traumas

Sobre o trauma causado nas vítimas o Portal Infonet ouviu a Psicológa Edelvaisse Mendonça Ferreira. De acordo com a médica os prejuízos são inúmeros. “Não importa quem tenha praticado a violência – a verdade é que a vítima sempre passa por um sentimento de impotência, de inferioridade, de vergonha que provoca sentimentos de derrota ou de revolta. Em ambos os casos, no entanto, há um grande risco de se produzir novo quadro de violência, dessa vez praticada pela vítima”, diz.

Edelvaisse Mendonça também ressaltou que policiais são vistos como figuras de poder e de proteção. Segundo a psicológa o policial é uma extensão associada inconscientemente ao vínculo e às expectativas criadas na infância pelos filhos em relação aos pais. “Assim, quando um indivíduo é vitimado por uma figura de respeito, a primeira conseqüência é a desconstrução dessa imagem, o descrédito nesses valores”, destaca a psicóloga.

A violência também atinge a instituição. “Quanto à condição da polícia que tem sua imagem maculada por casos de violência praticada por policiais, é importante lembrar que a atitude de um policial não pode ser generalizada e contaminar a opinião pública a respeito de toda a corporação. É provável que o policial praticante de um ato violento tenha sido também vitima em algum momento de sua vida e que esteja apenas tendo a mesma reação que a sua vítima terá”, lembra.

Tenente Coronel Luiz Fernando lamenta o envolvimentos de PMs
Repúdio

Os crimes foram repudiados pelas autoridades da segurança pública de Sergipe e por entidades de associações militares. O tenente coronel Luiz Fernando que responde pela assessoria de comunicação da PM, disse que todos os casos envolvendo militares são investigados e punidos quando comprovados. O coronel destacou que os casos citados pela material foram fruto de uma atitude individual e doutrinariamente errado.

O gestor da Associação Beneficente de Servidores Militares (Abmse), sargento Edgar Menezes, foi além e afirmou que os crimes maculam a imagem que é preservada pelos bons policiais. “Repudiamos de todas as formas que militares estejam envolvidos em crimes. Não é para isso que lutamos, queremos e defendemos, um policial militar honesto, honrado que defenda a

Sargento Edgar diz que crimes maculam a imagem da instituição
sociedade”, ressalta o sargento.

Edgar Menezes reconhece que quando um policial comete crime recai sobre todos. “Esse tipo de coisa joga um balde de água fria no nosso trabalho. Não admito policial corrupto, bandido, mau caráter. Policial tem que ser exemplo, porque quando acontece algo isso recai sobre a instituição”, lamenta.

Punição

Apesar de não fornecer dados sobre o número de PMs expulsos da corporação o  assessor de comunicação da Polícia Militar, capitão Robson Donato, garante que a polícia atua com rigor na investigação de qualquer membro da corporação. “A Polícia Militar de Sergipe não se furta da

Polícia afirma que todos os casos envolvendo policiais são investigados
obrigação de investigar os fatos de desvio de conduta que existem na instituição”, diz o capitão que recomenda que qualquer denúncia envolvendo militares seja feita na ouvidoria, que funciona no Shopping Riomar.

O assessor explica que tanto as sindicâncias quanto os inquéritos são instaurados para apurar as mais diversas informações que chegam à instituição, tanto internas quanto externas. Tendo a diferença de que os inquéritos policiais militares são abertos quando se vislumbra, na investigação prévia de uma fato, que há indícios de prática de crime, seja esse comum ou militar.

“Os conselhos de disciplina são instaurados para avaliar a capacidade de permanência do militar nas fileiras da instituição, quando este, por reiteradas vezes em um curto espaço de tempo, chega à categoria de comportamento mau, ou quando o militar é condenado pela Justiça à pena privativa de liberdade superior a dois anos”, explica.

* A matéria foi alterada ás 7h44 para acréscimo de informações


Por Kátia Susanna

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