Rogério Carvalho lança ‘Saúde todo dia: uma construção coletiva’

O deputado estadual eleito e futuro secretário de Estado de Saúde, Rogério Carvalho Santos, lança hoje, 13, o seu primeiro livro intitulado ‘Saúde todo dia: uma construção coletiva’. O livro faz parte da coleção ‘Saúde em debate’ e foi a sua defesa de tese de doutorado, resultado do seu trabalho frente à pasta de saúde do município de Aracaju. Em entrevista exclusiva ao Portal Infonet, o médico explica o conteúdo de sua obra, fala sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua polêmica e revela sua vontade de escrever um novo livro sobre sua experiência como candidato a deputado nas eleições 2006. O lançamento acontecerá às 19h na Sociedade Semear, rua Vila Cristina, 148 no bairro São José.

Portal Infonet – O senhor já lançou o seu livro em outros Estados, por que a demora de fazê-lo aqui?
Rogério Carvalho – O livro foi lançado na Exposição de Gestão do SUS Nacional em Brasília, organizado pelo Ministério da Saúde, e também no Congresso de Secretários Estaduais de Saúde que ocorreu no Rio de Janeiro, em março deste ano. Foi marcado outro lançamento pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais (Conasem), em Recife, mas eu não pude ir. Agora estou fazendo o lançamento em Aracaju que eu não tinha feito em função da campanha e das proibições eleitorais, decidi deixar passar este período.

Infonet – É seu primeiro livro?
RC – É a minha primeira publicação com formato de livro com editora, mas eu lancei também em 98 uma pequena edição da minha tese de mestrado na área de Educação Médica.

Infonet – O livro trata de quê?

RC – Eu defendi o doutorado em 2005 e o livro é na verdade a minha tese, onde eu reconstruo todos os momentos que foram determinantes para a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) em Aracaju no período de 2001 a 2005. E como foi uma tese, o livro acaba tendo um conteúdo bastante sistematizado. Ele é dividido em partes, ou seja, eu consigo falar de que maneira nós nos preparamos enquanto agentes públicos e atores sociais, qual interação com a realidade que nós nos inserimos e de que maneira a gente conformou o coletivo que construiu o objeto – a saúde pública na cidade de Aracaju. E conformar um ator social capaz de interagir com este objeto e produzir uma ação que mude a realidade. Na segunda etapa, eu procuro mostrar que compreensão teórica este coletivo construiu para olhar a saúde pública de Aracaju, considerando a história do povo brasileiro no que diz respeito à transformação da saúde no direito universal. Cito também quais foram às estratégias que nós adotamos para conduzir o resultado da interação e por último, os resultados do que nós conseguimos fazer. Tentando mostrar que a teoria, os autores e as estratégias que adotamos produziram um resultado e a mudança na saúde do município.

Infonet – No livro, o senhor ‘dialoga’ um texto com o autor Carlos Matos, ex-ministro de Economia de Salvador Allende, onde este diz que “ator social é aquele que tem um projeto que atua em um determinado espaço de profissão social mudando a dinâmica social deste espaço”. Como isto se aplica ao seu livro?
RC- Ele explica que para ser este ator necessita ter um projeto, precisa atuar em um determinado espaço e precisa mudar a dinâmica social. Então, de certa maneira eu persegui isto. Será que nós nos conformamos como um ator social capaz de implementar um projeto, criar fatos que mude a realidade social onde nos inserimos como tal? Eu tento mostrar que a gente conseguiu fazer isto. E mostrar um resultado do trabalho de cinco anos na frente da secretaria, que foi meu objeto de estudo no doutorado e que se transformou no livro cujo título é ‘Saúde todo dia: uma construção coletiva’.

Infonet – Por ser um livro oriundo de uma defesa de tese, poderíamos dizer que ele atende a um público específico ou não?
RC- Como diria o Nicolai Leconvisk, um dos inspiradores, existe três tipos de narradores: o clássico que narra através de mitologias, fábulas e parábolas e não tem compromisso com o sentido; tem o narrador que é o jornalista, onde é apresentado um fato e tem o narrador moderno que conta uma história e incorpora a análise sobre ela. Então o livro é uma narrativa moderna, onde tento construir um processo histórico, mas fazendo uma análise do que aconteceu. Com algumas visões analíticas do que aconteceu ou a partir de várias visões que constrói uma reflexão sobre o que aconteceu.

Infonet – O livro conta o processo de implantação do SUS em Aracaju. Existe um debate onde o SUS seria o caminho para a melhora da Saúde no país. O senhor acredita que este sistema seja mesmo a solução para a Saúde? Gostaria que o senhor explicasse de forma simples o que é este sistema.
RC – A França é um país que é referência para toda a civilização ocidental na garantia de direitos individuais. Lembre-se que a revolução francesa marca uma nova era para a humanidade – quando se observa um país muçulmano, você vê o que é Revolução Francesa e você vai a um país ocidental e vê o que é pós revolução francesa – podemos olhar para os dois extremos. O SUS no Brasil é um pouco da conquista do povo brasileiro no sentido de transformá-lo em uma necessidade social, depois em demanda, com o tempo passou a ser uma questão social, depois como objeto de política e agora, em direito universal. Então, na medida em que você transforma a saúde num direito de cidadania ela passa a ser universal. Aí começa o grande desafio: garantir a saúde para todos. E se é um direito universal, deve atender com integralidade – quer dizer, ‘o que cada um necessita é para todos”, mas levando em conta um elemento ‘aqueles que precisam mais devem ser atendidos primeiro’. Então é um sistema extremamente complexo. Se você comparar o Brasil com outros países, teremos uma similaridade com a Espanha, porque é o sistema universal sem fator de moderação. Então, nós somos um sistema moderno em construção.

Infonet – Que consolidação é esta?
RC – É o Brasil um país de seguro social? Ou É o Brasil um país de seguridade social? Nós temos uma tradição de influência econômica recente dos EUA. E neste momento, nos EUA, o mercado regula tudo, os indivíduos adquirem aquilo que vão usufruir e inclusive o seguro desemprego, de vida, aposentadoria etc. Mas, nós temos por outro lado uma origem européia onde temos também algumas influências. Então, nós temos no Brasil um sistema de seguridade social, onde a saúde, assistência social e previdência é um direito. E, se é um direito, a sociedade tem que ‘bancar’ para todos, porque faz parte da conta que todos têm que pagar. Mas, parte da sociedade não defende isso como uma questão dada, apesar de estar garantido na Constituição. Então, nós temos um debate. Se pegarmos qualquer meio de comunicação da grande imprensa você vê manchetes como “Governo está gastando muito” ou “É um rombo na previdência”. Na verdade não existe este rombo na previdência, mas sim um sistema de seguridade que necessita ser custeado, porque assim a Constituição estabelece. Então, o governo está cumprindo uma tarefa, mas parte da sociedade brasileira não valida esta opção histórica que é fruto da conquista de setores da sociedade. Ainda existe esta divisão na sociedade. Vou lhe dar alguns exemplos. Eu estive na Finlândia em 2005 e estive visitando o sistema de saúde deles eles têm filas de espera para vários procedimentos de até seis meses. É um problema para eles, mas é um problema para o mundo inteiro – a espera é do serviço de saúde. O estado do bem social europeu é a referência no mundo. Na Itália, para você conseguir uma consulta no sistema público você tem que pagar 30 Euros para fazer o primeiro procedimento. E, se quiser ser atendido em até uma semana, o valor sobe para 120 Euros, o valor de uma consulta privada. Então, o Brasil tem um sistema em que não há fator de moderação e você tem também um acesso livre, aberto, onde as pessoas conseguem pelo menos demandar. Daí, o governo garantir este direito leva-se um certo tempo.

Infonet – O senhor quer dizer que os comentários de que na Europa você paga os impostos, mas os recebe de volta em serviços de qualidade, a exemplo da Saúde, não é verdade?
RC- Não é bem assim. Você tem direito à saúde, mas tem espera. Por exemplo, no Canadá, uma cirurgia de catarata, você pode ficar na fila dois anos e no Brasil você faz em menos de quatro meses. Hoje, o sistema de Aracaju é organizado. Conseguimos fazer coisas aqui que não existem na Europa e eles são países pequenos e nós somos um ‘mundo’. No Canadá, você não sai do consultório médico com a demanda já no sistema que vai garantir o seu retorno. Pode até demorar, mas você já entrou numa lista que ninguém passa na sua frente a não ser que a necessidade do outro seja maior do que a sua. E a lista é pública. Isto é uma grande evolução. O maior problema que o SUS tem na sua consolidação está no debate se ele é parte da seguridade ou é um seguro. Este debate está no seio da sociedade e precisamos esperar.

Infonet – Pensa em escrever outros livros?
RC – Claro, acredito que cada experiência que temos, se for possível, devemos registrá-las. A campanha, por exemplo, eu tenho muita vontade de parar e narrar de forma moderna o que foi a eleição para mim. Os conflitos, as dificuldades, as artimanhas com os aliados e o enfrentamento com adversários. As marcas e cicatrizes que a sociedade têm devido aos processos eleitorais viciados. É uma experiência extraordinária participar de uma campanha eleitoral, ganhá-la foi melhor ainda. Mas, fica para mim a vontade de refletir sobre o que foi este processo e registrá-lo. Não com relato de fatos, pois a imprensa faz isso, mas como uma narrativa que reflete sobre os acontecimentos, dialoga com outros autores e faz uma análise sobre o período.

Ficha:
Titulo:Saúde todo dia: uma construção coletiva
Autor: Dr. Rogério Carvalho Santos
Coleção: Saúde em debate
Editora: Hucitec
Páginas: 239
Capa: Milena Rocha
Imagem do Mercado Municipal Thales Ferraz feita em mosaico de recortes de papel pelos usuários do Caps Liberdade.

Por Raquel Almeida

 


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