Algumas reflexões sobre o evento Pré-Caju, sob a ótica do Marketing

Mais um Pré-Caju se aproxima e com ele novas mudanças na configuração do “produto”. O encurtamento do período em que a folia desfilará na avenida, a abertura de espaços antes ‘navegados’ somente pelos pagantes da festa e outras alterações mostram que este Pré-Caju nos dará resultados diferentes em vários aspectos: aumento/queda de renda dos que desenvolvem atividades comerciais nesse período, aumento/diminuição da incidência de atos violentos (oriundos da população ou da polícia), satisfação/insatisfação na avaliação final do folião, entre outras expectativas. Evidentemente, como cidadãos, o que esperamos é que os números sejam todos positivos, bons resultados e muita alegria. Porém, gostaria de analisar o planejamento do evento sob a ótica mercadológica. Segundo o estudioso de Marketing, Jeromy McCarthy (anos 60 do séc. XX) o planejamento mercadológico de um produto nos faz perceber que ao menos quatro variáveis precisam ser consideradas: o produto, o preço, a praça/logística e a comunicação/promoção. São os famosos quatro Pês (Product, Price, Place, Promotion) estudados por qualquer aluno do 4º período de um curso de Administração ou Marketing/Publicidade e outros. Alguns questionamentos poderiam ser formulados com cada um desses Pês. PRODUTO O que é o ‘produto’ Pré-Caju? Sabendo-se que um produto é composto por elementos tais como: embalagem, marca, desempenho, design, garantias, segurança oferecida, diversidades, serviços pós-venda etc., cabe-nos perguntar: todos estes itens estão inseridos nas preocupações dos planejadores do evento Pré-Caju? Temos visto que no que concerne à marca, o evento tem sido elogiado no Nordeste como um dos mais organizados. Assim, é possível inferir que o desempenho deste ‘produto’ também é satisfatório. Porém, com as mudanças que serão feitas neste Pré-Caju 2003, no que concerne às garantias de ‘segurança’, há de se temer o que virá. Quanto às ações de ‘pós-venda’, as instituições organizadoras pouco têm se preocupado com o “feedback” dos pagantes do evento. Não se perguntou se os que pagam duzentos reais, ou um pouco mais ou menos, estariam dispostos a competir pelo espaço dentro do Corredor da Folia, cujo usufruto, antes, era somente deles. PREÇO Todo produto possui um ‘ciclo de vida’ que corresponde aos estágios de: Introdução no mercado, Crescimento, Maturidade e Declínio – ou fadiga mercadológica. Observando que o produto já começava a entrar nesse 4º estágio (de fadiga mercadológica), a organização do evento optou por encurtar o tamanho do produto como alternativa para que o preço praticado pudesse ser menor e, assim, a demanda continuar fiel, em busca da compra de seus abadás e camarotes. Importa observar que o consumidor não deve ‘perceber’ uma baixa no preço e nem descontos ou estímulos ao consumo, visto que se é reduzido o tempo em que o folião curtirá o evento, então é muito lógico que o seu preço caia, proporcionalmente à quantidade de dias ‘cortados’ do calendário. Lembrando, ainda, que o pagamento em 10 vezes no cartão caiu para 6 vezes ou menos. Assim, foram trocados ‘6 por meia-dúzia’. O consumidor não perceberá estímulos no que concerne ao preço praticado, porque tudo continua como sempre o foi. PRAÇA OU LOGÍSTICA Tudo o que se refere aos transportes, à tecnologia e telecomunicação, à segurança, às vias de acesso ao evento, a todos os parceiros envolvidos na promoção/realização do evento (o chamado trade) e à criação das condições para que a festa ocorra é chamado de logística. Assim, se for verdadeira a informação de que as barreiras que são colocadas nas calçadas da Praia 13 de julho não serão erguidas neste ano, então com certeza será pior a questão da segurança do evento, visto que não será difícil a um criminoso ou ladrão arrastar um folião ou mero expectador do evento para a parte baixa da calçada, onde se tem um mangue escondido entre folhas, galhos etc. e ali serem praticados crimes que poderiam ser evitados se as barreiras permanecessem onde sempre foram postas, nos eventos anteriores. PROMOÇÃO COMUNIÇÃO ‘Quem não comunica, se trombica’ – disse o Chacrinha. Porém, a gente só comunica quando há algo a comunicar, quando se sabe para quem irá dirigir a mensagem, quando se sabe qual o perfil daquele a quem se pretende enviar a mensagem ou apelo promocional. Um dos grandes problemas enfrentados pelos marquetólogos e marqueteiros é a eterna tentativa de explicar que Marketing não é, tão somente, ‘pôr a boca no trombone’ e anunciar produtos. Isto é apenas uma das funções do Marketing. Costumo, sempre, dizer aos meus alunos de Marketing, do Departamento de Administração da UFS, que Marketing é muito mais planejamento do que a ‘arte e a beleza’ de construir um atraente outdoor, ou uma mensagem criativa em uma peça para a TV. É preciso saber o que se tem para anunciar. É preciso saber a quem anunciar. No caso do Pré-Caju, me parece, continuamos querendo atrair baianos para uma festa que eles têm quase toda a semana em alguma cidade do interior ou mesmo de Salvador. Pergunta-se: quais são os esforços efetivos da organização do evento para atrair os turistas de outros Estados brasileiros que têm uma convivência menor com o ‘axé’ tão querido de todos nós baianos e sergipanos? Outra preocupação da qual não se pode prescindir, na promoção do evento sergipano, é uma U.S.P (unique selling proposition) – uma proposta única de venda, que nos diferencie das outras festas carnavalescas realizadas pelos outros estados. A pergunta é: o que temos, e em que somos diferentes em relação aos outros pré-carnavais, e que fará com que o turista queira vir à nossa festa e não à do nosso concorrente? Os teóricos de Marketing dão a isto o nome de posicionamento. Precisamos ser diferentes em algo! Que consigamos ser diferentes em criatividade! Assim, com as mudanças, teremos uma festa mais segura e mais contagiante em alegria que aquelas realizadas em anos anteriores. Tomara que a criatividade se torne nosso principal diferencial! (*) Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS; MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas/RJ; Especialista em Gerência de Empresas de Turismo/UFS e professora de Marketing no Departamento de Administração da UFS. E-mail: jsfarias@ufs.br. Cinfolia

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