Somos seres alados
Perdidos num tempo
De ais, de cão. De pão?
Nada. Só as migalhas para muitos
E o quase todo para quase nada.
Somos assim mesmo, anjos perdidos
Com as asas quebradas, presos a um chão inútil
Que não nos serve pra nada, pois vivemos a levitar
Tamanha é a dor e a angústia que nos arremata.
Para que tanto chão?
Por que tantos seixos a construir estradas?
Para que a razão demasiada,
se levitamos e temos a possibilidade de construir estradas de girassóis
ao transcendermos a física barata da matéria?
Por que tantos cálculos?
Para que tantas cifras?
Já sei! Talvez para nos reduzirmos a nada;
A um nada, nada mesmo, daqueles nadinhas que importância quase não se vê.
Para que tanta mesquinhez com a humanidade que nos pariu?
Se temos por certo que a vida que vivemos, pensando sempre no devir,
nos escapa num estalar de tempo?
Se sabemos que um dia só nos restará pó, migalhas de ossos e cabelos empoeirados
e que vermes nos tomarão para o banquete báquico das profundezas?
Por Gustavo Aragão
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