O movimento de música eletrônica em Aracaju

Tuntistuntistunt… Esse é o som que contagia a pista de dança e faz o corpo balançar em movimentos frenéticos e enlouquecidos. O jogo de luzes é um ingrediente a mais. O movimento alucinante e as cores deixam qualquer um num estado de euforia. A sincronia dos corpos dançantes com a rapidez das batidas é um show à parte. Cada um adota visual e combustível especiais porque o “tuntistuntistunt” não tem hora para acabar. O movimento da música eletrônica em Sergipe ainda não entrou em compasso com o ritmo rápido característico desse estilo. Mitos e estereótipos relacionados à e-music – designação comum entre os mais inteirados no assunto – não faltam. “Música eletrônica é muito chata”, “isso é coisa de gay”, ou ainda “só gente muito doida curte essas coisas”. São frases muito comuns entre aqueles que dizem odiar esse estilo de música. A música eletrônica não é um fenômeno tão recente como se imagina – desde a década de cinqüenta ela se faz presente. O Brasil assimila tardiamente, e a seu modo, a música pop eletrônica internacional dos anos 80 e 90. Na segunda metade dos anos 90, há um interesse pela música techno, um dentre os vários estilos da e-music. Pouco mais tarde, timidamente foi chegando no Estado e até hoje tenta se firmar. “O público sergipano não tem a cultura noturna de sair para dançar”. Essa é a opinião dos DJs Patricktor4 e Versianni. O primeiro faz parte da nova safra de DJs, começou sua carreira há quatro anos. O segundo está no ramo profissionalmente desde 1993. Para Versianni a inexistência da tradição de sair para dançar deve-se ao fato de que “em Aracaju faltam casas noturnas especificamente desse gênero”. A música eletrônica é essencialmente uma música feita para dançar. “É uma adaptação dos estilos de música como reggae e o rock, por exemplo, para a pista de dança”, explica Patricktor4. No final da década de oitenta a boate Mixsom era o point da cidade para os amantes da música eletrônica. Havia também a boate Saveiros, anexa ao Iate clube, que contava com um público mais elitizado. A Mixsom agregava um público mais popular. Foi lá que o DJ Versianni começou sua carreira profissional. “Eu sou de uma escola de DJs onde o cara tinha que tocar de tudo na noite”, afirma Versianni. Quando a boate do Augustu’s foi inaugurada em 1995, a Mixsom perdeu sua força e pouco menos de um ano depois fechou as portas. Hoje Aracaju ainda é muito carente em boates. Existe a boate Quiz, para o público GLS, onde só rola e-music. Tem também o Tequila Café e a Funhall onde a música eletrônica deixou de ser a grande estrela da noite. Os DJs perderam espaço para as bandas e somente no intervalo entre uma e outra é que eles podem mostrar seu trabalho, que não consiste apenas em controlar o som e trocar a música. A função do DJ na opinião de Versianni é “saber mixar as músicas no tempo certo, colocá-las com a batida casada”, e principalmente “entreter o público”. “É um som muito repetitivo. Enjoa, enche o saco. Eu odeio! Conheço pouco de música eletrônica, mas o pouco que eu conheço eu não gosto”, afirma a estudante Giceli Carvalho. O dj Matanza, natural de São Paulo e que está em Aracaju há três anos, explica: “o pessoal não gosta muito por causa dos loopings, as repetições. Mas fora isso os timbres estão sempre mudando, os tipos de batidas…”. Ele também ressalta que não é qualquer pessoa que percebe essas sutis variações. O que mais afasta as pessoas da música eletrônica é, sem dúvidas, a desinformação. Dentro da música eletrônica existem inúmeras variações de estilos. Desde aquelas com uma batida rápida, sem vozes e com ruídos esquisitos até mesmo aquelas com um ritmo relaxante, com vozes suaves e com direito a acompanhamento de orquestras. “A música eletrônica ficou muito complexa, virou uma Babilônia. Uma verdadeira Torre de Babel de cruzamentos”, afirma Matanza. Ram Sashi Dória, 19 anos, ouve e-music desde os 16. Para ele, “as batidas fortes da música eletrônica entram em compasso com as batidas do coração”. É por conta disse que ele diz que “curte muito”, esse estilo. Apesar dos aracajuanos não cultivarem a tradição de sair à noite exclusivamente para dançar – para não mencionar a escassez de boates e festas que explorem esse tipo de som de forma didática, esse ritmo promete conquistar cada vez mais fãs na capital sergipana. DJ Versianni acredita que “de uns dois anos para cá a cena em Aracaju está mudando, acompanhando uma tendência mundial”. E o DJ Matanza reforça, “a música eletrônica demorou a chegar no nordeste, mas ela é a trilha sonora dos anos noventa. É um caminhão que vem descendo ladeira abaixo e que ninguém vai segurar”. Então é isso, não dá para ficar parado vendo esse caminhão passar. Corra para não perder o compasso. Tuntistuntistuntistun… Por Carla Sousa

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