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Critiane Nogueira: luta pela recuperação da mata atlântica (Foto: Cássia Santana/Portal Infonet) |
Trata-se de uma tradição religiosa, mas a prática está provocando grande devastação da mata atlântica no município de Campo do Brito. Anualmente, no dia 19 de março, cerca de duas mil pessoas sobem a serra para soltar foguetes e outros fogos de artifício para agradecer e pedir a São José uma boa colheita.
Mas a tradição está se tornando danosa à vegetação, que está sendo destruída em função das faíscas dos fogos de artifício que têm provocado grandes queimadas na região, segundo denuncia a restauradora de antiguidade e ambientalista Cristiane Nogueira, presidente da ONG Canto Vivo, que vem atuando há sete anos fazendo o replantio de árvore na região e desenvolvendo campanhas de conscientização para que as pessoas evitem a soltura de fogos.
A serra está localizada em uma área de 21 hectares, mas 70% da vegetação, segundo a presidente da ONG, já foi devastada pela prática dos fiéis, que além de soltar fogos usam as árvores para erguer barracos na região. Para recuperar a vegetação, a ONG realiza dois plantios anualmente, um no mês de abril e outro em junho. “Tentamos fazer o plantio no dia de São José, mas não funcionou”, conta. “A gente está perdendo uma média de 40% do que plantamos anualmente devido aos fogos de artifício. Como a região é seca, basta uma fagulha para ocorrer a queimada”, explica.
A festa religiosa acontecerá nesta terça-feira, 19, e a Igreja Católica já interferiu sugerindo aos fiéis que substituíssem o pagamento de promessa comumente feito com fogos de artifício. “A ideia é conscientizar as pessoas que já fizeram a promessa para soltar fogos de artifício, investindo o valor dos fogos na compra de alimentos e doar cestas básicas a pessoas carentes ou a instituições”, observa o padre Ionilton Lisboa de Oliveira.
Mesmo morando em Salvador, capital baiana, o padre Ionilton Lisboa, que já atuou naquela paróquia, vem a Sergipe para participar da festa religiosa. Ele segue ainda hoje à cidade na companhia da presidente da ONG para participar da festa em homenagem a São José.
O padre e a ambientalista dizem que o trabalho realizado pela Igreja Católica e a ONG em defesa da educação ambiental encontra resistência no Poder Legislativo Municipal. Segundo eles, há vereadores incitando a população a desrespeitar a orientação da igreja e da ONG quanto à queima de fogos de artifício, disseminando a ideia de que as entidades estão tentando destruir a cultura e a tradição locais.
O vereador Wellington Bezerra [o Etinho – PSB], presidente da Câmara Municipal, informou que levou ao conhecimento dos parlamentares o decreto do prefeito Alexsandro Menezes da Rocha (PSB), proibindo o lado profano da festa religiosa, com ênfase à preservação da serra. Apesar de defender o decreto, o presidente da Câmara revela que o prefeito encontrou resistência no Legislativo. “E não foi de vereador de oposição”, conta.
De acordo com o presidente, alguns vereadores até se posicionaram alertando que iriam desrespeitar o decreto da prefeitura e que subiriam a serra nesta terça-feira para soltar os fogos em homenagem a São José. “Mas acho que só foi rebeldia. Eles vão acatar o decreto até porque há determinação do Ministério Público proibindo os fogos”, revela Etinho.
Por Cássia Santana
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