Um carioca colonizado pela música nordestina

“O que é que um carioca veio fazer num Fórum de Forró?”. Foi com este questionamento que Tarik de Souza, jornalista, escritor, diretor da coleção Todos os Cantos, da Editora 34, e um dos maiores críticos musicais do Brasil, começou sua palestra na última noite do Fórum de Forró. “Eu sou um carioca colonizado pela música nordestina!”, argumentou o jornalista, com o objetivo de conquistar a confiança dos seus espectadores. Tarik é um grande conhecedor da cultura nordestina e está sempre tratando do assunto na coluna que escreve semanalmente no Jornal do Brasil. Além disso, conheceu e teve a oportunidade de entrevistar figuras como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Em entrevista ao Portal InfoNet Tarik fala sobre tradição e forró.

PORTAL INFONET – O que você caracteriza como neo-forrozeiros, conceito muito utilizado por você durante a sua apresentação no Fórum?
TARIK DE SOUZA – É basicamente esse pessoal que tem feito forró no Sudeste, um estilo de forró que surgiu em resposta ao forró nordestino. São pessoas do Rio e de São Paulo, de toda aquela região, que ouvindo a música nordestina de Luiz Gonzaga, de Jackson do Pandeiro e de João do Vale, de todos esses grandes compositores, reproduziram isso e fizeram a música nordestina já com o sotaque do sudeste, mas respeitando o forró na sua essência, o zabumba, o triângulo e a sanfona.  

INFONET – Como você caracteriza essas bandas que são chamadas de “forró eletrônico”?
TS – Eu não acho que o que eles fazem é forró. Eles estão utilizando esse nome em vão. Da mesma maneira que alguns grupos de pagode como o Só Pra Contrariar, usam esse nome de pagode e não fazem pagode, com o samba. Eles são pop. Assim como todas essas bandas, a Calcinha Preta, a Limão Com Mel, Frank Aguiar, o que elas fazem é uma imitação do forró, uma estilização do forró usando instrumentos eletrônicos. E elas acabam fugindo um pouco da essência.

INFONET – E qual seria o termo mais adequado para chamá-las?
TS – Eu diria que é uma música pop nordestina. É uma música comercial que não tem nada a ver com o forró autêntico.

INFONET – Você acha que a utilização desse termo “forró”, para definir essas bandas é benéfico?
TS – Não. Eu acho que eles acabam deturpando o forró de verdade. Eles utilizam uma marca tradicional e fazem uma coisa que não condiz com a marca. Pra falar dentro de termos comerciais o que eles estão fazendo é propaganda enganosa.

INFONET – A música nordestina é bem aceita lá no Sul e Sudeste mesmo com todo o preconceito existente nessas regiões contra a figura do nordestino?
TS – Eu acho que não existe esse preconceito não. Existem pessoas elitistas que tem preconceito contra tudo, contra nordestino, contra negro… Agora o povo em geral, o carioca ou o paulista, não tem esse preconceito. O povo mesmo se integra, quando chega um nordestino na favela da Rocinha ele é bem recebido, ele se integra. No Brasil quem segrega pessoas é a elite.

INFONET – Se Gonzagão estivesse vivo, que tipo de forró ele estaria fazendo?
TS – Ele estaria integrando com essa nova geração, mas sem deturpar o que ele sempre fez. Ele já estava se aproximando dessa turma nova. Ele gravou com artistas como Alceu Valença, como Gal Costa. Ele estava sempre  em comunhão com essas pessoas que tem afinidades com a arte dele.

INFONET – O que você teria a falar sobre a nova formação do Trio Nordestino?
TS – O principal ponto dessa nova formação é que eles estão com muito gás para continuar a herança que receberam. Eles são músicos novos e estão dispostos a levar essa herança a frente sem deturpar. Isso é que é fundamental. Eu acho que eles estão com muita força para continuar com o Trio Nordestino por mais 47 anos.

Por Carla Sousa e Janaina Cruz

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