UM CATÁLOGO PARA J. INÁCIO

Por Ivan Valença

Ele é um dos grandes de nossas artes plásticas. Da estatura de um Álvaro Santos, Florival Santos, Jenner Augusto, Jordão de Oliveira, Zé de Dome, Leonardo Alencar, Adauto Machado – um dos melhores entre os melhores: J. Inácio. Aos 90 anos, de cabelos alvos esvoaçantes, ele é uma figura popular na cidade. Andar a passos largos é uma de suas características, mas nem isso o impede que seja cumprimentado por todos. O sergipano, em verdade, o adora e trata o artista com toda a intimidade: ele é o Inacinho que todos já se costumaram a admiram.

Arredio a “vernissages”, aberturas de exposições suas ou de amigos, Inacinho ganha a partir da noite dessa terça-feira, dia 18 de dezembro, um catálogo celebrando a sua obra. Um catálogo de luxo, de quase 110 páginas, onde se reproduzem muitos dos trabalhos antológicos executados ao longo do tempo. Se alguém ainda tinha dúvidas sobre o talento de Inacinho, vai dirimí-las todas.

Na reprodução dos seus trabalhos, há um de 1934, “Ateliê do Artista na Ilha do Governador”, e os demais são de 1967 até 2000. Deste ano é “Garças a Beira Mar”, da coleção do casal Luiz Sérgio e Sacuntala Guimarães. Muitas das obras de Inacinho estão nas coleções de Cândido Augusto e Wagner Ribeiro, este também autor do texto introdutório. Quantas e quantas obras estão espalhadas por aí, pelo Brasil afora; e quantas devem ter se perdido.

O catálogo é patrocinado pelo Banco do Estado de Sergipe, impresso – todo a cores – pela gráfica J. Andrade, com o patrocínio de vários órgãos, entre eles a Secretaria de Cultura e Turismo. O lançamento está marcado para às 20 horas, na Galeria J. Inácio, que funciona no “hall” da Biblioteca Pública Epiphânio Dória. A única dúvida é saber se J. Inácio vai estar presente. É que Inacinho não é muito dado a cumprir compromisso. Ele nem liga para esta história de homenagem. Vai ver, prefere passar a noite andando por aí, paquerando aquela moçoila que ele deve ter conhecido de manhã. Nada de condenar Inacinho por isso: se existe Céu mesmo, ele já está lá, não tem essa história de pecados…

Filho de Vilobaldo de Oliveira e Souza e Maria Alves da Silva, D. Pequena, ele não faz a menor questão em dizer em que dia nasceu: 11 ou 16 de junho? O ano, sim: 1911. O local: um povoado chamado Parida, em Arauá. O que ele gosta mesmo é de se lembrar dos primeiros anos que passou em Estância. O pai executou vários ofícios – foi professor e vendedor de frutas em Estância. Quando se mudou para Aracaju, o pai vendia alparcatas e objetos feitos em flandres. Inacinho ajudava o pai, nesta ocasião. Andava pela cidade toda – que não era tão grande assim – e foi fazendo amizade, principalmente entre os intelectuais.

Os primeiros desenhos feitos com carvão agradaram a Jordão de Oliveira que, além das coordenadas técnicas, ofereceu-lhe tela e pincel. Em 1931, uma exposição na Biblioteca Pública abria-lhe as portas das artes em Sergipe. Nesse mesmo ano tomou o rumo do Rio de Janeiro para um curso na Escola Nacional de Belas Artes, onde reencontrou Jordão. Mas nem o velho segurou Inacinho ali por mais de um ano.

Ele volta a Sergipe e vai viver sua vida. A primeira mulher, D. Jardelina, morre de parto – ela e a criança. A segunda, D. Núbia, deu-lhe a prole: Railda, Belisan, Ronaldo (conhecido por Caã), Ruth e Roberto. Foi graças ao trabalho intenso e persistente de Ruth que o catálogo vem à luz. Ele faz jus à obra do poeta dos pincéis. Ele é um dos grandes.

Lança-se o catálogo e abre-se uma exposição. De obras de Inacinho, naturalmente. Exposição que vai da noite dessa terça-feira até o próximo dia 5 de janeiro de 2002. Ele vai aparecer por lá, sem dúvida. Mas, será que aparece hoje? Ou quando menos se esperar?
   

 

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