Uma aula de folclore

Se você não sabe “coisíssima” nenhuma sobre folclore – ou pelo menos pensa que não sabe -, não perca a chance (se ouvir algum anúncio) de assistir ao espetáculo Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, da Cia Teatral Kaza da Imaginação. A peça é uma aula bem humorada sobre as tradições populares de Sergipe e do Brasil. A história é a seguinte: dois artistas populares (Dona Deusa e Seu Mateus), que viajam pelo Brasil divulgando o folclore sergipano, encontram-se por acaso em uma praça. Até então, cada um achava ser o único a fazer aquele tipo de espetáculo. E qual não é a surpresa ao descobrir o contrário. Nesse momento, eles começam uma disputa, para saber quem sabe mais sobre o folclore. E é essa briga que vai alinhavando a história, sempre descrevendo as faces do folclore, passando pelo trava-língua, pela história de trancoso, literatura de cordel, medicina caseira, anedotas, fases de pára-choque de caminhão, comidas típicas, danças e folguedos. No final (para felicidade geral da nação), eles resolvem trabalhar juntos, montar uma companhia e divulgar o folclore de Sergipe e do Brasil. Sem muita firula nem investimentos, o Água mole é um típico espetáculo de rua, que acerta em cheio o gosto popular. Prova disso é que no mês de setembro a Companhia foi premiada no IX Festival Nordestino de Guaramiranga, no Ceará. O Sergipe Cultural não poderia deixar um feito desses passar em branco. Nós entrevistamos os membros da Kaza da Imaginação – os atores Guil Costa e Tânia Maria, e o diretor Raimundo Venâncio -, que falaram dessa experiência. Leia abaixo: Sergipe Cultural – Apresentar Água Mole em um festival foi um grande passo na história da companhia Kaza da Imaginação. Guil Costa – É verdade. Foi muito gratificante sairmos de Sergipe, para representar o Estado – que participa pela primeira vez de um festival a nível Nordeste. Também é a primeira vez que uma produção sergipana é classificada nesse festival. Acho que nós representamos Sergipe muito bem. A prova disso é que nós trouxemos dois troféus – o Beija Flor (de melhor espetáculo do júri popular) e o Coelece (de destaque do festival). É bom saber que um grupo sergipano saiu e não decepcionou. Pelo contrário, deixou muitas pessoas com água na boca e com curiosidade de visitar Sergipe, para ver a cultura do nosso Estado. O espetáculo, além de fazer bonito, ainda atraiu turistas para cá. Foi muito proveitosa a viagem, porque nós também aproveitamos para participar de oficinas, além do intercâmbio com grupos de outros lugares. O bom de voltar é que o povo reconhece. SC – Como surgiu a idéia do espetáculo? Raimundo Venâncio – Surgiu a partir de um convite de um amigo, o Milton Leite, que é um pesquisador do folclore, que me pediu para escrever um texto. A partir dessa pesquisa que ele fez, surgiu o espetáculo, há cinco anos. As montagens foram feitas com outros atores, mas essa dupla (Tânia Maria e Guil Costa) está atuando junta há dois anos. SC – Como tem sido a resposta do público? RV – A receptividade é sempre grande, porque nosso trabalho é um trabalho simples, que fala das coisas do povo, da cultura popular. E esse assunto remete automaticamente à infância das pessoas, suas vidas e cotidiano. Então, acho que isso cria uma identificação, e daí uma receptividade muito grande por parte do público. Outro ponto importante é a interatividade. Esse trabalho não funciona se o público não estiver perto. Já nos convidaram para nos apresentarmos em palco, mas, definitivamente, o espetáculo perde. Ele só obtém resposta se os personagens estiverem muito próximos à platéia. SC – Que tipo de apoio a companhia recebeu para montar a peça e também para viajam? RV – Não tivemos apoio de nenhum órgão público. Viajamos por nossa própria conta e conseguimos patrocínio de algumas empresas e entidades, como a Casa do Artista, da Nossa Escola, do Sindipema. Para montar o espetáculo, tiramos dinheiro do próprio bolso. E, para mantê-lo, nós o vendemos. SC – Quais os planos de vocês? RV – Continuaremos apresentando o espetáculo. Inclusive, vamos participar de um projeto da Secretaria de Saúde do Município, que comprou 30 apresentações. Devemos também nos apresentar nas escolas. Paralelamente, eu estarei trabalhando no novo CD da Tânia, que é o Brincar de Azul, enquanto o Vermelho da Paixão não Chega. SC – E você Tânia? Mudou de nome… Tânia Maria – Houve algumas mudanças na minha vida, e eu achei que seria necessário também mudar o meu nome. Acabei ouvindo o meu produtor-diretor, Raimundo Venâncio, e agora adoto Tânia Maria, meu verdadeiro nome, no lugar de Tânia Sevla. SC – Qual a sua história com o teatro? TM – Eu já trabalho com teatro há mais de dez anos. Comecei com a dança, passei para a música e enveredei para o teatro. Porque eu não consigo fazer uma arte distante da outra, me sinto bem atuando nessas três áreas. Quando eu encontrei Raimundo, coincidiu que os nossos pensamentos, relacionados à cultura e arte, tinham alguma relação. Para mim, o Água Mole é um trabalho extremamente significativo, porque eu me realizei como Dona Deusa. Ela é uma personagem que vai ficar na minha história. Consegui, através dela, me realizar com atriz. Por Valnísia Mangueira

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