Catadoras de mangaba lutam para trabalhar

Catadoras acompanharam defesa da aprovação do projeto de Ana Lúcia

A atividade de catadoras de mangabas em Sergipe corre o risco de extinção, o que vem preocupando a categoria, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a Universidade Federal de Sergipe e a sociedade de um modo geral. Na Assembléia Legislativa de Sergipe, a discussão foi motivo da apresentação de um projeto por meio da deputada Ana Lúcia Menezes (PT). 

No Estado, são 7.5OO pessoas dependendo dessa atividade para sobreviver. Destas, 2.500 são mulheres extrativistas que sustentam suas famílias no litoral sergipano e enfrentam algumas dificuldades a exemplo do não acesso livre às plantas em área de uso comum.

Segundo informações da Embrapa, o maior problema enfrentado pelas catadoras de mangaba é o acesso aos frutos. Isso porque a maior parte dessas áreas de

Patrícia: “Dimuição das áreas”
extrativismo está situada em terras alheias ou devolutas e as mangabeiras estão desaparecendo dando lugar à expansão imobiliária (casas de veraneio, condomínios, hotéis), criatórios de camarão, plantios de cana-de-açúcar, eucalipto e coco.

Áreas de restinga

As catadoras de mangaba vivem nos tabuleiros costeiros e restingas de Sergipe. São 61 comunidades distribuídas em 56 povoados de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Brejo Grande, Estância, Indiaroba, Itaporanga D’Ajuda, Japoatã, Japaratuba, Pacatuba, Pirambu, São Cristóvão, Santa Luzia do Itanhy e Santo Amaro das Brotas.

Maria Domingas: “Todos os meus filhos são catadores”
“A gente sofre porque a cada dia que passa, existe a diminuição das áreas. A mangaba passou a ter ascensão, mas os acessos estão sendo impedidos. Em algumas áreas, a gente paga para catar as frutas. A depender da safra, temos que pagar ao dono do terreno, mais de R$ 2, 50 por cada balde de mangaba catado”, explica a presidente do Movimento das Catadoras de Mangaba de Sergipe, Patrícia Santos de Jesus.

Expansão urbana

As catadoras de mangaba de Sergipe enfrentam ainda problemas como o corte das plantas pelos proprietários por conta da expansão urbana, geralmente para a abertura de loteamentos e a diversificação das atividades rurais como a

Professora Mary Barreto: “Elas correm o risco de ter a profissão extinta”
infraestrutura turística e da carcinicultura. Um fator que pode contribuir para a extinção das catadoras é o cultivo do eucalipto e da cana de açúcar em Sergipe.

“A especulação imobiliária é uma realidade que vem ameaçando a nossa atividade, a exemplo da construção de resorts e condomínios. As mangabeiras estão localizadas em áreas de restinga e quem não quer ter uma casa nas proximidades das praias?”, indaga Patrícia Santos enfatizando que a construção de cercas pelos proprietários de terras nas áreas tradicionalmente abertas para a coleta dos frutos, foi um dos motivos da redução da cata na última safra e consequentemente do aumento do preço nas feiras.

Deputada Ana Lúcia defende catadoras
Pesquisas

A situação das catadoras de mangaba vem sendo alvo de pesquisas. Na Universidade Federal de Sergipe existe um grupo liderado pela professora Sônia Mary Azevedo.  “O grupo de pesquisa liderado pela professora Sônia Mary foi iniciado na Secretaria de Inclusão Social, quando ela era adjunta da secretária Ana Lúcia Menezes e pela Embrapa. Foi feito todo um levantamento para identificar os catadores e descobrimos que a maioria é formada por mulheres, arrimos de família, que correm o risco de ter a profissão extinta”, enfatiza a professora da UFS, Mary Barreto Dórea.

Estão pagando por cada balde de mangaba aos donos de áreas
Resistência

A luta para que as catadoras continuem na ativa vem sendo intensificada por meio de pesquisas e publicações referente às áreas, às atividades e às condições socioeconômicas e modos de vida das pessoas que trabalham na cata da mangaba. Segundo informações da Embrapa, existe a formação e organização social das extrativistas enquanto unidades familiares de produção e a qualificação de um coletivo de mulheres para o beneficiamento da mangaba por meio de receitas e processos de comercialização.

Projeto

Área de mangabeiras está sendo cercada

 

A deputada Ana Lúcia Menezes (PT) também entrou na luta em prol dessas mulheres que sustentam famílias inteiras com a atividade da cata da mangaba em Sergipe. Ela apresentou projeto de lei reconhecendo as catadoras de mangaba como grupo culturalmente diferenciado; o papel das catadoras na conservação da biodiversidade; a importância da renda obtida através da venda dos frutos para a sobrevivência e contribuição à valorização da diversidade étnica, cultural, social e econômica.

“Nós defendemos a implementação de políticas públicas para assegurar a manutenção dessas catadoras. Já encaminhei o projeto ao Ministério do Meio Ambiente para que essas áreas sejam incluídas como de preservação ambiental”, ressalta a

Cultivo de cana prejudica atividade em Sergipe
deputada Ana Lúcia acrescentando que a grande luta agora é conseguirmos projetos de políticas públicas que façam a construção de unidades de produção, no caso, cozinhas comunitárias, para que estas mulheres possam cozinhar e vender tanto para o mercado interno quanto externo.

Geração

A atividade de catadores de mangaba vem passando de pai para filho no Estado de Sergipe. Antes, faziam apenas a cata e vendiam os frutos. Hoje, os transformam em bolos, doces, geléias, licores e as deliciosas trufas de chocolate com recheio de mangaba.

“Aprendi a catar mangaba com minha mãe. Desde pequena faço isso. Tenho quatro filhos e todos eles trabalham na cata da mangaba, mas agora estamos enfrentando vários problemas e temendo que a gente não possa mais sustentar a família. Isso porque as pessoas que tem sítios não estão deixando mais as catadoras entrar”, enfatiza Maria Domingas da Anunciação Santana, do povoado Alagamar, em Pirambu.

Por Aldaci de Souza

 

 

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