Catadores de mangaba preocupados com futuro

D. Maria e Sr. Antônio sobrevivem da mangaba há mais de 50 anos
D. Maria José dos Santos e o marido Antônio dos Santos moram na região dos sítios de mangaba no bairro Santa Maria, há cerca de 50 anos. Ali eles viram os filhos crescer embaixo das árvores frondosas, de frutos viscosos, mas muito apetitosos. Todos aprenderam a profissão dos pais: catadores de mangaba. Assim como a família de d. Maria José, outras nove que sobrevivem do plantio, colheita e venda do fruto, estão perdendo o sono.

Motivo? A Prefeitura está construindo por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, cerca de 2.300 casas e apartamentos para as pessoas de baixa renda. E com isso, várias mangabeiras poderão ser destruídas para dar lugar aos imóveis. De um lado, a expansão imobiliária no local.  Do outro, dez famílias que nunca aprenderam fazer outra coisa a não ser lidar com a mangaba. 

Última reserva de mangabeiras está no Santa Maria
“Veja a nossa situação. A gente trabalha catando mangaba aqui nos sítios há mais de 50 anos. Cada um tem o seu sítio para trabalhar, a sua área. Nossos filhos aprenderam a nossa profissão e também já se viram com a mangaba e agora aparece essa conversa que vão destruir as mangabeiras”, relata D. Maria José.  “É minha filha. Parece que não tem jeito. O fim vai ser mesmo derrubar as mangabeiras para construir as casas”, complementa tristonho, o esposo (Sr. Antonio dos Santos).

“A prefeitura disse que assim que terminar aquela etapa das casas vem fazer aqui nos sítios”, preocupa-se o catador Genilson da Silva Santos, 49, que há 22 anos colhe mangaba na região e relembra que no terreno em que já foram construídas várias casas e apartamentos, existiam não apenas mangabeiras, mas cajueiros e coqueiros.

Buscando alternativas

Mangaba deve ser preservada no espaço urbano
Na tentativa de encontrar soluções, um grupo formado por catadores, técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a vereadora Rosângela Santana (PT), está se reunindo e identificando quais áreas de cultivo e colheita, quantos catadores, se residem no local há muito tempo, se sobrevivem apenas da mangaba. Uma nova reunião está marcada para esta segunda-feira, 1º de junho, a partir das 8h na sede da Embrapa, quando delimitarão as áreas de extrativismo.

A vereadora Rosângela Santana (PT) é uma das defensoras da preservação da mangaba no espaço urbano. “Para se ter uma idéia, a última reserva de mangabeiras está localizada no bairro Santa Maria, o que tem despertado preocupações também da Embrapa e nós não poderíamos ficar de fora das discussões, justamente nesse momento em que se caminha para uma Aracaju mais verde”, enfatiza a vereadora.

Moderno x tradicional

Rosângela: “Luta do moderno contra o tradicional”
Rosângela Santana que já teve um encontro com os catadores de mangaba e participará da reunião desta segunda-feira na Embrapa, afirmou que a preocupação é também com as famílias que sobrevivem do trabalho de cultivo e colheita da mangaba no bairro Santa Maria.

“É a luta do moderno contra o tradicional. O programa de habitação que chega e vai de encontro a todas essas pessoas que sobrevivem da extração da fruta. Precisamos buscar alternativas junto aos órgãos competentes”, entende.

Indenizações     

Geraldo da Silva Santos, 34, comentou que pouca gente está sendo indenizada.   “Pelo que vi, só umas quatro famílias”, diz lembrando que os catadores chegaram a pagar a uma pessoa que chegou oferecendo o terreno para vender, mensalidades de até R$ 70 pela posse da terra e só depois foram informados de que a área era da Infraero.

Casas do PAC (ao fundo) devem avançar sobre as mangabeiras
A quem pertence a área?

De acordo com a analista da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Sergipe, Raquel Fernandes, “o papel da Embrapa é somente de pesquisas para identificar as áreas de extrativismo”. Ela explicou que legalmente os terrenos não pertencem a nenhum catador, embora eles residam e cuidem do local há mais de 50 anos.

Na assessoria de Comunicação da Infraero, a informação é de que o que pertence à empresa é toda a área que está demarcada por um muro, o que não é o caso das mangabeiras.

A assessoria de Comunicação da Prefeitura de Aracaju explicou que a área era de propriedade da União, mas foi repassada para o município por conta dos investimentos da área, com perspectiva para o projeto “Minha Casa, Minha Vida”.  Informou também que a prefeitura está discutindo com a comunidade, um projeto social.

Por Aldaci de Souza

 

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