Classes C e D são mais afetadas pela inflação

Nilton Pedro, economista sergipano
Juros, inflação, crescimento econômico, investimentos e crise dos alimentos. Esses e outros temas têm sido constantes na imprensa nacional. A população, principalmente de baixa renda, pouco entende destes assuntos e não sabe no que isso influencia a vida. No entanto é quem mais sente no bolso a variação dos índices, principalmente a inflação. Segundo o economista Nilton Pedro, a inflação é mais sentida pelas classes C e D porque gastam a maior parte do que ganham com alimentação. Conseqüentemente, com aumento da demanda, os preços sobem. Em entrevista ao Portal Infonet ele falou sobre esses e outros assuntos relacionados à economia nacional. Confira.

 

Portal Infonet – O que é a inflação, esse termo que assusta tanto os brasileiros e que voltou a ser tema recorrente nos noticiários?

Nilton Pedro – É o aumento dos preços relativos. Pode ser, como os economistas falam, de demanda ou de oferta. A inflação de oferta ocorre quando há uma crise econômica, por exemplo, na agricultura, quando determinado produto deixa de ser produzido e ocorre escassez no mercado e evidentemente passa a ter um preço maior, que é o que está acontecendo agora com o arroz. E, às vezes, ocorre pelo aumento da demanda, que é o que está acontecendo agora, provocado pelo aumento do salário mínimo que apesar de ser pouca coisa, colocou mais dinheiro na mão da classe C e D. E essas classes geralmente consomem tudo com alimentação, daí a crise que vem ocorrendo agora.

 

Infonet – E os juros, por que o governo está aumentando este índice para conter a inflação?

NP – Se você aumentar os juros as pessoas estarão dispostas a renunciar ao consumo. Quando os juros estão, baixos a tendência é aumentar a compra.

 

Infonet – O senhor acredita que é uma boa saída essa política de aumentar juros para conter a inflação?

NP – Ela tem que ser dosada, porque o aumento dos juros acaba contendo os investimentos internos. Se conter demais pode faltar pelo lado da oferta. Mas em contrapartida, o Governo anunciou agora R$ 21 bilhões em investimentos para a indústria.

 

Infonet – Há motivos para a população temer os altos índices de inflação que tinham no passado? 

NP – Nós não estamos imunes. Mas ninguém quer que volte a inflação, muitos preferem até se sacrificar em algumas coisas. Melhor ter um salário menor e certo, porque a inflação corrói principalmente o salário de quem ganha menos. A cultura da inflação ainda não foi eliminada no Brasil, com qualquer aumento num item, aumenta tudo. As classes C e D sempre pagam mais inflação do que as classes A e B, por que gastam tudo com os chamados wages goods – bens salários – que é o que está provocando o aumento da inflação. Se ele só consome essas coisas a inflação para eles vai ser maior. Quem deve ficar mais receoso com esse aumento são essas classes, por isso é importante aumentar a oferta desses produtos.

 

Infonet – Afinal, o Brasil vive hoje um momento bom ou ruim na economia?

NP – Está vivendo um momento bom. Economia é isso mesmo, cabe ao governo administrar. O que está inflacionando, arroz, feijão, cabe então incentivar a produção, para que os preços não aumentem. Se for possível até importar esses produtos, como ocorreu no passado. Mas o momento é bom principalmente por conta dos investimentos externos. O Brasil liderou os investimentos externos em toda a América Latina, foram mais de R$ 34 bilhões em investimentos diretos.

 

Infonet – A tendência é o país continuar nesse momento bom?

NP – Claro, principalmente depois do grau de investimento. Mas cabe ao país fazer a lição de casa. Uma das coisas que se reclama muito é que o governo não tem diminuído seus gastos, o governo precisa cortar onde puder.

 

Infonet – O momento atual é de cautela para a população?

NP – Não adianta muita coisa porque às vezes a propaganda incentiva o consumo. A gente tem visto que as pessoas gastam sem necessitar. Eu sempre digo que a racionalidade do consumidor nunca é seguida. Eu repito isso muitas vezes: você não deve comprar aquilo de que não necessita com sob o pretexto de que é barato. Se a coisa é barata e você não precisa não deve comprar, e isso ocorre muito por causa da propaganda. As pessoas devem fazer economia, orçamento familiar. É uma coisa simples basta fazer uma planilha e colocar o que você gasta todo dia, se ultrapassar o orçamento no fim do mês vai ter que cortar em algum lugar. Isso atinge principalmente quem ganha em trono de R$ 1.000 e R$ 1.500, porque a pessoa pensa que dá para tudo, mas não dá, quem ganha salário mínimo não compra nada o dinheiro é só para comer mesmo.

Por Carla Sousa

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