A Educação no Centro do Debate – Por André Pestana

Prof. André Pestana
andrepestana@andrepestana.com.br

Professor André Pestana (Foto: Divulgação)

O grande desafio do homem contemporâneo é a educação. Mais que a fome, a guerra, o fanatismo e o fundamentalismo. Outro dia, a UNESCO debateu em Paris, com cientistas políticos do mundo todo, a questão do fundamentalismo ou fanatismo. Isto é, o radicalismo ou a intolerância. E concluiu que ele é o perigo imediato do futuro. Para evitar esse radicalismo desumano só há um recurso: A Educação – concluíram.

Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudônimo de “Tristão de Ataíde”, defendia o diálogo e achava que o mundo moderno só poderia se salvar através do diálogo. Esta vocação dialógica está na raiz da civilização solidária e é a grande diretriz para a educação contemporânea. Educação é diálogo. Dois outros intelectuais brasileiros também se caracterizaram por esse espírito de abertura e até mesmo de dinâmica, de uma sociologia do diálogo, de um pluralismo libertador. Quem diz Gilberto Freire e Anísio Teixeira, diz pluralismo.  O mundo contemporâneo é cada vez mais uno e plural. É o mundo da unidade e do respeito as diferenças. Outrora, o saber era propriedade de uma casta, uma elite reduzida, de um grupo fechado. Na idade média, o saber se encontrava na biblioteca dos mosteiros, nos scriptória dos monges copista. Era um saber fechado, a serviço de uma elite. Hoje, o saber é democrático, o saber se popularizou. Educação para todos, educação não é privilégio, pregava Anísio Teixeira. Essa parceria entre cultura e povo é um dos dados fundamentais da realidade moderna.

O Brasil como os países em desenvolvimento, vive um intenso contraste. De um lado a civilização moderna, com todo o seu requinte, com os recursos da modernidade, com o conforto mais exigente. De outro, bolsões de miséria intoleráveis, uma realidade infra-humana, uma civilização estática, parada no tempo. São dois “Brasis”, como notou Roger Bastide no seu livro clássico “Brasil País de Contrastes”. A educação poderá, sim, resolver este impasse, eliminar esta contradição. Não é apenas um contraste entre o litoral e o sertão, que Euclides da Cunha fixou tão bem seu livro monumental “Os Sertões”. Na própria cidade do Rio de Janeiro, aqui estão favelas, trazidas exatamente de canudos, pois foram os soldados unidos de canudos que estabeleceram a primeira favela, com as prostitutas que vieram com eles. O contraste entre os dois “Brasis” está aqui ao vivo.

A educação ajudará a resolver essas antinomias dolorosas, flagrantes e insuportáveis que a nossa imprevidência não ousou enfrentar. Só através da educação levaremos a liberdade efetiva a esses homens aprisionados em si mesmos, sem perspectiva de realização humana, a educação será uma chave para o desenvolvimento.

A grande vantagem da tecnologia é que ela permite ao homem, maior poder sobre o tempo. Assim amplia-se a liberdade humana. Parece que o sentido da nova civilização é precisamente este “libertar o homem do tempo”. Cremos que o homem voltará às suas raízes humanas, à unidade consigo mesmo e com os outros, à uma cosmo visão generosa e fraterna. E valores como a família, a paz, o amor, a harmonia pessoal serão restaurados.

O ensino no Brasil nasceu sob a inspiração de um livro de pedagogia. O Ratio Studiorum”, método pedagógico dos jesuítas, que Leonel Franca traduziu e prefaciou com um longo estudo sobre humanismo e humanidades. Durante dois séculos esse livro de pedagogia prática comandou o ensino no Brasil.

Mas foi no século XIX em plena Bahia que surgia figura solar de educador, que foi Abílio César Borges, pioneiro da escola nova, professor de Rui Barbosa, sensível a uma visão abrangente do sistema educacional. Depois mudou – se para o Rio de Janeiro e fundou na rua Ipiranga (Laranjeiras) o Colégio Abílio onde estudou Raul Pompéia, que escreveu o seu livro de estréia e também o seu maior livro, o Ateneu, exatamente sobre o Colégio Abílio. As grandes teses da escola nova, de 1932, com Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho já estavam basicamente na pedagogia de Abílio César Borges.

E hoje o método pedagógico de Paulo Freire as idéias dinâmicas da escola nova encontram a sua plenitude. A educação terá de ser fiel, lucidamente fiel a esse legado histórico que vem do Ratio Studiorum, passa pelo Ateneu e chega ao manifesto da escola nova que abriu a educação brasileira para os tempos modernos.

Diga-se que o tradutor de Ratio Studiorum  foi o fundador da PUC do Rio de Janeiro, a primeira universidade católica do Brasil, 1941, Leonel Franca, e no ato inaugural da nova universidade ele proferiu um discurso extremamente  denso sobre a missão da universidade.

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