“A Sociedade dos Amigos e Ex-Alunos da UFS”, por Josué Modesto dos Passos Subrinho(*)

Há poucos dias, tivemos um singelo acontecimento que possivelmente, no futuro, será conhecido como momento histórico,  mas que não mereceu significativo registro em nossa imprensa e, provavelmente, não foi avaliado de forma adequada  nem mesmo pela comunidade acadêmica da UFS. Mas esta é uma característica dos momentos históricos. Nem sempre os coetâneos conseguem percebê-los como tais.  Às gerações vindouras restará o reconhecimento adequado.

Falo do lançamento oficial, na sala de reuniões dos Conselhos Superiores da UFS, da Sociedade dos Amigos e Ex-Alunos da Universidade Federal de Sergipe – SOUFS. Por que consideramos tal fato histórico? Porque acreditamos que há uma importante lacuna na organização da universidade pública brasileira, que é representada pela ausência, até o momento, de papel relevante para os amigos e ex-alunos das universidades.

Na experiência de diversos países, notadamente dos Estados Unidos, as associações de amigos e ex-alunos desempenham papel fundamental na construção da legitimidade social da universidade, na captação de recursos doados por membros dessas associações ou coletados entre pessoas físicas e jurídicas da sociedade mais ampla, no provimento de ações tendentes a dar condições efetivas de acesso e, principalmente, de sucesso de alunos advindos das camadas sociais menos favorecidas do ponto de vista econômico-social, mas portadores de talento e de capacidade de aprendizagem.

Até hoje, na Universidade Federal de Sergipe, como de resto nas demais universidades púbicas, dirigimos exclusivamente ao Estado nossos reclamos por recursos, por soluções quanto às nossas dificuldades materiais e financeiras. Chegamos mesmo a acreditar que qualquer ação individual ou coletiva que fosse além do simples protesto poderia representar um crime grave, podendo ser interpretada como adesão à desobrigação do Estado quanto aos compromissos com a educação, inscritos na Constituição Federal.

Acredito que lavrávamos em duplo equívoco. Em primeiro lugar, a ausência de uma sociedade de amigos e ex-alunos nos deixa desarmados no palco da guerra aparentemente civilizada, mas cruenta como todas as guerras, pela conquista dos corações e mentes da nossa sociedade.  Na condição de ente público, nós não temos recursos nem autorização legal para fazermos propaganda de nossos feitos. Por razões que não devemos aprofundar no momento, nossa comunidade é pródiga na divulgação dos nossos pontos fracos, das nossas debilidades e a imprensa é extremamente receptiva à propagação de nossas fraquezas.

Vou apresentar dois fatos recentes para ilustrar o que estou a dizer. Há poucos dias, foi divulgado o resultado do Exame Nacional de Desempenho Estudantil, versão atualizada do antigo Provão. Como acontece desde os primeiros provões, as universidades públicas tiveram os melhores desempenhos e a Universidade Federal de Sergipe teve desempenho inigualável entre as instituições locais de ensino superior. Tal fato, não obstante nossos esforços, não mereceu registro adequado na imprensa local.  Nossos cursos de Odontologia e Educação Física tiveram nota máxima, cinco, equivalente ao A do antigo Provão. Os cursos de Medicina e Enfermagem obtiveram nota 4, equivalente ao B e os cursos de Agronomia e Serviço Social obtiveram 3, equivalente ao C. Conclusão: todos os nossos cursos submetidos ao processo avaliativo nacional foram aprovados pelo MEC, sem merecer, insisto, qualquer destaque em nossa imprensa.

Poucos dias depois, entretanto, um jornal local veiculou, em primeira página, algumas de nossas mazelas, enfatizando o sucateamento de laboratórios, falta de professores efetivos etc., insinuando a precariedade do nosso ensino, sufocando, desta forma, o fato irrecusável de que não há em Sergipe cursos com qualidade, ao menos, análoga aos nossos.

Podemos fazer algo, além de manifestar nossa indignação? O que significa esta manchete do jornal local na sutil guerra pela conquista dos corações e mentes de nossa sociedade? Significa que recebemos um tiro, talvez um daqueles produzidos pelo chamado fogo amigo. O resultado é o mesmo. Alguns jovens e seus familiares registrarão um ponto negativo no julgamento que fazem da qualidade de nossa instituição. Pude testemunhar nesses dias o esforço heróico de alguns para dar volume a esta verdade que outros querem esconder. Pude registrar uma faixa com a dignidade franciscana, em sua solidão, tentando chamar a atenção dos pedestres e motoristas que passavam ao lado do calçadão da Praia 13 de Julho. Fico a imaginar a qualidade dos outdoors, das peças publicitárias que seriam veiculadas no horário nobre de nossas emissoras de TV e de rádio se o nosso feito fosse alcançado por outras instituições. Evidentemente, não estou a depreciar o esforço publicitário de outros, estou a lamentar apenas a injustiça de termos de entrar na arena sem armas equivalentes.

A Sociedade dos amigos e ex-alunos da Universidade Federal de Sergipe poderá preencher esta lacuna imensa na construção de nossa legitimação social. Por outro lado, esperamos que o seu papel seja duplo, não apenas defendendo a universidade pública, construindo a sua imagem, mas também organizando as demandas e os anseios da sociedade em relação a essa instituição.

Por último, mas não sem importância, captando recursos diretamente na sociedade para complementar os recursos estatais. No dia do lançamento, a SOUFS apresentou o primeiro projeto a ser apoiado por ela. O Programa de Residência Estudantil que acolhe estudantes carentes vindos de outras cidades.

Foi tocante o depoimento do atual presidente da SOUFS que declarou ser beneficiário indireto do programa, visto que ele e seus irmãos tiveram acesso a ensino superior porque o irmão mais velho formara-se em medicina na UFS, na qualidade de residente estudantil. Acrescentou que de outra forma, sua família, não obstante a gratuidade do curso, não poderia mantê-los em Aracaju. Da mesma forma, um secretário de Estado, no mesmo dia disse que agradecia ao programa de residência estudantil a possibilidade de concluir seu curso superior e obter êxito na vida profissional.

Nasce, portanto, um novo ator que poderá ter papel relevante no drama de nossa universidade pública. O seu desempenho depende do compromisso dos amigos e ex-alunos da Universidade Federal de Sergipe que não se contentam em assistir, de longe, sua performance e reproduzir os juízos emitidos por críticos nem sempre imparciais e sempre distantes. Como construção coletiva é um indicativo do aprofundamento do senso democrático e de responsabilidade social que está se enraizando na sociedade brasileira.

Sejam bem-vindos todos os amigos e ex-alunos da UFS. Há trabalho para todos. Cada um poderá encontrar uma forma de contribuir para o fortalecimento de nossa instituição.


(*) Reitor da Universidade Federal de Sergipe

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