Cotas ampliam a possibilidade de mobilidade social – Antonio Bittencourt Júnior

A política de cotas, seja racial ou social, representa  um  dos  mais  expressivos  avanços  da sociedade  brasileira com  vistas  a  reparar a  sua histórica e  quase naturalizada política  de discriminação e intolerância. Em nosso país “varonil”, democracia, liberdade  e igualdade  de  direitos e  oportunidades, durante  muito  tempo e para  muitos, só teve  sentido quando  não  conflitava  com os  interesses pessoais  ou de grupos  político, ideológico e economicamente hegemônicos. As  cotas, além de ampliar  a possibilidade  de mobilidade  social, revigoram  o necessário  debate sobre  lutas  de classe,  intolerância e  naturalização dos fenômenos históricos.

Na grande teia global, onde a uniformização dos traços materiais e simbólicos se impõe de modo avassalador, qualquer movimento em descompasso com a ordem costuma ser intransigentemente desqualificado. A tônica liberal do estabelecimento por competência se reafirma e discrimina qualquer perspectiva  que  culpe  o   sistema pelo atual estado de parcelas expressivas  das  populações negras  e pobres. Para os da “competente e competitiva ordem” os problemas  dessas populações  carentes se iniciam  e  se encerram  nelas  mesmas, são elas a raiz  e copa da frondosa árvore de maus frutos sociais. Os discursos que se arvoram na defesa  da meritocracia  liberal são  excludentes e estão  convencidos e comprometidos  com o convencimento de que é democrático e  justo tratar com igualdade os desiguais, oferecendo aos sem oportunidades (leia-se sem  qualidade de educação, sem boa saúde, sem saneamento, sem respeito, sem etc…),  a oportunidade  de concorrer  e  alcançar os mais destacados papéis e  status  sociais. Mera quimera!

Incisivas críticas anti-cotas são vociferadas por diversas instituições privadas  de Ensino Médio, que têm nos índices  de aprovação dos vestibulares a pretensa e frágil certificação da  sua qualidade. Aqui, nas terras do cacique Serigy, até passeatas já foram realizadas pelos que se diziam preocupados com os “riscos” que o acesso dos negros e pobres poderiam causar à qualidade do Ensino Superior sergipano.  Mas o que realmente se descortina no gesto “cívico” dos serygienses do Ensino Médio privado é  um deslavado  sentimento de posse das vagas do  Ensino  Superior público. Professores, alunos e direção, que raciocinam  prioritariamente pelo  método falso-verdadeiro como se  o maniqueísmo das  suas  sentenças fosse um  representação válida e coerente da qualidade da  boa  educação.

Para mim, filho e neto de negros pobres, a ocupação de papéis e status no ambiente acadêmico não foram resultantes de cotas, pois elas ainda não estavam estabelecidas, mas se já  as tivessem faria  questão de ingressar ao Ensino Superior por esta  via, pois  entendo as cotas, raciais ou sociais, como um instrumento, sobretudo, político e,  portanto uma ação de poder que resulta da luta organizada dos movimentos sociais. Cotas não são um benefício, uma premiação ou uma demonstração de arrependimento ou piedade, são instrumentos, tentativas  de reparação das injustiças de um cenário em que a   pretos e pobres  sempre foram reservadas  cotas  nos  papéis  de bandidos.

Autor: Antonio Bittencourt Júnior, Coordenador do curso de História da Unit, graduado em História e mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ.

Confira abaixo a opinião do professor Arivaldo Montalvão:

Proposta de implantação do PAAF está no Conselho

 

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