Jovem de 18 anos ensina idosos a ler e escrever

Em Tomar do Geru, João Henrique foi o responsável por alfabetizar moradores do município no Ciclo 2016/2017 do Programa Sergipe Alfabetiza Mais (AMA) (Foto: Eugênio Barreto)

Durante seis meses, às segundas, terças, quartas e quintas-feiras, à noite, 15 alunos alfabetizandos, com idades entre 42 e 73 anos, se dirigiam à EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Valdete Dórea, na sede do município de Tomar do Geru, com o objetivo de aprender a ler e escrever.

Ao chegarem à sala de aula, quem os aguardava era João Henrique Ribeiro dos Santos, um jovem de 18 anos, natural do município de Lagarto, alfabetizador voluntário do Programa Sergipe Alfabetiza (AMA), ação articulada e intersetorial entre a União, secretarias de Estado, municípios e sociedade civil organizada.

Em Sergipe, o Ciclo 2016/2017 do AMA, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) e pelas secretarias da Educação de 55 municípios, entre setembro/2017 e junho/2018, matriculou, além dos 15 moradores de Tomar do Geru, outros 3.985 alunos alfabetizandos.

Para isso, contou com mais de 500 alfabetizadores voluntários e coordenadores de turmas, e, ao final, mais de 40% dos matriculados foram alfabetizados com êxito. Na turma do município de Tomar do Geru, da qual João Henrique foi o alfabetizador, o índice de alfabetizados foi de 80% dos matriculados.

“Persistir, nunca desistir”. Foi com esse lema que João Henrique se dedicou, com afinco, à “missão” que lhe foi dada pela coordenação do Programa Sergipe Alfabetiza Mais: ensinar adultos e idosos a ler e escrever; pessoas que, em sua maioria, dedicaram-se, ao longo de toda vida, à agricultura familiar.

“Foi muito gratificante ter tido a oportunidade de alfabetizar pessoas que não tiveram a chance de estudar e que, por meio do AMA, puderam aprender a ler e escrever, e com isso melhoraram sua vida pessoal e profissional”, afirma o jovem alfabetizador voluntário, para quem o trabalho exercido, ao longo de seis meses, “foi uma experiência espetacular”.

Egresso da escola pública, João Henrique concluiu o ensino médio no Colégio Estadual Pedro de Balbino, em Tomar do Geru e, disposto a trabalhar, inscreveu-se no Sergipe Alfabetiza Mais para ser um dos alfabetizadores voluntários do programa.

“Estava desempregado, arrisquei e tive essa oportunidade de ensinar os idosos. Adquiri experiência e hoje tenho um novo olhar para a população idosa que não sabe ler nem escrever. Foi um aprendizado de via dupla, pois, ao passo que ensinava meus alunos, aprendia muito com eles”, conta.

Analfabetismo

Para reduzir ainda mais o número de analfabetos, o Governo do Estado, por intermédio da Seed, desenvolve uma série de ações destinadas à alfabetização de jovens e adultos, como o Programa Sergipe Alfabetiza Mais.

Antes de ingressar na turma do AMA em Tomar do Geru, em 2017, dona Maria Neuza dos Santos, agricultora familiar, fazia parte da população sergipana que não sabe ler nem escrever. Mas, aos 73 anos, “levada pelas amigas” para as aulas do programa, hoje já é capaz de ler pequenos textos e escrever, dentre outras coisas, o próprio nome.

Após a lida diária na roça de fumo, dona Neuza e suas amigas, também alunas do AMA, não se deixaram vencer pelo cansaço e demais problemas que as afligem cotidianamente, e concluíram o curso de alfabetização. “Depois que aprendi a ler muita coisa mudou na vida, para melhor”, destaca dona Ivanilda Alves, 42, uma das alunas alfabetizadas por João Henrique.

“Não foi fácil. Cansada depois de um dia de trabalho, com problemas em casa, pensei, muitas vezes, em desistir. Mas não deixei o desânimo me vencer e vinha todos os dias para as aulas. Agora já sei ler e escrever, e isso é muito gratificante para mim”, conta dona Ivanilda, agricultora geruense.

Lição de vida

Aos 52 anos, João Martins concluiu o curso do AMA, em junho deste ano, juntamente com dona Neuza, dona Ivanilda e outros 10 alunos alfabetizandos na turma do programa em Tomar do Geru. Até então, fazia parte da população analfabeta do Estado de Sergipe.

Nascido em família de agricultores de subsistência, seu João explica que não foi à escola devido à necessidade que teve, desde a infância, de trabalhar com os seis irmãos para ajudar os pais a sustentar a família.

“Já adulto, quando teria, digamos assim, condições de estudar, continuei me dedicando ao trabalho no campo e assim o tempo foi passando. Agora aprendi a ler e a escrever, e isso faz muita diferença em minha vida. Tenho mais autonomia, consigo fazer coisas que antes não era possível, como ler as placas de trânsito. A vontade de continuar aprendendo só aumenta”, afirma o recém-alfabetizado.

Questionado quanto à educação dos filhos, seu João Martins afirma ter tido apenas um e, com os olhos lacrimejados, confidencia, orgulhoso, ser o pai de João Henrique, seu alfabetizador. “Procurei dar a meu filho a oportunidade que nunca tive. Desejo que ele continue esse trabalho bonito que é ensinar as pessoas a ler e a escrever”, completa.

Continuidade dos estudos

De acordo com o secretário de Estado da Educação, professor Josué Modesto dos Passos Subrinho, o AMA objetiva, além de alfabetizar jovens e adultos, dar condições de continuidade de estudos e promover uma educação de qualidade social. É uma ação articulada e intersetorial entre a União, secretarias de Estado e órgãos da administração direta e indireta, municípios e sociedade civil organizada.

Por esse motivo, explica a coordenadora estadual do Sergipe Alfabetiza Mais, professora Givelda Araújo, a Seed articula, junto às secretarias da Educação dos municípios que aderiram ao programa, a abertura de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) para absorver os egressos do curso de alfabetização. “Em Tomar do Geru, assim como em Simão Dias e Siriri, a rede municipal de Educação já sinalizou a criação de turma de EJA para esses alunos”, ressalta.

Givelda destaca que, este ano, quando se encerrou o módulo 2016/2017, 1.617 cidadãos sergipanos foram alfabetizados, número que corresponde a mais de 40% dos 4.000 alfabetizandos que se matricularam neste ciclo do Programa, nos 55 municípios sergipanos que aderiram a essa iniciativa.

“Neste ciclo, as aulas do AMA foram realizadas não apenas em escolas, mas também em paróquias, associações de moradores, nos locais mais próximos das residências daqueles que se matriculam no programa, como forma de evitarmos a evasão. Ao ser alfabetizado, o cidadão resgata sua autoestima”, explica Givelda.

Soldador, Luciano Caetano, 51 anos, após concluir o curso do AMA em Tomar do Geru, na turma em que o alfabetizador foi o João Henrique, filho de seu colega de classe, aguarda agora o início das aulas da EJA – Ensino Fundamental na EMEF Valdete Dórea. Mesmo tendo frequentado a escola na juventude, Luciano afirma que desistiu de estudar para se dedicar ao trabalho, “uma forma de ajudar os pais”, conta.

“Este curso transformou a vida do meu marido”, afirma dona Jussivânia, esposa de Luciano. Funcionária pública municipal, graduada em Ciências Biológicas, ela, por vezes, acompanhou o marido às aulas do programa, como forma de estimulá-lo. “Luciano tinha problemas com o álcool e estava muito retraído, sem convívio social. Posso afirmar que esse curso, muito além de ensiná-lo a ler e escrever, o ressocializou, pois ele fez amizades e deu a volta por cima”, completa dona Jussivânia.

Para a professora Givelda Araújo, o alfabetizador voluntário João Henrique “parece ter nascido” com a nobre missão de alfabetizar adultos e idosos. “Ele foi uma grata surpresa para nós da coordenação do programa. Um exemplo de jovem imbuído de consciência do papel social da educação, que está plantando sementes importantes no município de Tomar do Geru”, afirma.

“Faria tudo de novo”, salienta João Henrique, futuro acadêmico do curso de Pedagogia, “ou do curso de Jornalismo”, frisa o alfabetizador, que aguarda o SISU 2019 para ingressar no ensino de nível superior na Universidade Federal de Sergipe.

Fonte: SEED

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