Prostitutas x sociedade: estudo aponta como o “sexo por dinheiro” é visto

Maíra Lima, estudante, que realizou a pesquisa
A prostituição feminina sempre foi um tema marcado por preconceitos e estigmas. Mesmo conhecida como uma das profissões mais antigas do mundo, ainda é possível identificar que a prática do “sexo por dinheiro” é vista com ojeriza por parte da sociedade. Trazendo essa constatação para perto de nós, estudo realizado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) mostra como a imagem da prostituição continua recebendo um olhar repressivo e como as próprias meretrizes enxergam a profissão.

Baseado em 12 perguntas abertas, o estudo ouviu 66 pessoas de 16 bairros de Aracaju. As três primeiras perguntas revelam o tom da pesquisa. Elas tratam do julgamento moral da prática (17 pessoas julgaram como “coisa ruim”, “absurda”), dos motivos que levam à prostituição (12 associaram à “falta de dinheiro”) e dos sentimentos negativos relacionados ao exercício da profissão (dez avaliações demonstraram “indignação”, “desgosto”).  

Quando os questionamentos chegam ao grupo das prostitutas (nove, no total), o tema recorrente resvala no preconceito que cerca a profissão. Oito delas afirmaram ser vítimas. A justificativa para esse julgamento da sociedade seria a idéia de que a prostituição constitui-se numa forma fácil de conseguir dinheiro e as mulheres o fazem por um desvio de conduta.

 “Há um grande julgamento moral quando se toca nesse tema, por isso o preconceito é muito presente”, explica Maíra Lima, estudante que realizou o trabalho sob orientação do professor Marcus Eugênio Oliveira, do Departamento de Psicologia. A pesquisa foi premiada como destaque na categoria “Iniciação Científica”, durante congresso da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso).

Professor Marcus Eugênio
Dupla identidade

Outro aspecto apreendido pelo estudo, no tocante ao preconceito, reflete-se diretamente no cotidiano dessas mulheres. Trata-se da dupla identidade. “Muitas revelaram ser difícil encarar o fato de ser prostitutas o tempo inteiro. Na profissão elas não podem ter pudores, mas em outros núcleos sociais elas têm que se negar e adotar uma outra postura”, revela Maíra.

“Elas só assumem a condição de prostitutas quando estão nas ruas. Durante o dia elas assumem uma outra postura. Este é um fator considerado por algumas para ser contra a legalização”, completa o professor Marcus Eugênio.

Essa constatação traz a tona algo que não é novidade: todas as mulheres, se tivessem outra opção, sairiam da condição de marginalidade em que se encontram.

“O que elas ganham nas ruas é muito pouco. Muitas chefiam famílias, tiram dos programas a sua sobrevivência. Sentem vergonha, claro, mas é uma tentativa de sobrevivência em uma sociedade que oferece oportunidade para poucos”, diz a estudante.

Cidadania

Diante da situação em que atuam as profissionais do sexo, muitas vezes o preconceito assume a forma de violência física. Garantir os direitos básicos poderia injetar ânimo num campo às vezes esquecido. A legalização da profissão seria um caminho, exceto para 39 pessoas ouvidas. 

“Mais da metade das pessoas entrevistadas, escolhidas aleatoriamente, declararam ser contra”, diz Maíra. Já entre as prostitutas, seis mostraram-se favoráveis. As que discordaram tomam como justificativa o possível reforço do preconceito, pois a medida exigiria que elas afirmassem a sua identidade até então colocada às escondidas.

Muitas delas, inclusive, revelaram sofrer represálias por homens e mulheres. “Elas são estigmatizadas porque ameaçam o modelo de família e a fidelidade, por isso são atacadas nas ruas”, ressalta Marcus. Já os homens, lembra o docente, quando são violentos, o fazem ao realizar os programas.

Participantes

Entre os componentes que representam a sociedade, contam-se 35 homens e 31 mulheres, com idades entre 16 e 73 anos. O nível de escolaridade vai desde os não escolarizados até os pós-graduados, mas os maiores grupos concentram 22 pessoas com nível médio completo e 11 com superior incompleto.

Do conjunto das prostitutas, cuja área de atuação é a Orla de Atalaia, a idade varia entre 17 e 44 anos. Quanto ao grau de instrução, cinco delas responderam ter o ensino fundamental incompleto, uma o ensino fundamental completo e três não finalizaram o ensino médio. O perfil aponta ainda que apenas quatro delas nasceram em Aracaju. O tempo de vida nas ruas compreende quatro meses a pouco mais de dez anos.

Fonte: UFS

Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Clique no link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acessos a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/0029Va6S7EtDJ6H43FcFzQ0B

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais