PSF é atualmente a área mais promissora da Medicina

O pediatra e chefe do Departamento de Medicina da UFS,  Antônio Carvalho, fala sobre o curso e a profissão
O chefe do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Antônio Carvalho, é doutor em Pediatria, além de professor da instituição desde 1976. Antônio, que confessa não ter passado no vestibular na primeira tentativa, diz ter sido influenciado na escolha da profissão pelo seu tio, também médico pediatra. Já a carreira acadêmica era uma paixão antes mesmo de ele entrar na Universidade, quando ensinava Educação Física no Atheneu Sergipense e na Escola Rui Barbosa. Confira nesta entrevista o que ele fala sobre o curso mais concorrido da UFS em 2005, o mercado de trabalho e as especializações mais promissoras.

 

70 vagas

Diurno

Duração média: 6 anos

19 candidatos por vaga em 2005

 

PORTAL INFONET – Quais são os principais temas estudados na Medicina?

Antônio CarvalhoNo curso são oferecidas noções globais de estatística, bioestatística, antropologia, sociologia e fundamentação na língua inglesa. Além disso, é estudada a base da Medicina, que se estrutura no conhecimento do corpo humano e nas modificações que ele sofre pela doença ou por seu próprio desenvolvimento. É como se fosse analisado o desenvolvimento do ser a partir do seu nascimento até a idade adulta, a velhice e as causas de morte, de doenças e assim sucessivamente.

 

INFONET – O tempo do curso já inclui o tempo de especialização em alguma área médica?

AC – Não. A característica de nosso curso médico é a formação de um profissional generalista. Não estão incluídos nesse tempo nem a residência nem o estágio opcional numa área específica. O estudante faz o curso básico, que são os dois primeiros anos, o curso profissionalizante, que são mais quatro anos, e o internato, que é o período de conclusão do curso com duração de 18 meses. Nesse período o aluno tem uma noção das cinco grandes áreas da medicina: a pediatria, a obstetrícia e ginecologia, a cirurgia, a clínica médica e a medicina social.

 

INFONET – Como é a estrutura do curso de Medicina na UFS?

AC – O grande problema de estrutura do curso médico hoje é que nós temos a necessidade de expandir o mais rápido possível o Hospital Universitário, de aumentar o número de leitos para que a gente possa dar maiores oportunidades aos alunos. Isso no momento é suprido porque temos convênios com o Hospital João Alves e com a Hildete Falcão, além de termos um relacionamento muito bom com o Hospital e Maternidade Santa Isabel. Essa carência, portanto, que existe com relação ao número de leitos é preenchida por essas instituições, o que torna o processo do estágio mais dinâmico. O melhor seria se nós fizéssemos essa ampliação que já está prometida e sendo feita paulatinamente pelo Ministério da Educação em convênio com o Ministério da Saúde. Assim a gente conseguiria ampliar o número de leitos do HU e construir um novo ambulatório geral, pois o nosso está muito carente no que diz respeito a espaço físico.

 

INFONET – Quais os requisitos para que uma pessoa seja um bom profissional na área médica?

AC – A primeira coisa ter gosto pelas Ciências da Saúde. A segunda é ter um preparo psicológico muito grande, pois ao trabalhar com um semelhante a pessoa pode se deparar com situações que mesmo para nós, profissionais formados há muitos anos, podem ser chocantes. Não adianta estudar nenhuma área, não só da Medicina, só porque o pai ou a mãe quer que estude. A pessoa tem que fazer aquilo que acha que está melhor preparado para fazer.

 

 

INFONET – O aluno da UFS precisa sair do Estado para fazer residência médica?

AC – O Hospital Universitário da UFS já dispõe de algumas residências médicas, principalmente nas grandes áreas que já citei. Outras serão criadas ou expandidas, como as residências em Saúde da Família, Endocrinologia, Imaginologia e Cardiologia.

 

INFONET – Quais são as áreas mais promissoras atualmente para a Medicina?

AC –  De acordo com as características da formação das escolas médicas do Brasil, o melhor mercado de trabalho hoje é o Programa de Saúde da Família, mas a maioria dos profissionais hoje não teve seus currículos preparados especificamente para isso. Para suprir essa lacuna vêm sendo feitos vários cursos de especialização e residências médicas em Saúde da Família. Esta é a especialização que tem mais empregos, apesar de ainda haver um mercado grande para as outras especializações. O problema é que quando o profissional se forma ele normalmente não quer ir para cidades pequenas, com menor número de habitantes, onde especialidades como anestesiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia têm ainda muito campo. As grandes cidades estão saturadas em praticamente todas as áreas, não só na área médica. Porém, o campo de trabalho existe em diversas especialidades, até mesmo para a Clínica Geral e Pediatria, desde que você se desloque para outras cidades menos habitadas.

 

INFONET – O currículo do curso de medicina da UFS já se preocupa com a necessidade de formação de médicos da família?

AC –  Sim. Faz uns três anos e meio que houve uma modificação no currículo do curso justamente para tentar contemplar a Saúde da Família. Tanto que, atualmente, já temos um estágio de internato na Medicina Social, trabalhando já diretamente nas Unidades de Saúde de Família em uma parceria que fizemos com a Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju. Também fazemos com que o aluno saia da graduação com uma visão global, como um médico, para partir daí ele escolher sua área de atuação.

 

INFONET – Como funciona o estágio em Medicina?

AC –  Fora o estágio obrigatório de conclusão de curso, o internato, existem o estágios chamados extracurriculares. Eles são considerados para a universidade como atividades complementares e não precisam ser necessariamente oferecidos pela faculdade, mas por uma instituição como, por exemplo, o Hospital João Alves, o Hospital Cirurgia, o serviço de cardiologia do Hospital São Lucas ou o próprio Samu. Nos dois tipos de estágios o estudante não pode atuar independentemente, isto é, sozinho em nenhuma função exercendo atividade médica, deve estar sempre supervisionado pelo médico.

 

INFONET – Qual é o maior desafio para os recém-formados em Medicina, ou melhor, para os médicos em geral atualmente?

AC – Hoje, para o recém-formado, é a necessidade que todos eles têm de, com essa formação generalista da grande maioria das faculdades de Medicina do Brasil, prestar um novo vestibular ao fazer concursos para entrar em uma residência médica especializada ou generalista. É que o número de estudantes interessados é muito maior do que o número de vagas que existem em residência médica no Brasil. Já para a classe médica de uma maneira geral o  grande problema são os salários dos médicos das instituições. A legislação permite que o médico seja um profissional liberal, e, por conseqüência, tenha mais de um vínculo empregatício, o que deixa os salários baixos. Esses salários variam de instituição para instituição, de governo para governo, de município para município e muitas vezes obrigam o profissional médico a ter dois, três empregos, o que é uma tarefa muito árdua. Mesmo assim, somados todos esses salários, a remuneração total geralmente ainda fica muito defasada. Hoje, com o número de profissionais médicos que existem, o profissional liberal, aquele que vive só do seu consultório particular, é muito raro. Há ainda os que trabalham para os planos de saúde, que, como todos nós sabemos, vivem muito mais para o seu próprio bem do que para o benefício do médico.

 

INFONET – Gostaria que o senhor desse uma idéia geral de como está o mercado aqui em Sergipe e no Brasil para esse profissional.

AC –  Eu sempre digo que o profissional médico ao se formar só fica desempregado se quiser. Só não tem onde trabalhar se ele não quiser trabalhar mesmo ou se quiser galgar outras áreas e se especializar, o que é a aspiração da maioria deles. Mas o mercado de trabalho existe. Se você olhar naquele quadro de avisos ali (do Hospital Universitário), com certeza deve ter uns dois ou três anúncios de emprego para que o profissional vá para Propriá, Cedro de São João, Cícero Dantas, Boquim. São contratos imediatos para que a pessoa possa ir trabalhar. Então o mercado de trabalho ainda é muito bom, só que há muita concentração de profissionais na capital.

 

INFONET – Qual é o motivo de a grande maioria dos médicos não irem para as cidades do interior?

AC – O primeiro é que a maioria deles quando se forma quer fazer residência médica. Então eles continuam estudando para tentarem ser aprovados em alguma residência. Outros até vão para o interior, mas só ficam o tempo em que estão se preparando para fazer a residência. No caso dos que já estão estabelecidos na carreira a maior dificuldade é a insegurança, já que em Sergipe as distâncias não são muito grandes. A maioria desses empregos é oferecido pelas Secretarias Municipais e não dão nenhuma garantia. Pode acontecer que com as eleições o novo prefeito pode não gostar daquele profissional e trocar de médico. Então é isso, é essa insegurança de mudar de residência e quando chegar ao local ser mandado embora por qualquer problema.

 

Por Carolina Amâncio e Janaina Cruz

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