Ramon Castro – Ciclista

Infonet Esportes – Qual sua idade e onde nasceu? Ramon Castro – Completei 23 anos em abril. Nasci em Aracaju, terminei o segundo grau, estive com o pé na universidade, hablo espanol een ik spreek nederlands (e falo holandês) e tenho algum conhecimento também de inglês e francês. IE – Qual foi sua primeira bike? RC – Ando de bicicleta desde pequeno. Tinha uma Caloi aro 12, depois ganhei uma Monark 84 que eu usava pra ir à escola e logo depois me roubaram, também tentei alguma coisa com o BMX, só que aquilo não era pra mim. Até que um dia me roubaram novamente a bicicleta que passei tempo pra conseguir, era uma Extralight. Fiquei um bom tempo… uns seis anos, sem querer nada com o pedal. IE – Conte como você começou a competir. RC – No começo não tinha o intuito de competir, saíamos em grupinho em direção à praia. Minha bicicleta era como a de todo mundo, uma Caloi 10 que comprei em um ferro-velho e montei conforme fazia pequenos serviços. Tive de lavar muito o carro do meu pai nos finais de semana. Aí veio a reabertura da federação do Sergipe e participei de uma prova de 25 km que eu não terminei. Na segunda prova caí e na Ramon Castro e seus companheiros da Stoelmakerke terceira fui o nono. Comecei a acordar cedo para treinar mais tempo e evitar o tráfego de carros. No inicio nunca ficava entre os 10 primeiros, logo passei a chegar entre os quatro primeiros, isso foi em 1993, quando tinha 16 anos. As provas tinham, no máximo, 30 ciclistas. Depois sofri uma queda seríssima por causa de um garfo que quebrou e passei três meses sem nada de exercício. Meu pai resolveu investir, compramos uma bike usada com tubos de cromo-molibdênio. Isso foi em 1994. Infonet Esportes – Quais foram seus resultados nessa época? Ramon Castro – Em 1994 já estava entre os três primeiros e corri a Copa Norte-Nordeste. Fui segundo no km contra o relógio. Em 1995 ganhei o campeonato sem perder nenhuma prova com direito a contrato para outros anos. Participei da primeira prova, o Grande Prêmio de Huesca, fui o sétimo, a prova tinha 93 ciclistas e, por pouco, nesse dia, não correu a seleção da Rússia, que tinha sido prata nas Olimpíadas de Atlanta. Logo depois fui a San Sebastian, mas não terminei a prova. No total foram 30 competições e em boa parte delas cheguei entre os 25 primeiros. Fui o quinto colocado na Clássica de Soria, quarto no Grande Prêmio Monzon, onde consegui um contrato para os anos 98/99. Ainda em 98, participei de uma grande quantidade de provas em montanha e por conta disso tive fases difíceis já que vou melhor em chegadas e provas de contra o relógio. IE- Como são seus treinamentos? RC – Passei por muitos exames e fiquei cinco meses fazendo treinos de montanha na cidade de Jaca, nos Pirineus. Fiz treinos em grupo e sozinho, debaixo de um frio de verdade. A equipe em que estava desistiu de correr na Espanha e, depois de correr duas provas na França, fui mandado para a Bélgica, onde estou até hoje. IE- Quais são seus resultados atuais? O ciclista começou a correr na Espanha e hoje mora na Bélgica Ramon Castro – No ano passado fiquei entre os 20 primeiros em provas na Bélgica e Holanda e corri o Mundial de Verona ao lado do Luciano Pagliarini, somos bem amigos. Fiquei entre os 25 primeiros colocados na prova da Fiesta Del Riso, na Itália, realizada três dias antes do Mundial. Este ano tenho mantido a colocação entre os 20 primeiros. Este ano quase consegui ficar na Itália mas segui na equipe belga. Sempre peço a Deus para que ele guie meus passos para que possa chegar no meu objetivo. IE – Fale um pouco sobre sua equipe belga. RC – Eu corro pela Stoelmakerke, uma equipe semiprofissional, ou seja, corremos com profissionais e sub 23 e elite normal. Corremos provas por toda a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e uma pequena parte da França, também na Alemanha, Inglaterra e Suécia. A equipe tem três diretores e um deles é o ex-campeão inglês Tim Harris e o outro é o ex-campeão belga Albert Idekeu. A equipe tem 18 ciclistas, entre eles um australiano e eu, brasileiro, que sou o mais novo do grupo. IE – E os treinos? RC- No início do ano os treinos são de base. Logo depois, começa a temporada, em fevereiro. No trabalho de base fazemos exercícios e trabalhos de resistência física e força e no começo de janeiro geralmente faz-se alguns treinos de séries. Quando a temporada começa, começam as provas e logo trabalhamos condicionamento. O programa é montado a partir da forma física, idade e qualidades de cada um. IE – Como é sua vida na Bélgica? RC – Quando não estou correndo, treino 03/04 horas por dia. Às vezes duas horas, depende do meu estado após a prova. Estou estudando holandês para facilitar a comunicação. Quando não vou viajar fico com minha noiva, Lisselote, que é belga. Parece brincadeira e muita gente pensa que vim pra aqui por causa dela mas não é nada disso. Já estávamos juntos desde quando morava na Espanha. Eu moro na cidade de Mechelen e ela em Mortsel. Na verdade era para eu morar na Holanda já que matriz da empresa fica lá. Sempre telefone aos meus pais, que são separados e Treinos de montanha e frio nos Pirineus para meus irmãos. Lazer, de verdade, só tenho no final de outubro e em novembro, em Aracaju. Encho o pulmão de energia e recarrego os bits da cabeça pra manter a meta bem clara e não fugir de foco. A vida do ciclista é muito dura e ainda mais pra quem tem que sair de tão longe e bater guidão com um monte de gente. Muitas vezes chorei como uma criança, passa tanta coisa pela cabeça… IE – Que bike você pedala? RC- Minha bicicleta desse ano, assim como de toda a equipe, é a Orbea, a mesma bicicleta que corria quando estava na Espanha. Ela é feita sob medida, tem tubos top da Columbus de cromo-molibdênio e garfo de carbono Time, grupo Chorus de carbono com 10 velocidades e rodas dependendo da prova Shamal, Mavic especial para clássicas. Nos treinos uso Mavic sup de 32 raios. Os pneus são Vittoria Corsa e pedais Time. IE – Fale sobre seus planos para o futuro. RC – O meu objetivo está mais perto do que se imagina, estou aqui pra ser um ciclista de circuito profissional porque como profissional já vivo há muito tempo, a diferença está nas condições de trabalho e no “dom do pedal”. Há uma cortina que pouca gente nem sequer sabe que existe e certas coisas que se faz dentro do pelotão. No final, uns saem sorridentes, outros calados, com medo de serem vistos como invejosos. Quem está de fora não sabe o que acontece e o que se passa por dentro. Tenho os pés no chão e não me importo de não ser muito conhecido no Brasil. O mundo de competições da elite das bicicletas é um dos mais duros e sacrificados do mundo.

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