Subvenções: 60% das verbas voltam para deputados

Ygor setgue algemado para a cela no PLantonista (Foto: Arquivo Portal Infonet)

O ex-deputado Raimundo Vieira, o Mundinho da Comase, confirmou o que todos já desconfiavam: “as verbas de subvenções [destinadas pela Assembleia Legislativa a entidades do terceiro setor] funcionavam para que fossem destinadas para as associações ligadas aos deputados, com consequente retorno de parte da verba para o próprio deputado”. A confissão está contida no depoimento que o ex-parlamentar prestou à delegada Danielle Garcia, titular da Delegacia Especializada de Combate ao Crime Contra a Ordem Tributária e a Administração Pública (Deotap), e homologado no Ministério Público Estadual no início da tarde da quinta-feira, 30, em Aracaju, mediante assinatura de termo de delação premiada.

No depoimento, Mundinho da Comase informou que os parlamentares recebiam de volta algo em torno de 60% das verbas destinadas para as entidades que indicavam. Mundinho explica também que estes recursos serviam para custear a atividade parlamentar e deixou claro de que nem todas as associações indicadas participavam do esquema.

Mundinho no momento da prisão no condomínio onde reside

Com relação à Associação Ala Jovem de Lagarto, o ex-deputado revelou que conheceu o professor Augifranco Vasconecelos em uma concessionária de veículo e que teria sido procurado por ele para que a entidade pudesse ser contemplada com as verbas de subvenções, colocando-se à disposição para devolver parte dos recursos que fossem destinados à entidade. E, pelos entendimentos firmados, conforme revelou o ex-parlamentar, a entidade ficava com cerca de 25% a 30% e o restante seria encaminhado de volta para o parlamentar mediante transferências bancárias, cheques e até mesmo em dinheiro em espécie.

Intermediações

Mundinho da Comase informou ainda que teria apresentado o dirigente da Associação Ala Jovem de Lagarto aos colegas deputados Paulinho das Varzinhas, Augusto Bezerra e Gilson Andrade e que a devolução dos valores era tratada diretamente por cada parlamentar e o representante da associação. Ele revelou que Paulinho das Varzinhas só aceitava a devolução em dinheiro espécie, recusando-se a aceitar cheques ou transferências bancárias nestas transações.

Raimundo, filho de Mundinho [de verde] entrega diploma de nível supeior do pai ao advogado (Foto: Portal Infonet)

O ex-deputado também confessou que a esposa dele, Maria Cardoso Vieira, administrava a Associação de Proteção a Assistência e Maternidade Infantil Antonio Vieira da Silva Neto, que funciona na cidade de Itabaiana e também contemplada com verbas de subvenções. Esta associação, segundo o ex-deputado, teria contratado a empresa de Augifranco – administrada pelo irmão dele, Ygor Henrique Vasconcelos – para promoção de eventos. E, da mesma forma, parte dos recursos eram devolvidos.

Mundinho da Comase revelou ainda que atendeu pedidos formulados pelos colegas Capitão Samuel e Zeca da Silva para destinar verbas para a Associação Sergipana dos Produtores de Eventos. Mas, neste caso específico, ele mesmo não teria recebido qualquer quantia de volta.

Segundo Mundinho da Comase, a Ala Jovem teria recebido em 2013 R$ 660 mil das subvenções indicadas por ele e também pelos deputados Gorete Reis, Paulinho das Varzinhas e Gilson Andrade e que cada parlamentar recebeu, de volta, cerca de 60% do montante destinado para a entidade.

O ex-parlamentar confessou a existência de um esquema de superfaturamento, envolvendo as entidades beneficiárias. A delação premiada foi criticada pelo advogado Emanuel Cacho, que ingressou com habeas corpus para libertar o ex-deputado e os irmãos Augifranco e Ygor Vasconcelos das grades. Apesar da resistência do advogado João de Gois, que assiste aos três acusados e defende a delação premiada, Cacho informou que atuou no caso atendendo pedido dos familiares de Mundinho da Comase. Um habeas corpus foi extinto, mas o segundo ainda está sendo analisado pela juíza convocada Ana Lúcia Freire, do Tribunal de Justiça.

O Portal Infonet tentou ouvir os parlamentares citados. A assessoria da Assembleia Legislativa informou que apenas a deputada Gorete Reis decidiu se pronunciar por meio de nota, mas os demais preferem aguardar os desdobramentos das investigações. Na nota, a deputada Gorete Reis classificou como mentirosas as declarações do ex-deputado Mundinho da Comase. “Se houve desvio na utilização dessas verbas, como cidadã sou vítima e não cúmplice”, diz um trecho da nota. “Desafio qualquer cidadão honrado, seja ele presidente de associação, deputado, ex-deputado, promotor ou delegado a provar que recebi de volta qualquer valor destinado às associações por mim indicadas à Assembleia”, complementa.

O deputado Gilson Andrade também se manifestou através de nota pública dizendo que está tranquilo e confiante na Justiça. "Reitero o desafio que alguém prove que recebi de volta qualquer valor destinado as associações por mim indicadas à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, bem como que me associei com outras pessoas para fins ilícitos, ao tempo que me coloco à disposição da Justiça".

Por Cássia Santana

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