Câncer: SSP quer quebra de sigilo bancário de golpista

Aline raspa a cabeça e usa lenço: perfil das pacientes veredadeiramente diagnosticadas com câncer (Foto: SES)

O delegado Fernando Melo, da 8ª Delegacia Metropolitana, pedirá ao Poder Judiciário autorização para promover a quebra do sigilo bancário da mulher que falsificou diagnóstico de câncer. A mulher, identificada como Aline Silva de Carvalho, reside no município de Estância, arrecadou recursos em campanhas de solidariedade e ainda conseguiu “furar fila” para receber o tratamento à base de quimioterapia, ao qual foi submetida no Hospital de Urgência Sergipe (Huse), sem qualquer necessidade.

O delegado quer identificar o tamanho do golpe aplicado pela acusada. Ao delegado Fernando Melo, a acusada confessou que teria arrecadado, nesta campanha de solidariedade, pelo menos R$ 7 mil. Mas a própria autoridade policial acredita na possibilidade do golpe ter alcançado cifras maiores.

A quebra do sigilo bancário, conforme explica o delegado Fernando Melo, servirá para identificar o real tamanho deste golpe, caracterizado como crime de estelionato [o artigo 171 do Código Penal prevê pena de reclusão que varia entre um ano a cinco anos de reclusão e multa para este tipo de conduta criminosa]. A acusada já prestou depoimento na 8ª Delegacia Metropolitana e responderá em liberdade pelos crimes que cometeu. Ao Portal Infonet, o delegado informou que, no  momento em que deu voz de prisão à acusada no Huse, não identificou circunstâncias que caracterizassem o flagrante para mantê-la presa.

O golpe começou a ser aplicado no ano passado e a expectativa da polícia estava em realizar o flagrante na tarde da quinta-feira, 26, quando a acusada chegou ao Huse para apresentar os novos exames solicitados pelos médicos. Mas os agentes da Polícia Civil não encontraram os documentos que poderiam caracterizar o flagrante. Segundo o delegado, a suposta paciente apresentou radiografias originais, sem falsificação, que não estão, inclusive, relacionadas à doença que ela propagou possuir. “Nada tinha a ver com câncer”, diz o delegado. Mas, por ser exames originais, o flagrante acabou inviabilizado e a acusada liberada após prestar depoimento.

Campanha

Conforme o delegado, a pseudo paciente teria começado uma campanha no ano passado e a coleta de recursos já teria sido registrada logo no mês de outubro, depois que Aline Silva se submeteu a uma cirurgia estética para redução dos seios. As investigações prosseguem. O delegado já ouviu a versão da acusada e também da direção do Hospital de Urgência de Sergipe e não descarta a possibilidade de haver outras pessoas envolvidas no golpe.

Conforme o delegado, a acusada Aline Silva confessou que teria contado com apoio de um amigo para falsificar o documento que apresenta o diagnóstico de câncer. Os exames originais estavam direcionados para o próprio rapaz, que foi diagnosticado com câncer e teria falecido no final do ano passado, depois de, supostamente, ajudar Aline Silva a articular o golpe. Mas esta é a versão da acusada, que ainda está sendo investigada pelo delegado Fernando Melo.

Há um clima de revolta entre a classe médica e pacientes efetivamente diagnosticadas com câncer. “Está todo mundo aqui chocada com isso. Tem gente que nem conseguiu dormir quando soube dessa barbaridade”, ressaltou Rosália Maria de Aquino Santos, integrantes do Movimento Mulheres de Peito, que realiza um trabalho de solidariedade e apoio a pacientes oncológicos.

Além de ludibriar pessoas a depositarem recursos financeiros na conta bancária pessoal, a acusada também ocupou indevidamente a vaga de outra pessoa, que encontra dificuldades para dar sequência ao tratamento que efetivamente necessita. “Ela usou amigos e ainda conseguiu furar fila para ser atendimento”, diz Rosália. “Acho que ela não é normal. A gente aqui foi abandonada pelos maridos por causa do câncer e ela quer a doença para segurar o marido?”, questiona.

Antes de ser abordada pela polícia no Huse, Aline Silva buscou apoio do Movimento Mulheres de Peito na manhã da quinta-feira, 26, alegando que estava enfrentando dificuldades para ter acesso à medicação, segundo Rosália Aquino. “Ela não faz parte do nosso grupo, mas a gente ia ajudar”, revela Rosália, sem esconder a decepção.

por Cássia Santana

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