Quando menos se espera, a Lua, encantadora vadia, toda cheia de si, anda a espreitar a Ponte, iluminando-a com um brilho especial, a revelar cenas proibidas para menores de 18 anos. Um verdadeiro espetáculo, estrelado por casaizinhos apaixonados. – Cuvitera! Bravejava o Vento. De fato, como pode uma dama tão nobre e com certa idade, nascida para majestade, permitir essas cenas indecentes – completava a Lua. A verdade é que a Lua tinha um pingo de inveja da Ponte. Ora, ora, como não poderia? Era a Ponte do Imperador, dos namorados, dos viajantes e, mais do que isso, era a ponte do Bom Jesus. O que era a Lua: dos namorados, dos românticos, dos viajantes. A ponte, por sua vez, era também dos solitários. Trampolim de nadadores Mesmo assim, com tanto título e muitos amores não poupavam os comentários maldosos. O Rio, que nunca conseguiu possuí-la, guardava um certo rancor, e bravejava para as pedras da Coroa do Meio e para o mar: – Devassa! Devaaassa…. Talvez sua vaidade ao longo dos tempos deu margem a tais comentários. Foi de madeira, comprou na Inglaterra seus penduricalhos de metal, enfeitou-se para comemoração do Centenário da Independência do Estado. Era moda, todos se enfeitavam. Por que ela ficaria de fora? Até um tabuleiro de baiana usou. Usou e não quis tirar mais. Esteve doente, muito mal, problemas da idade. Agora está melhor. – Ponte de que , se não liga nada a lugar nenhum?! Comentavam alguns, sem saber que ela liga pessoas a histórias, pessoas a pessoas, como aconteceu com uma tal alagoana, de nome Maria, que morava com seu filho em toda parte e em lugar nenhum da cidade, mas que dormia na cama fria preparada pela Ponte. Caridosa, recebia quem a ela quisesse ir, e iam todos. Religiosos, prostitutas, intelectuais e curiosos. Há algum tempo, quando a cidade dormia cedo. Ah! Como era cedo, tal qual uma criança. Pouco barulho se ouvia. Ao longe, apenas alguns cabarés mostravam suas luzes. Ela, ainda vestida com roupas de madeira, tendo a cumplicidade de sua amiga Noite, esquecia-se, por vezes, que era a Ponte do Imperador, e pirraçava a Lua que vivia a falar dela: recebia os moleques da cidade, abrindo as madeiras para que eles por baixo dela não perdessem tempo em observar as partes íntimas das mocinhas que a visitava com seus vestidos. Ou mesmo as ditas cenas proibidas dos namoricos mais avançados. Mas, o tempo passa, a idade chega e a cidade cresce. Traz consigo gente estranha, violenta. E ela, já com certa idade, é obrigada a não receber todo mundo, a colocar portões para não ser agredida, reclamando respeito a sua idade, a sua história e ao título de nobreza que recebeu, ainda quando a cidade era apenas uma criança Autor: Tchico / Waldefrankly Rolim de Almeida Santos 9ª colocado no 2º Concurso de Crônicas sobre a cidade de Aracaju
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