Justiça ouve testemunhas do caso do estudante que teria matado a ex-sogra

Um dos casos mais bárbaros, e que chocou a sociedade sergipana no final do ano passado, volta à tona esta semana. Hoje, dia 6, no Fórum Gumercindo Bessa, a juíza Iolanda Guimarães preside a reabertura do processo contra o estudante Albano Almeida Fonseca, 29 anos, acusado de estuprar a professora I.T. M., 29 anos, sua ex-namorada, e matar a mãe da mesma, Maria Auxiliadora Tavares Meneses, 64 anos. Auxiliadora foi esfaqueada nas mãos, pernas, pescoço e no peito. Os crimes aconteceram no dia 22 de novembro do ano passado, quando o acusado, segundo a vítima, invadiu sua casa no bairro Pereira Lobo. A juíza da 5ª Vara Criminal vai ouvir as testemunhas arroladas no processo, a partir das 14 horas, no Fórum Gumercindo Bessa. O procedimento será acompanhado pelo promotor de Justiça Rogério Ferreira e pelo defensor público Almo Batalha. Albano Fonseca, que está detido no Complexo Penitenciário Carvalho Neto, no município de São Cristóvão, também será ouvido. Paralelamente acontecerá uma manifestação em solidariedade à família. Alunos, amigos, parentes e até o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe – Síntese – já confirmou presença. “Todos estarão no local para clamar por justiça”, explica a I.T. Destroçados pela tragédia, a família Menezes tenta garantir que o acusado receba a pena determinada por lei pelos crimes cometidos – segundo a I.T. Albano nega, por exemplo, que a estuprou. Atualmente, I.T. está tomando medicação controlada e fazendo tratamento psiquiátrico. Ela nega que o ex-namorado agiu sob efeito de álcool e acredita que ele planejou a vingança, motivada pelo término do namoro um mês antes do crime. Muito emocionada, a professora descreveu o que viveu no dia em que sua mãe foi assassinada. PORTAL INFONET – O que foi que aconteceu exatamente na manhã do dia 22 de novembro? IT – Bem, vou começar descrevendo o que aconteceu um pouco antes. No dia anterior, 21, eu fui, acompanhada por amigos, ao show da banda Jota Quest. Cheguei em casa no dia 22 por volta das 4h30min. Cansada, tomei banho e fui me deitar. Percebi pelo ar-condicionado ligado que meus pais estavam dormindo. Quando foi por volta das 7 horas da manhã – não tenho noção certa do horário, pois estava sonolenta – ouvi gritos e abri a porta. Nesse momento veio o Albano, com uma camisa branca cobrindo o rosto, e com a faca em punho em minha direção. Meu quarto era pequeno, quando vi aquela pessoa se aproximando com uma faca, caí na cama. Ele tentou me esfaquear, mas consegui segurá-lo. Tomei uma facada superficial no braço e, durante a luta, consegui bater no braço dele e a faca escorregou para baixo da cama. Foi no momento em que ele tentava me imobilizar e mandava que calasse a boca enquanto a me ameaçava de morte. PORTAL INFONET – Você reconheceu que era o seu ex-namorado o autor do ataque? IT – Enquanto me defendia, no ímpeto, puxei a camisa do rosto dele e perguntei: por que você está fazendo isso comigo Albano? Ele, de forma muito agressiva, mandou que eu calasse a boca. Mas mesmo antes de puxar a camisa eu já o havia reconhecido pelos trajes, pelo tamanho, pelo cheiro, os aspectos a gente sabe. Eu tive um relacionamento de dois anos com o Albano. Não sei qual o intuito dele de cobrir o rosto. Mas… Ainda deu tempo de eu sentar na cama, enquanto ele procurava a faca. Nesse momento aproveitei e tentei correr em busca de ajuda, para a garagem, minha casa era bem extensa, e na hora ele correu atrás de mim e me jogou no chão e perguntou se eu queria morrer. Então, foi a partir daí, que eu realmente percebi que a coisa era grave para mim. Diante disso, ele me botou no quarto e pegou uma sacola que estava na sala de jantar, conjugada a sala de visitas. PORTAL INFONET – Quando foi que você sentiu falta da sua mãe? IT – Assim que ele chegou com a sacola no quarto eu perguntei sobre minha mãe. Ele disse: “Calma, sua mãe está bem. Ela só está amarrada, amordaçada, um pouco assustada, mas bem”. Eu alertei que minha mãe era cardíaca. Diante disso ele colocou uma mordaça na minha boca para que eu não gritasse, apesar de eu dizer a ele que não gritaria, mesmo assim ele me amordaçou e me mandou tirar a roupa. Eu estava usando um pijama e me neguei a tirá-lo, então ele rasgou meu pijama enquanto eu lutava com ele para que ele não tirasse. Nesse meio tempo eu caí da cama para o chão e ele ficou em cima de mim, colocou o joelho comprimindo meu peito enquanto me batia. Me deu murros, tapas, até o momento que eu não tinha muita força e ele começou a me estrangular. E com uma das mãos, ele pegou um travesseiro, enquanto com a outra me estrangulava. Já estava muito fraca, não tinha forças para gritar ou reagir. Foi quando lembro que ele colocou o travesseiro no meu rosto. Aí achei que havia morrido, só que havia apenas desmaiado. Quando eu acordei, estava sendo violentada sexualmente pelo Albano. Arregalei o olho e ele se assustou e chegou a dizer que não queria me matar, só queria que eu desmaiasse. PORTAL INFONET – O que continha a sacola que ele levou para o seu quarto? IT – Ele levou nela objetos comercializados em sex shops. Não quero citar os objetos, isto está no processo. Enquanto me violentava, ele dizia que tinha comprado aquelas coisas para mim. Depois disso continuou me violentado por uma hora ou mais e foi me arrastando para diversos locais da casa. Mesmo isso acontecendo, eu pedia o tempo todo para ver minha mãe e ele continuava repetindo que não era para me preocupar com ela. Ele também havia imobilizado meus braços com uma corrente, que tinha duas braçadeiras de couro preto. Então eu tentei convencê-lo de que meu pai não havia viajado, como costumava fazer, para o município de Itaporanga D´Ajuda. Nesse momento ele realizou uma ligação para a casa da avó e falou com um dos primos para saber se ela (a avó) estava em casa ou se tinha ido fazer compras também em Itaporanga – porque coincidia com o dia em que meu pai ia para lá. Quando ele confirmou isto, teve certeza que meu pai realmente havia viajado. Daí ele continuou me violentando. Eu já estava desesperada, não estava suportando mais e pedi que ele me matasse. O Albano respondeu que jamais seria capaz de matar alguém. Após ter se realizado sexualmente, amarrou as minhas pernas e braços, me carregou para o quarto e disse que minha irmã chegaria do curso e que aí nós poderíamos ver nossa mãe. PORTAL INFONET – Ele foi embora e deixou você amarrada? IT – Exatamente. Ao sair ele roubou meu aparelho de celular, arrumou a sacola dele, onde tinha os objetos de uso sexual, trocou a camisa, guardou a faca – uma faca de corte de cabo branco – e também roubou uma quantia em dinheiro e calçou as minhas sandálias, porque os sapatos deles foram encontrados em cima da casa, no telhado, de onde ele observava tudo. Após ele ter saído, eu consegui me desamarrar e corri à procura da minha mãe. Ao encontrá-la ela já estava morta. Lavada de sangue na sala da frente, sentada no chão, encostada no sofá com os braços abertos, a boca também aberta e um olhar distante. No meu desespero eu corri em direção a ela e pedi que ela não morresse que eu ia procurar ajuda e que a gente conseguiria superar tudo aquilo. Eu corri para a garagem e comecei a gritar, pedindo ajuda, impedida de sair porque o Albano levou a chave e nos deixou trancadas. Ele não queria nenhuma possibilidade de vida da minha mãe. E durante o tempo que ele me violentava, que estava amarrada, ele saía para olhar minha mãe. Acredito que conferindo que ela estava agonizando e morrendo. Ele vem alegando que estava bêbado, mas não senti cheiro de bebida nele. Apenas mau hálito de alguém que acordou e não escovou os dentes. Ao pedir ajuda, após ter encontrado minha mãe, pensei – não sei como – que no quarto dela tinha uma cópia da chave, peguei a mesma e entreguei aos vizinhos, outros já tinham pulado o muro. Uma das vizinhas, que era enfermeira, constatou que minha mãe estava morta, mas não sabia como dar a notícia, dizia que não conseguia ouvir o pulso dela. Eu estava tão desesperada que só falava: “Não importa, você tem que sentir o pulso dela, eu quero a minha mãe viva”. Aí foi quando o Samu chegou e a equipe me informou que ela realmente estava morta. PORTAL INFONET – O que aconteceu a seguir? IT – Foi aí que começou aquele processo todo, IML, Delegacia, tudo aquilo que eu nunca pensei em viver na minha vida. Eu nunca gostei de violência, nunca pratiquei violência, e fui vítima de uma pessoa que aparentava ser alguém de bem, extremamente calmo, falava baixo, se mostrava educado, alguém que estimulei a trabalhar e estudar. Sou freqüentadora da doutrina espírita e ele também freqüentava as reuniões doutrinárias, e para mim isso é um choque. Minha vida deu uma guinada de 180 graus. Eu tive que pedir licença do trabalho e estou tentando retomar a minha vida, junto com meus familiares, e foi um crime que abalou não só meus parentes, como também amigos, pessoas que estão se mudando. Gente que ele conhecia, freqüentava as casas, que temem por sua segurança e não querem mais viver aqui por conta desse crime bárbaro. PORTAL INFONET – O que vocês esperam da Justiça? IT – Albano é reincidente. Tem um caso que foi confirmado por mim, mas até agora eu não tenho nenhum processo em mãos, de outra vítima deles. Por ironia do destino o irmão da vítima foi meu professor na Universidade e ele me contou o que aconteceu com a irmã dele, e pelo mesmo motivo: ela tinha terminado e ele não se conformava com o término. Ele foi julgado e condenado a sete anos, dez meses e alguns dias. Mas com um ano e oito meses de pena cumprida em Areia Branca, onde teve privilégios – ficou numa cela isolada onde ele tinha fogão, frigobar, cama e televisão – ele foi solto. Indultado sem ter cumprido sequer um terço da pena. Não entendo. Pelo que ando lendo, a pessoa tem que ter um terço da pena cumprida para receber o indulto, que é a questão do bom comportamento. Nesse novo caso nós esperamos que ele não tenha privilégios e de que nada seja feito de forma camuflada ou indigna. Que tudo seja feito conforme o que ele merece receber. Não queremos vingança, só que ele pague pelo que fez. Ele tem um caso de estupro anterior ao meu, ele me estuprou e ele matou a minha mãe e tentou me matar. Queremos que ele cumpra a pena da forma mais correta possível. E, ao contar essa história, nós também queremos fazer um alerta à sociedade sergipana, para que passemos a observar mais as pessoas, porque ele não demonstrava ser o que realmente era.

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