E o Vento Levou

Andreza Maynard

Doutoranda em História pela Unesp

Membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente(GET/CNPq/UFS)

E o Vento Levou acabou se tornando um clássico do cinema mundial. O filme foi produzido pela Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e estreou nos Estados Unidos em dezembro de 1939, mas só chegou às telas dos cinemas aracajuanos em 1º de agosto de 1942. À época, o cine Rex anunciou que a estreia do filme ocorreria em “Avant-première de gala”, num sábado à noite.

Dentre as estratégias de divulgação, estava a divulgação antecipada de informações sobre a película por meio dos jornais impressos que circulavam na cidade. Além disso, os jornalistas foram convidados para um cocktail promovido pela MGM em homenagem à imprensa sergipana. O evento foi realizado em 30 de julho de 1942, às 17h, no Hotel Morozzi. Nessa ocasião o representante da MGM, responsável pela distribuição dos filmes na Bahia e em Sergipe, esteve em Aracaju. O Correio de Aracaju fez questão de registrar que o representante da MGM foi à redação do jornal acompanhado do proprietário do cine Rex, Anísio Dantas.

A MGM era uma das 5 maiores produtoras norte-americanas e não poupou esforços para garantir o sucesso da super produção. O elenco do filme era composto por astros já conhecidos e admirados pelo público, a exemplo de Clark Gable, Leslie Howard e Olivia de Havilland, que contracenaram com a quase desconhecida Vivien Leigh.

Clark Gable (1901-1960) já era uma estrela de primeira grandeza quando o filme foi lançado. Ele iniciou sua carreira com pequenos papeis em filmes mudos dos anos 1920. Quando E o Vento Levou foi filmado, Gable era contratado pela Columbia Pictures e foi “emprestado” à MGM para interpretar o cínico Rhett Butler. O galã foi indicado, mas não recebeu o Oscar.

Já Vivien Leigh (1913-1967) era uma atriz britânica que ganhou a atenção de Hollywood por sua atuação no filme inglês Um Ianque em Oxford (1938).  Mais de 1.400 atrizes fizeram o teste para interpretar a heroína Scarlett O’Hara. A estreante Vivien Leigh foi selecionada pelo diretor do filme  David O. Selznick e recebeu o Oscar pelo desempenho em E o Vento Levou.

Os jornais aracajuanos elogiaram a produção da MGM, ressaltando vários aspectos como a qualidade técnica da produção, a qualidade do som, a beleza da fotografia e cenário. O emprego do recurso “technicolor” também foi mencionado. O filme colorido ainda era um diferencial importante, considerando a larga produção de filmes em preto e branco à época.

No dia 19 de junho de 1942, o jornal A Cruzada, sempre preocupado com a manutenção dos valores morais dos aracajuanos, destacou que a história do filme retratava 2 personagens maus, que estavam interessados apenas em satisfazer seus desejos. Assim, eles representavam “ódio, hipocrisia , falsidade, mentira, vícios” . Mas o periódico lembrava que havia 2 figuras boas e que a personagem de Olivia de Havilland encarnava “a resignação, a piedade e tem sentimentos, verdadeiramente humanos”.

Embora o filme tenha imortalizado um dos pares românticos mais conhecidos do cinema hollywoodiano, cabe apontar que a produção estava ambientada na guerra civil norte-americana. A luta entre o Norte e o Sul terminou com a vitória dos Yankees. É preciso destacar que E o Vento Levou trazia um discurso antibelicista. O conflito armado em grandes proporções aparecia como algo inútil.

O filme fez grande sucesso em vários países. Fruto de uma das produtoras mais poderosas, empregou recursos inovadores, investiu num elenco de peso, mas também atendia aos interesses do governo norte-americano, que até dezembro de 1941 adotou uma postura isolacionista em relação à guerra que se desenrolava na Europa.

Em Aracaju, a estreia do filme ocorreu antes do envolvimento do Brasil com a Segunda Guerra Mundial. A cidade que no início de agosto se ouriçava para ver as cenas românticas protagonizadas por Clark Gable e Vivien Leigh, em poucos dias testemunharia um drama real.  Os torpedeamentos das embarcações brasileiras no litoral baiano e sergipano (ocorridos entre 15 e 17 de agosto de 1942) evidenciavam o rastro de destruição que uma guerra moderna poderia espalhar. Com isso o país estava ligado diretamente à Guerra.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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