Minhas Copas do Mundo III.

Zagallo e Carlos Alberto com a Taça Jules Rimet em 1970.
O tricampeonato de 1970.

 

A seleção de 1970 é considerada uma das melhores de todos os tempos. Alguém aferiu assim. Como podemos quantificar o passado, comparando-o com o presente e o futuro. Podemos comparar o cartaginês Aníbal Barca, com o sarraceno Jibral-an-Tarik?

 

Quando isso for possível, a confrontação será tola, afinal mais importante é dizer que nos cemitérios os insubstituíveis jazem, uns sepultando os outros.

 

Concretamente, as “formiguinhas” de Zagallo deitaram e rolaram em terras astecas, apesar da crônica esportiva bater um bocado e preferir o “coleguinha” Saldanha posando de técnico.

 

E hoje, quarenta anos passados e desmemoriados, há os que enaltecem o tricampeonato de 1970 vindo após oito anos de jejum e outros envilecem a conquista, alegando que a euforia nacional impediu a contemplação da realidade, e a ausência de liberdade.

 

É possivel culpar o povo?

 

Mas, o que fazer se o povo, contente ou descontente, glorifica com emoção qualquer mijada de cão, e vaia com audaz sofreguidão, até o lábaro da nação?

 

E “como a voz do povo é a voz de Deus”, postulado mancomunado com o uso do Seu santo nome em vão, o povo embasbacado aplaudia de pé o militar presidente em plena arquibancada do Maracanã, tido e havido como o mais popular até então, só porque gostava de torcer na arquibancada com rádio portátil nas oiças?

 

O cenário brasileiro.

 

Vivia-se a fase do Brasil potência, se desenvolvendo em índices jamais vistos; 10% ao ano. Tempo em que o dístico “Brasil, ame-o ou deixe-o” desafiava descontentes e opositores. E a luta armada, inglória e equivocada, era esmagada sem levantar choro ou comiseração. De ninguém!

 

Todos batendo palmas! Espertamente ou covardemente! Enquanto muitos trabalhavam nos bastidores para impedir ou minorar os excessos.

 

Porque os excessos eram sobremodo requeridos, embora hoje se façam esquecidos como jazigos na orfandade dos erros e das batalhas perdidas.

 

E para que as relembrar se não nos advem indenizações espertas na elucidação da verdade?

 

Tem o tricampeonato um “mas,…”, em pedido de desculpa?

 

Assim eis a Copa de 1970 demonizada. Porque ela, a Copa, nos chegou copiosamente como nunca, jamais, imitada alegria, com “noventa milhões em ação, prá frente Brasil, salve a seleção”, cantando.

 

E tome ufanismo, e blábláblá de lá e de cá, com a ficção ferroando os fatos, desvirtuando para sempre a marchinha da seleção.

 

Só para dizer que em terras de ‘ditabranda’, se ganha também o campeonato do sofrimento? Dizer que aqui se padece bem mais, e os carrascos são mais impiedosos? E até o que nos alegra o espírito, dilacera o nosso ser?

 

Assim eis o tricampeonato acusado de ocultar os desvios da nação.

 

Ah! É cabotinismo em excesso! Além de cinismo e descaração! Ninguém tem que pedir desculpas, muito menos a Copa, mesmo que o Reginaldo Farias encene sofrer tortura no ritmo da marchinha e da seleção.

 

Presença sergipana no escrete.

 

Porque a Copa de 1970 ficou na história, inclusive com a presença de um sergipano, Clodoaldo, no escrete amarelinho.

 

Na campanha vencemos de cabo a rabo: Brasil 4×1 Tchecoslováquia (Rivelino, Pelé e Jairzinho, dois, um contra de Pietráš), Brasil 1×0 Inglaterra (Jairzinho), Brasil 3×2 Romênia (Pelé, dois e Jairzinho contra Dumtrace e Dembrowski), Brasil 4×2 Peru (Rivelino, Tostão dois e Jairzinho contra Gallardo e Cubillas), Brasil 3×1 Uruguai, a revanche vinte anos depois (Clodoaldo, Jairzinho e Rivelino contra Cubilla) e finalmente Brasil 4×1 Itália (Pelé, Gerson, Jairzinho e Carlos Alberto contra Boninsegna).

 

Campeão pela terceira vez e detentor permanente da Taça Jules Rumet, o troféu veio para terras brasílicas, passeou bastante, depois foi roubada e derretida, só para dizer que em nossa terra pátria alguns lutam, outros falam, e há piores que dilapidam qualquer conquista notável.

 

E o tempo se encarregaria de mostrar pouca gana e rala conquista.

 

Ficando no 4º lugar com Zagallo na Copa de 1974.

 

Mas a cada quatro anos sempre podemos nos redimir numa nova Copa do Mundo. E assim com uma nova taça chegou a Copa de 1974, sem Pelé e ainda sob a batuta de Zagallo.

 

O Brasil ficou em quarto lugar, fazendo uma campanha medíocre, com dois empates em 0x0 contra Iugoslávia e Escócia, uma vitória contra o estreante Zaire por 3×0 (gols de Jairzinho, Rivelino e Valdomiro) e outra vitória contra a Alemanha Oriental por 1×0 com gol de Rivelino.

 

Felizmente lavamos a alma contra a Argentina por 2×1, gols de Rivelino e Jairzinho, e Brindise para os portenhos. Depois nos sobraram duas derrotas: 0x2 contra o carrossel holandês de Neeskens e do excelente Cruijff, e finalmente 0x1 para a Polônia do incansável Lato.

 

O Brasil voltou pra casa acabrunhado, achando-se ainda a melhor seleção do mundo.

 

Ficando em 3º lugar em 1978 com Claudio Coutinho.

 

Mas, se a lição de 74 fora insuficiente, em 1978 repetimos um fiasco pior. Desta vez o cenário foi a Argentina e o técnico Claudio Coutinho.

 

Tivemos um empate contra a Suécia de 1×1 com gols de Reinaldo e Sjöberg, outro contra a Espanha de 0x0, uma vitória de 1×0, gol de Roberto Dinamite contra a Áustria, e depois começamos a deslanchar.

 

Ganhamos de 3×0 contra o Peru com dois gols de Dirceu e um de Zico. Empatamos em 0x0 contra a Argentina, vencemos a Polônia de 3×1, com um gol de Nelinho, dois de Roberto Dinamite e um de Lato, e finalmente o terceiro lugar vencendo a Itália por 2×1, com gols de Nelinho, Dirceu e Calusio.

 

Voltamos para casa com um 3º lugar, jamais vencido, numa campanha anódina e inexpressiva, com Roberto Dinamite marcando três gols e Zico só um, para alegria do Vasco e amargura dos flamenguistas.

 

Brigando contra os fatos, houve um gol anulado de Zico, numa batida de escanteio em meio ao término da partida no primeiro jogo contra a Suécia. Só para dizer que perdemos, embora não tenha sido tão feio assim.

 

Mas a história continuaria.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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