Amazônia, pulmão do mundo?

Na carta da Semana de 2 a 8 de junho de 2003, eu dizia: “a floresta Amazônica é, hoje, o pulmão do mundo, porque a inexistência de uma idêntica massa florestal nos Estados Unidos e na Europa é resultado da destruição de imensas florestas nesses países para a construção do que hoje são. Assim sendo e, conseqüentemente, a preservação da Amazônia é uma necessidade, não só para o Brasil, mas para todo o mundo”.

 

Tratar a Amazônia como o pulmão do mundo foi contestado por um leitor, que assim se expressou: “A referência do internauta  Edmir Pelli à Floresta Amazônica, divulgada, merece nosso apoio, contudo, tecnicamente, cabe um reparo de cunho estritamente científico: ao contrario do que é amplamente divulgado, sua importância ao suprimento de oxigênio ao planeta tem pouca significação. A Floresta Amazônica, ao lançar na atmosfera formidável volume de umidade é responsável de forma expressiva para o estabelecimento do regime climático. O fenômeno resulta da evapo-transpiração de água.  A produção de oxigênio, induzida pelo processo fotossintético e lançado na atmosfera, é quase que totalmente consumido durante a noite, na ausência de luz”.

 

Naquela oportunidade, eu também afirmei que o Brasil deveria ser indenizado pelos demais países, principalmente pelos mais desenvolvidos, para a preservação da Amazônia.

 

E hoje, com referência à Floresta Amazônica, o que o mundo fala?

 

Na III Conferência Científica do LBA (Nome em inglês que se dá para o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), que foi realizada em Brasília, de 27 a 29 de julho último, onde cerca de 800 pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, do Programa LBA apresentaram seus trabalhos sobre mudanças no uso do solo, ciclo de carbono, hidrologia, mudanças climáticas, desmatamento e queimadas na Amazônia. O pesquisador da USP e coordenador da III Conferência, Paulo Artaxo, afirmou  que: “…as queimadas que se dariam na Floresta Amazônica, a partir de agosto, podem promover um cenário mais crítico do que em outros anos”.

 

Ainda, segundo o pesquisador Paulo Artaxo, as queimadas da Amazônia são responsáveis pela emissão de 800 milhões de toneladas de gás carbônico a cada ano.

 

Estudos do LBA provam, todavia, que a Floresta Amazônica mais absorve carbono do que emite, mas mesmo assim, afirmou a pesquisador, que é necessário conduzir políticas públicas de controle das queimadas, porque há outros efeitos péssimos como a perda de biodiversidade e a erosão.

 

Para o pesquisador Carlos Nobre, responsável pela organização da III Conferência, a expansão da fronteira agrícola na Amazônia tem que ser barrada logo, caso ainda se pretenda usar a floresta de maneira sustentável. Segundo, ainda, o pesquisador, uma solução para o melhor aproveitamento da floresta seria utilizar as áreas já desmatadas e abandonadas, pois a EMBRAPA já provou que há tecnologia para plantar nesses solos ditos pobres.

 

De acordo com os pesquisadores, o desmatamento e as queimadas da Amazônia estão modificando o clima e ampliando o efeito estufa do planeta. O desmatamento acelerado da Amazônia ameaça reduzir o ciclo de chuva nas Regiões Sul e Sudeste, transformar grandes áreas de florestas em savanas e provocar alterações na taxa de umidade registrada na região.

 

Para o pesquisador Carlos Nobre, a mudança do clima na Amazônia é um fato, o que se busca saber é em que escala isto está acontecendo.

 

Segundo a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: “Para a Amazônia continuar a cumprir sua função ambiental e trazer benefícios para a população brasileira e mundial, o Brasil precisa construir a necessária ponte entre a preservação e o desenvolvimento”.

 

Em seu discurso, na abertura da III Conferência Internacional do LBA, ela afirmou que o combate ao desmatamento e às queimadas na Amazônia é um esforço de todo o governo. Ela destacou as ações como programas e projetos implementados com o apoio do PPG7 – Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil e o PAS – Programa Amazônia Sustentável.

 

Como vimos, a preservação da Amazônia é uma preocupação para todo o mundo e isto tem um custo e que de acordo com o Editorial da revista britânica The Economist, da última semana de julho, o mundo deve deixar de apenas falar e começar a ajudar o Brasil a pagar a conta da conservação da Floresta Amazônica. Ainda, de acordo com a revista: “Os Estados Unidos e a Europa derrubaram a maioria de suas florestas nos últimos séculos. Quem são eles para dizer à Indonésia, ao Brasil e ao Congo para fazer o contrário” e “Quando os cálculos forem feitos, o mundo deve pagar a sua parte da conta”.

 

Edmir Pelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000
edmir@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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