O mês de setembro é marcado por diversas campanhas de conscientização para cuidados com a saúde e valorização da vida, entre elas, o Setembro Verde, iniciativa que busca estimular a doação de órgãos e tecidos. Em Sergipe, atualmente, apenas o transplante de córnea é realizado. Segundo dados da Central Estadual de Transplantes do Estado, cerca de 300 pessoas aguardam pelo procedimento. Entre as dificuldades para a doação estão o preconceito e a falta de informação.
O transplante, seja de órgãos sólidos, a exemplo do coração, seja de tecidos, como a córnea, ainda é alvo de desconhecimento e preconceito por parte de toda a sociedade. O médico oftalmologista Allan Luz, que é especialista em cirurgia de transplante de córnea e atua no Hospital de Olhos de Sergipe, destaca que o compartilhamento de informações sobre todo o processo é fundamental para que as pessoas quebrem o preconceito em relação à doação de córneas.
“É necessário que a sociedade compreenda a importância do transplante e que desmistifique o tema. Aqui em Sergipe, nós já realizamos a cirurgia, o SUS realiza de maneira gratuita e todo o procedimento é extremamente criterioso e respeitoso com as famílias envolvidas. A informação é um fator importante para que tenhamos um maior número de doações e de transplantes”, pontuou o especialista, que já realizou mais de 1200 procedimentos em Sergipe e outros estados.
As ações em prol da doação de córneas ficaram ainda mais evidentes em maio deste ano, quando dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) apontaram que a fila de espera por um transplante de córnea no Brasil praticamente dobrou ao longo dos últimos cinco anos, passando de 12.212 em 2019 para 23.946 atualmente.
“É preciso que se fale mais sobre o assunto, acabando com alguns mitos e promovendo a conscientização. Se as pessoas não têm conhecimento e não veem nada nas mídias, elas perdem o interesse em doar. Mas a partir do momento em que a população passa a entender que a doação trará de volta a visão e uma nova vida a uma pessoa, esse cenário pode mudar”, afirmou o oftalmologista.
Sobre o procedimento
A córnea, uma estrutura transparente, avascular, que fica na parte anterior do olho, é um tecido responsável pelo maior poder óptico do ser humano. O transplante permite a sua substituição total ou parcial diante de doenças que atingem a córnea e levam à cegueira.
Durante o procedimento, o botão (ou disco) central da córnea opacificada (embaçada) é trocado por um botão central de uma córnea saudável. Esta cirurgia pode recuperar a visão em mais de 90% dos casos de pessoas que têm alguma deficiência visual por problemas de córnea.
Em Sergipe, o procedimento pode ser realizado através do Hospital de Olhos de Sergipe, localizado em três unidades em Aracaju. Todos os custos são arcados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre o doador/a doação
Em linhas gerais, pode ser doador de córnea qualquer pessoa com idade entre dois e 80 anos com morte por parada cardíaca inferior a seis horas ou morte encefálica. Não é preciso ter uma visão perfeita para fazer a doação. Pessoas com miopia, hipermetropia, astigmatismo, que façam uso de óculos ou lente de contato, que já pegaram conjuntivite e a curaram ou pessoas que tenham algum câncer que não seja leucemia, linfoma ou câncer no olho estão aptas para doação de córnea.
Segundo o especialista Allan Luz, é feita uma avaliação da córnea para saber se ela está apta ao transplante. “Também é feita uma revisão de histórico médico e coletado o sangue do doador para exame de sorologia no intuito de identificar se ele possui alguma doença viral ou sistêmica que possa contraindicar o transplante. Após a avaliação dos resultados laboratoriais e verificação da viabilidade do tecido doador é que a doação é efetivamente realizada”, explicou.
Para quem tem interesse em ser doador de órgãos e tecidos, a primeira orientação é que deixe a família e seus entes próximos cientes de que esse é seu desejo. Essa comunicação é essencial porque no momento da morte, por ser um momento muito difícil e de luto, cabe à família tomar essa decisão, independente dessa vontade estar destacada em documentos. Caso a família não tenha esse conhecimento, ela pode não permitir que esse ato ocorra.
“Quando ocorre o óbito, os familiares devem estar conscientes de que a pessoa quer doar porque são eles naquele momento que vão decidir. Então é preciso que os futuros doadores compartilhem o seu desejo com os próximos. É necessário que os familiares e as pessoas próximas saibam que você veste a camisa do transplante, que você quer doar e que isso pode trazer a visão e uma nova vida a quem necessita. Quanto mais informado for o doador e a família do doador, certamente teremos um maior número de doações e salvaremos mais vidas”, finalizou o oftalmologista Allan Luz.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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