Outro dia, ao folhear algumas revistas antigas, encontrei uma matéria sobre MENTIRA. Segundo cálculos do psicólogo americano Gerald Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia,EUA, uma pessoa vê, escuta ou lê, em um dia, uma média de 200 mentiras, ou seja; uma a cada cinco minutos. Isso, sem ser, é claro, em época de eleições. Pesquisadores afirmam que o ser humano começa a mentir aos 3 meses de idade. Sem saber falar, a danadinha da criança finge aflições e dores e chantageia chorando, para ganhar afagos e comidas. E até os animais mentem, com destaque para orogotangos e gorilas. A civilização foi construída sobre uma grande base de mentiras, falsidades e conceitos abstratos. E isso é quase sempre perdoável, a depender do lado em que se está e dos objetivos pretendidos. Platão, o extraordinário filósofo grego, dizia que a mentira é permitida quando é do interesse do Estado. A maioria dos congressistas brasileiros segue avidamente os ensinamentos do mestre. De alguns governantes nem é preciso falar; eles bebem sofregadamente a seiva adocicada do platonismo, com apenas uma pequena e insignificante alteração; tiram os interesses do Estado – leia-se nação e povo – e colocam os seus próprios. A Igreja Católica, ao eleger os sete pecados capitais( gula, luxúria, preguiça, ira, avareza, soberba e inveja), fez que esqueceu a mentira, inspiração maior do italiano Carlo Colldi, o criador de Pinóquio, cujo nariz crescia sempre que falava uma inverdade. Ao longo do tempo, a mentira sempre aguçou a curiosidade de pesquisadores. Charles Darwin, pai da teoria da evolução, foi o primeiro cientista a documentar as características visíveis da mentira, sendo seguido por outros, destacando-se atualmente Paul Ekman, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, que é considerado o maior especialista mundial em detecção de mentiras, e criador de métodos que são utilizados pelas polícias de vários países. A quantidade de mentiras que se ouve depende de com quem se conversa. Uma equipe de pesquisadores e psicólogos canadenses garante que num bate-papo, de uma hora, com um mentiroso profissional, é possível se ouvir, em média, 1.067 mentiras que parecem verdades. Alguns renomados pesquisadores do comportamento humano classificam a mentira em quatro categorias: careca, quase careca, semicabeluda e cabeluda. A mentira careca é quase normal no dia-a-dia. Não faz mal e é até considerada como uma necessidade social. Um exemplo costumeiro dela é quando a gente encontra um chato e ele diz, todo contente. —- Cara, apareça sábado à noite lá em casa. Vou reunir alguns amigos da natureza para discutir a influência do pum no aumento do buraco da camada de ozônio. A gente faz aquela cara de espanto e admiração. —- Puxa vida, é mesmo? Que legal. Pode contar comigo! No mesmo dia, a gente compra uma passagem para o Tibet, sem avisar ninguém, é claro, porque o chato, certamente, vai ligar, a cobrar, e cobrar a promessa. Outros exemplos de mentira careca: Da amiga que encontra outra no shopping -menina, adorei o seu vestido novo! / Do conquistador para a vítima -quanto mais você fica velha, mais fica bonita/ Do empregado para o patrão -estou atrasado porque o pneu da moto furou/ Do garanhão brocha para a mocinha decepcionada – é a primeira vez que isso acontece comigo/ Da modelo para a entrevistadora da TV – meus peitos são grandes e duros naturalmente, nunca botei silicone. A mentira quase careca é um pouco mais pensada, intencional. Já demonstra alguma manha, mas ainda é possível de ser considerada normal. Quando a gente volta do Tibet, o chato liga ( ninguém sabe como ele soube da nossa volta) e começa o blá-blá-blá. —- Cara, você não sabe o que perdeu. Discutimos das 8 horas da noite de sábado até 10 horas da manhã do domingo. —- E concluíram alguma coisa? —- Claro que não, apenas adiantamos o relatório das hipóteses corretivas. Você acha que o assunto é tão simples assim? Ficamos de voltar a conversar na sexta-feira à noite. E contamos com você —- E os gases do pum são tão importantes assim? —- Claro. Você sabe quantos são soltos, por dia, no Brasil? —- Bom… eu….bem…. eu…. não sei. O chato fica todo animado para mostrar os seus conhecimentos. Chato sempre fica querendo mostrar o que sabe – ou acha que sabe. —- Veja bem,se considerarmos 180 milhões de pessoas, e cada uma soltar dois por dia, são 360 milhões de puns, com gases de cores e cheiros diferentes, de diversos tipos, com centenas, talvez milhares, de partículas ainda não pesquisadas. A gente concorda, com aquela cara idiota de admiração. —- Não !!!! Ele ri, e fica mais senhor de si. —- É !!!! Daí, veja a importância do grupo que estamos criando para defender a camada de ozônio. —- É realmente um trabalho admirável, mas infelizmente não vai dar para eu ir. —- Não ??? —- Não. A minha avó, que mora em Uganda, está passando mal e preciso vê-la. A coitada tem 125 anos de idade e só tem a mim. O chato até parece ficar sensível e compreensível, coisas que nunca será. —- É uma pena. Mas tem nada não. Quando você voltar, vamos discutir o relatório. São, até agora, apenas. 3.413 laudas. Ele será a base da nossa campanha: vida sim, pum, não! A mentira semicabeluda já é quase restrita aos profissionais, mas ainda não tem a postura da experiência de um mestre, não tem a consistência das grandes afirmações falsas. Ela é complexa, embora precise ser mais trabalhada para parecer verdade. Um exemplo clássico foi dado por George W. Bush, presidente dos EUA, o patrulheiro do mundo. —- Invadimos o Iraque porque Saddam Hussein tem armas de destruição em massa. Não estamos interessados em petróleo. Ah, a mentira cabeluda, a rainha das mentiras, que só pode ser usada pelos verdadeiros profissionais, mestres da fantasia manipuladora. Ela é uma obra-prima, indiscutível, inigualável, incontestável – é o ápice da genialidade do manhoso. E alguém pode até não admirá-la, mas ela atrai irresistivelmente e fascina loucamente. É a perfeição infindável dos grandes mestres da enganação. Dos inúmeros exemplos de mentira cabeluda, um é antológico, definitivo, e não admite contestações. É de uma perfeição impensável para as pessoas comuns, que ficam até coradas quando falam uma simples e inocente mentira careca. É a assinatura única de uma genialidade superior, alienígena até. Isso ocorreu quando o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palloci, declarou solenemente. —- A nossa política econômica é diferente da do Malan, da do governo de Fernando Henrique Cardoso.
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