As dicas da Mafalda

Cartas do Apolônio

As dicas da Mafalda

Nesses tempos de frio, Apolônio está de caso novo com uma alpinista social.

Lisboa, 28 de julho de 2003

Caros amigos de Sergipe:

Esta semana fui a uma feira de antiguidades aqui em Lisboa.  Meu bisavô Ribeiro Boucinhas ia sempre às feiras desse tipo no intuito de comprar mucamas a preços módicos.  Meu objetivo foi exatamente o contrário. 

Por entre ripongas grisalhos, velhinhos tarados e homossexuais da terceira idade, não encontrei nenhum cristão que desse um só euro furado pela Zenóbia ou mesmo pela Sulamita, que é mais jovem, além de bilíngüe e boazuda.

Acontece que estou de caso com a Mafalda, minha nova vizinha charmosona e me desfazer da
minha pequena rede de mulheres, era, segundo ela, condição sine qua non para a continuidade do nosso lesco-lesco amoroso. Felizmente, não consegui passar as mercadorias adiante.

Mafalda se faz passar por uma mulher fina, mas na verdade é uma alpinista social. Sei disso, mas, o que posso fazer se a mulher é o cão em figura de gente nas artes da saliência? Temos tido encontros surpreendentes, apesar da sua insistência em aplicar a chamada “técnica do fio terra” a cada encontro. Mesmo assim tenho que admitir que a mulher tem pós-doutorado nas artes da alcova. Em compensação, ronca como uma leitoa e adora acordar com a cara besuntada com creme de abacate. Nem tudo é perfeito, meus amigos!

Seu assunto predileto é a vida das celebridades. Mafalda adora dar dicas de como penetrar no mundinho dos ricos e famosos. Já me deu várias. E bem dadas! 

Como sei que entre os meus leitores, tem muitos interessados no assunto, aí vão algumas delas:

Em primeiro lugar, para se galgar o topo da doce vida dos ricos e famosos é preciso estar presente à todos os acontecimentos sociais. Da crisma do bastardinho do assessor do big boss, às visitas presidenciais. Urge ampliar as chances de ser filmado ou fotografado ao lado dos famosos. Toda atenção às notinhas sobre inaugurações, posses, aniversários ou eventos filantrópicos, sobretudo os de campanhas de grife como Fome Zero, Criança Esperança ou Natal Sem Fome. Estas são fundamentais!

Nada de ir discretamente à periferia para ajudar os pobres. Isso não traz nenhuma repercussão para a imagem de uma criatura notável e além do mais, o sujeito pode ser assaltado. Campanhas com mídia. Assim age o filantropo moderno.

Inventar algum hobby, tendo o cuidado de elevá-lo à categoria de trabalho artístico, também é fundamental. Fotografar, escrever sonetos, fazer quadros ou bonequinhos de porcelana fria, qualquer coisa dessas pode ser encarada como arte.  É esse “trabalho sério” (é sempre bom usar essa expressão) que pode levar o pretendente às colunas e aos programas de TV da cidade e daí, quiçá , para o sofá da Hebe ou a revista Caras.     

Porém, o mais importante mesmo é tornar-se amigo do político em ascensão, a “bola da vez”. Reconhecê-lo é muito simples. Em qualquer evento, treine seus olhos para o mais assediado com tapinhas nas costas, apertos de mão e sorrisos generosos. Quando o encontrar, cole. Esse é o homem. Jackson já teve a sua fase. Hoje é Deda. Amanhã será outro. A política é como o swing, exige promiscuidade. 

Prefeitos, governadores e presidentes são sempre os mais bajulados, mas você pode detectar o surgimento de novos líderes ainda em estado bruto. O idiota de hoje pode ser o presidente do amanhã. É o que vos digo por hoje.

Até semana que vem.

Um abraço do

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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