As Fake News mais frequentes e as mais irresponsáveis na pandemia

A divulgação de notícias falsas é um problema sério no Brasil e no mundo há alguns anos. Tal como o novo coronavírus, esse tipo de conteúdo espalhou-se pelo mundo em 2020, tendo a pandemia como principal alvo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) vem tratando o problema como uma “infodemia”, uma verdadeira epidemia de desinformação. A nível mundial, foram desmentidos mais de 7.000 boatos.

As Fake News mais frequentes foram relacionadas a alimentos e vitaminas, que anunciavam a cura ou a prevenção. As redes sociais divulgaram que o uso de limão com bicarbonato, diversos chás caseiros, café e vitaminas curavam a Covid-19 e que ingestão de líquidos quentes, alimentos alcalinos como alho, abacate, vinagre com sal, wisque com mel , beber álcool industrializado e beber desinfetante “matam o vírus” (essa última foi recomendação do Presidente dos Estados Unidos). Anunciavam ainda que beber água de 15 em 15 minutos para molhar a garganta, fazia o vírus “passar direto para o estômago e ser eliminado pelas enzimas gástricas”. Recomendavam lavar o nariz com soro fisiológico e afirmavam também que o novo coronavírus não sobrevivia além de 26º C .

Tais informações falsas desviavam a atenção e as pessoas não tomavam as medidas que realmente ajudavam na prevenção: distanciamento físico, etiqueta respiratória na tosse e espirro, os cuidados higiênicos das mãos e uso de máscara. Teve notícia falsa até relativo ao álcool gel: ocasionaria infração no transito pois seria detectado pelo bafômetro ou que o “álcool gel e nada era a mesma coisa”. Mesmo sem nenhuma evidencia científica, espalhavam que os produtos enviados da China para o Brasil traziam o novo coronavírus.

Considero algumas Fake News até irresponsáveis, pois confundem a população, levando a não acreditar que a pandemia existe, negando a existência dos óbitos, afastando as pessoas das verdadeiras medidas preventivas já comprovadas. Uma das fake News mais frequentes foi com relação a cloroquina e hidroxicloroquina que são medicações usadas para o combate da Malária e para afecções reumáticas. A mais recente foi a de afirmar que a OMS teria “voltado atrás” e recomendado a hidroxicloroquina para Covid-19. A OMS não mudou o posicionamento contrário à sua prescrição no tratamento da Covid-19. A mensagem falsa diz: “OMS pede desculpas pelo erro na controvérsia sobre a hidroxicloroquina”. A OMS afirma que “todo país é soberano para decidir sobre seus protocolos clínicos de uso de medicamentos, entretanto, não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da Covid-19″. Os testes com os medicamentos não resultaram na redução da mortalidade de pacientes hospitalizados. Divulgaram também que o CRM estaria obrigando o médico a prescrever a cloroquina.

Desde o início da pandemia, uma série de notícias falsas e distorcidas vinham sendo espalhadas nas redes sociais para subsidiar o discurso de alguns políticos de que os riscos da Covid-19 eram superestimados. A narrativa dos caixões enterrados vazios ou com pedras, divulgadas por uma deputada federal, foi uma delas e buscavam, ainda, atacar governadores e desacreditar os dados estaduais que apontavam alta crescente das mortes pela doença no país. O compartilhamento desse tipo de notícia falsa fazia parte de ações negativistas sobre o novo coronavírus.

Existiram também Fake News governamentais, como foi o caso do Prefeito da cidade paulista de Porto Feliz que afirmava que a cidade não registrava óbitos por conta do protocolo de cloroquina e azitromicina. A notícia falsa dizia que a cidade tinha 1.500 casos e zero de intubação e zero de óbitos” e que o prefeito e médico merecia “Prêmio Nobel de Medicina”. Na verdade, na época, a pequena cidade tinha apenas pouco mais de 300 casos de covid-19 e 10 óbitos.

Muitas vezes, as informações falsas são tão perigosas quanto a doença. Recebi em um dos grupos de watshap, a notícia de que a Pandemia era uma farsa, uma mentira ou golpe mundial e que vários profissionais de saúde teriam “assinado um documento afirmando isso”. Era o contrário: os profissionais, em todo o mundo, pediram que acabassem com as Fake News. É lamentável que as redes sociais façam isso, no momento em que as mortes estão cada vez mais perto de todos. São inúmeras vidas perdidas por causa do SARS-CoV-2.

Uma outra notícia divulgada nas redes sociais e que traz relaxamento nas medidas de prevenção é de que o isolamento social é ineficaz e inútil para conter o avanço da pandemia e que 80% da população é imune à Covid-19. Tais afirmativas, apenas confundem a população. A transmissão do novo coronavírus ocorre de pessoa a pessoa através de gotículas e que o distanciamento reduz o risco de contágio. Por outro lado, a infecção pelo SARS-CoV-2 é um fato novo para a medicina e pouco se sabe sobre a imunidade dos indivíduos.

A cada momento, infelizmente, surge uma notícia falsa!.

Um profissional de saúde divulgou que “a máscara deixa o organismo com maior concentração do gás carbônico, e, tornando o sangue mais ácido, favoreceria a penetração do novo coronavírus no pulmão”. Esse profissional mereceria ser punido pelo seu sindicato de classe. O outro divulgou que os chamados termômetros de testa, de raio infravermelho, que vêm sendo usado para aferir a temperatura, fazem mal à saude, podendo provocar câncer e cegueira.

Neste momento de pandemia, onde inúmeros cientistas estão pesquisando uma vacina que seja eficaz, o mais perigoso é o movimento antivacina que começa a se espalhar nas redes sociais. É falso que vacina contra covid-19 cause danos irreversíveis ao DNA humano. Denúncias falsas sobre as vacinas, podem comprometer o sucesso da imunização contra o novo coronavírus!.

A população precisa ficar em alerta e não divulgar informações falsas. O cuidado com a veracidade das mensagens, deve ser redobrado. As notícias falsas espalham desinformação e dificultam a prevenção!

Almir Santana* – médico sanitarista, da Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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