Bursite: como evitar, tratar e acompanhar

“O conformismo é o carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento” ( J, F. Kennedy )

Existe uma conversa no meio da população de que só quem sentiu a dor da Bursite é que pode aquilatar (avaliar) o quanto ela é aguda e intensa.

Muito mais frequente do que se imagina, essa doença pode atingir as pessoas através de traumas sofridos em determinadas partes do corpo, ou então decorrente da atividade física diária de cada um, tornando-se portanto um problema crônico; Para evitá-la, não existem mistérios: por exemplo, alguns cuidados posturais, já seriam suficientes para afastar as possibilidades do aparecimento desse mal, que infelizmente com bastante frequência chega sem avisar.

Em geral as pessoas que sofrem de Bursite também são afetadas por tendinites, porque as bursas ( bolsas ) quando inflamadas não cumprem o seu papel de impermeabilizar, mas paradoxalmente forçam em demasia os tendões, ocasionando o temido processo inflamatório no tendão!!!

O corpo humano tem 72 bursas (ou bolsas) situadas nas articulações, recobertas por uma membrana celular e lubrificadas pelo líquido sinovial, cuja função é facilitar o movimento dos membros e diminuir o atrito da passagem dos tendões e dos músculos nas superfícies ósseas. Portanto a bursite nada mais é do que um reumatismo das partes moles –ou seja um processo inflamatório dessas bursas.

A bursite também pode ser provocada por micro ou grandes traumas (pancadas) em determinadas regiões, caracterizando um quadro agudo, cuja dor leva à impotência funcional, nesse caso o individuo não consegue mover aquela região, acarretando que ela se contrai, assumindo uma posição antálgica. Nesse caso, sinais de inflamação como calor e vermelhidão são comuns. Convém salientar de que a atividade diária de cada um ou até o modo de dormir também contribuem para o surgimento da doença. Por exemplo, os tenistas ou aqueles que carregam muito peso ao longo de anos, costumam queixar-se de dores nos ombros, punhos e cotovelos; já quem trabalha com digitação normalmente apresenta problemas apenas nos punhos ou nos cotovelos devido à má postura durante o exercício de suas atividades.

Quando a dor passa, o paciente crônico tende a pensar que está curado, mas infelizmente basta apenas um gesto brusco para desencadear uma nova crise, por isso é recomendável que todo e qualquer movimento seja sempre feito da forma mais suave possível.

A contração isométrica (sem movimento) é uma das principais causas dos micros traumas que levam ao aparecimento da bursite.

A região mais comum aonde ela pode se manifestar é o ombro, que quando não é adequadamente tratado pode evoluir para o chamado “ombro congelado”, ou seja, a perda total dos movimentos da região afetada.

Além disso, a bursite pode acometer as coxas, as nádegas (muito comum em quem fica muitas horas sentado em superfícies muito duras) e até os joelhos, que atinge principalmente as pessoas que ficam muito tempo ajoelhadas.

Esse problema ortopédico atinge principalmente aqueles que estão mais sujeitos ao reumatismo, ou seja, os indivíduos na meia idade (dos 38 aos 52 anos) ou os idosos, que se caracterizam pelo aparecimento gradativo de flacidez muscular, que progressivamente tendem a perder sua capacidade funcional e com isso podem deixar as articulações desprotegidas e consequentemente vulneráveis ao aparecimento da bursite.

Convém salientar que se tratadas de forma adequada os sintomas tendem a desaparecer dentro de 7 a 10 dias, no entanto é primordial que se investigue possíveis consequências da crise nas regiões próximas ao local atingido, como por exemplo, atrofias e/ou espasmos musculares, que podem surgir em decorrência de um longo período de imobilização.

Portanto, não é suficiente aliviar a dor e sim através de um criterioso acompanhamento profissional executar procedimentos mais refinados de diagnósticos e de tratamento.

Para que possamos inicia-lo deve ser feito um interrogatório detalhado e minucioso, descrição dos hábitos do indivíduo, se é o primeiro episódio de dor ou se existem casos similares na família, pois certas doenças sistêmicas e /ou reumáticas podem ser hereditárias, além de poderem provocar o aparecimento de um episódio de bursite (como por exemplo a gota e a artrite reumática).

Com a repetição das crises, podem surgir pequenas calcificações nas fibras dos tendões e/ou dos músculos, cujo diagnóstico é feito geralmente de forma muitas vezes simples e rápida através de um exame de raios-X, podendo serem tratadas com aplicações de ultrassom e fisioterapia, na sua maioria dos casos. Após serem afastadas a presença de uma doença sistêmica, devemos tentar localizar a bursa afetada através de um exame clínico completo.

Em algumas situações a crise nem é tão grave como alguns descrevem, mas o aspecto psicológico do paciente influi intensamente no diagnóstico e consequentemente e em um tratamento adequado. Uma simples conversa franca e amiga pode reduzir o prazo do tratamento em vários dias. Por isso é fundamental que haja sempre certa cumplicidade entre o médico, o fisioterapeuta e o paciente para que se reduza a tensão emocional; ou seja o tratamento deve ser interdisciplinar e multidisciplinar. Em alguns casos, ocorre a indicação do uso  de calmante (ansiolíticos e antidepressivos), que se faz necessária para que a pessoa possa relaxar e ser examinada.

O tratamento básico consiste na administração de anti-inflamatórios (esteroides e não esteroides), além de analgésicos e relaxantes musculares que livrem o paciente da dor e dos espasmos. Ressaltando a restrição de seu uso em paciente portadores de hipertensão arterial , diabetes,gastrite,doenças renais principalmente.

Caso não se faça uso dessas medicações cria-se um círculo vicioso; ou seja a pessoa sente dor e contrai a região, provocando o espasmo muscular e consequentemente mais dor e mais espasmos.

A conduta a ser tomada em seguida é recorrer às compressas (ou sacos) de gelo, (que, no entanto, são contra-indicadas em alguns casos porque pesam no local) ou o uso de crio–massagens ou de vaporização com água gelada para tornar a região a mais fria e anestesiada possível; porque o frio reduz a velocidade de condução nervosa, aumentando o limiar da dor e consequentemente reduzindo-a o mais rapidamente possível o que permite a recuperação da região através de exercícios adequados.

A famosa “infiltração com injeções de corticoides, que atua na estrutura do colágeno dos tendões, só deve ser utilizada em casos extremos ( respeitando a existência das doenças referidas anteriormente )– quando a bursite impede a pessoa de se locomover, ou em idosos, que têm baixa resistência e podem fazer uma crise de hipertensão devido ao nervosismo. “Apesar do alívio imediato, a infiltração “mascara” o tratamento; Ou seja perde–se a noção de até onde é possível recuperar os movimentos porque já não se tem mais a dor como parâmetro”.

Além de ser contraindicado, como citados anteriormente  em cardiopatas e hipertensos (retenção hídrica) e diabéticos (aumenta a glicemia).

O advento da fisioterapia veio trazer um novo alento ao tratamento das bursites. Podemos fazer a ionização com salicilato, acompanhamento fisioterápico constante e até acupuntura – com estimulação transcutânea (aparelho que provoca a diminuição da dor através de contrações musculares)-, com bons resultados em alguns casos.

Após isso é que podemos dar início à seções de exercícios passivos ou ativo-assistidos (feitos pelo fisioterapeuta), procurando recuperar os movimentos normais da região afetada através do afastamento das superfícies ósseas, para evitar um desagradável atrito na bursa.

Alguns exercícios são prescritos como “dever de casa”, para acelerar o processo de cura.

Porém, deve-se ter em mente que a dor é o limite do movimento e, portanto, não é recomendável forçá-lo. Além disso vale a pena lembrar que se deve sempre respeitar o repouso da articulação na fase aguda: geralmente as sessões de fisioterapia duram 30 minutos, duas vezes por semana, por um mês, dependendo do caso.

A alta só é dada quando o paciente está totalmente recuperado da potência funcional e do arco de movimento daquela área, fato verificado com exercícios de resistência (com peso).

Baseado na rotina de cada um, o médico fará então recomendações para evitar a repetição do episódio.

Não há fórmula mágica que impeça o aparecimento de uma bursite. Pode-se, no entanto, prestar atenção à postura corporal, controlar as atividades que geram problemas, manter alongados os músculos da estrutura articular acometida e prevenir possíveis traumas nas articulações com uso de tornozeleiras, joelheiras e cotoveleiras.

Finalmente, convém lembrar que algumas patologias musculoesqueléticas como, por exemplo, a que pode atingir o pescoço com irradiação para o ombro superior (cervico-braquialgia) pode ser semelhante a uma bursite nessa região.

Portanto, um conselho final, na hora em que for dormir, procure  sempre deitar-se de lado, colocando um travesseiro para ocupar o espaço entre o ombro e o colchão, apoiando a cabeça em um travesseiro de menores dimensões. Além do que, a escolha do colchão deve sempre ser realizada de forma técnica e orientada.

Diz o ditado: “dize-me como acordas, que te direis qual o colchão em que dormistes”.

Boa semana, bons sonhos e uma excelente saúde.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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