Classificação punitiva ou indicativa?

A discussão ficou meio subjacente aos olhos de quem mais deveria se interessar por ela: a própria sociedade. Não é de hoje que se discute o determinado limite de expressão que pode ser exercido pelas emissoras de televisão no cenário brasileiro. Meio que como uma herança, de imediato até positiva, da libertação da Ditadura Militar, os veículos, antes controlados e proibidos de noticiarem seqüestros  cometidos de maneira arbitrária pelo governo e grupos ligados ao mesmo, vêem-se livres para propagar qualquer tipo de imagem sem um mínimo controle.

Com o advento da análise do governo Lula, temos de admitir uma certa apelação na criação dos autores de novelas, que  dizem usar as liberdades de criação para pôr no ar cenas que poderiam ser levemente balanceadas, estabelecendo o entendimento do telespectador. Ilustrando o processo, não precisamos ver determinados atores em cenas de sexo voraz às 19 Horas; hoje, horário bastante comum para um público infantil e pré-adolescente assistir à grade de programação nos diversos canais abertos, sem que o mesmo tenha o discernimento do que é passado na Tv. Pauta-se, nos diversos confrontos argumentativos, que a televisão só reproduz o fato. Entretanto, seria interessante elencar que ela não só representa como amplia em dimensões quase que infinitivas, pondo na mente das pessoas determinados atos que se fossem praticados pelas mesmas, teriam um tempo maior que se contrapusesse à precocidade.

Como educadores que somos, no-lo podemos ignorar o ato de que a tv mantém um poder de persuasão imenso sobre as pessoas que dela dependem para manter os níveis de informação no cotidiano. Ao mesmo tempo, quando se propõe  uma discussão como esta, estamos , também , certos, pois as intenções podem ser boas, mas tendenciosas por parte do governo. Por que não? Em meio ao debate, quem sai ganhando é a sociedade que pode avaliar qual dos lados, muito bem especificados os objetivos, deseja o melhor ao contexto.

O conjecturado pelo governo Federal é que os canais de televisão, sem que se puna pela criação e pela propriedade intelectual, tenham maiores responsabilidades na emissão das imagens , as quais são acessadas por crianças e adolescentes sem o controle, monitoradamente, incansável dos pais. Se há exagero em algumas novelas? há sim senhor. Nós mesmos, adultos, sem críticas destrutivas, questionamo-nos se determinados gestos seriam necessários, não como manutenção de  uma falsa moral, mas buscando o equilíbrio entre o que vemos e podemos imaginar. Partamos do princípio de que a tv não se sente obrigada a nos ceder tudo: da imagem ao som, passando  aos gestos… há determinadas cenas que ficariam melhores na imaginação, pairando a capacidade de abstração, para contribuir e não deflagrar  em agressão pelo que vemos.

Esta sucessão de novelas, de beijos ininterruptos, intensificados e picantes, acaba fazendo crianças reproduzirem  o ato, já que as mesmas estão em formação de caráter e personalidade. Não que o mundo deva ser escondido das telas, mas não precisa posicionar-se como violento, tirando das crianças e adolescentes a capacidade de se descobrirem. Psicólogos já confirmam a influência dos  m.c.m e como fato concreto, mantenhamos os nomes em sigilo, determinada mãe passava-me a informação de que possui dois filhos com idade entre 05 e 07 anos. Certo dia, chamada pelo caseiro da residência, saiu e deixou o controle remoto próximo aos garotos. O garoto pegou o controle e pôs em canal aberto cuja cena , no momento, era bastante avassaladora, com a imagem muito próxima de um beijo profundo e apaixonado. Resultado, ao retornar, ela, consciente do fato vivido pelos filhos, pega o controle, volta aos desenhos animados e disfarça, visto que os dois estavam estáticos assistindo à aula. Atenta, começou a conversar, aparentemente tinham esquecido, até que, no dia posterior, fora à escola levá-los. O garoto, ao ver a amiguinha de classe, que vinha com o pai pela calçada, abriu a porta  do automóvel, correu em direção, puxou a menina de 5 anos pelo cabelo, jogou a língua para fora e reproduziu a cena com a mesma voracidade vista 24 horas antes na tv aberta. A mãe corre , tenta desgrudá-lo da garotinha que gritava sem parar, assustada com a declaração, digamos, um pouco efusiva; tira-o e depois vai explicar ao pai da agredida, rsrsrs, acerca do que ocorrera.

Diante disto, o professor de comunicação e sociólogo da Usp, Laurindo Lalo Leal Filho,  afirma que esta indignação dos veículos de comunicação em não aceitar qualquer tipo de controle ou cláusulas de veiculação demonstra uma posição pública do atraso cultural do país. Nenhum processo em sociedade pode ser posto em exercício sem o teor de responsabilidades, posto que o pedido de controle com a classificação indicativa supre a expectativa de milhões de pais no auxílio educativo sobre o que o filho pode ou não assistir para que , por intermédio de veiculação incompatível à idade, não ocorra o processo de desinformação ou deseducação na interpretação, dependendo do nível e do acompanhamento de crianças e adolescentes por parte da família. Óbvio que sendo o quarto poder, para não assumir-se como primeiro, os meios de comunicação apelaram com recursos que vão de protestos orais até abaixo-assinados , constando nomes de atores que possuem um elevada influência na imagem construída sobre o povo como Fernanda Montenegro e Tony Ramos, dentre diretores, cineastas, justificando ser a indicação o princípio ainda não estabelecido de um possível cerceamento a respeito do que podemos assistir ou não, afirmando que cabe à família determinada decisão sobre o quê assistir e onde. Será?

Fato o é, que não podemos absorver tudo o que vemos na tv; fato o é, que para não fazê-lo precisamos da capacidade de discernimento; fato o que é, que para discernir , devemos ter acesso à educação que aguce  a capacidade crítica; fato o é, que existe o questionamento: temo-la?     Até a próxima.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.

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