Em tempos medíocres.

José foi pros Estados Unidos.

Juntou dinheiro, trocou em dólar, escondeu numa pochete e enfiou na cueca, tentando ocultar de eventual assaltante.

Nada tinha que esconder, embora tudo tivesse a temer.

O dinheiro fora ganho, ajuntado e economizado.

Não fora gasto, como muitos o fazem, por esbanjadores contumazes, porque a maioria é assim: não aguenta o chamado da propaganda que embeleza o consumo, em tantos pedidos e reclames.

José, todavia, tinha um desejo: visitar os States.

Já mandara até os filhos, ao completarem quinze anos, conhecer a Disney.

Mandara os três, em suprema ousadia, por únicos no Bairro, uma concessão ao consumo, e estímulo também ao estudo do idioma bretão.

Fora o tempo em que falar bem e escrever o idioma pátrio era suficiente.

E José bem o sabia, que o mundo estava a exigir que todos falassem bem o inglês.

Os filhos de José não seriam como ele: analfabetos monoglotas!

Poderiam ser analfabetos, mas poliglotas!, esta característica do terceiro milênio!

Mas José e sua mulher não conheciam os Estados Unidos.

No máximo passeavam pela Rua Estados Unidos, um esburacado logradouro de sua cidade.

Mas, de tanto ouvir falar dos volteios turísticos dos amigos, José e Mariquinhas, juntaram as trouxas e montaram num avião em demanda do aeroporto JFK, em Nova York, levando passaporte, com visto aceito, tudo do melhor jeito para a viagem programada.

Sem problema, nem transtornos, José e Mariquinhas passeando embevecidos pela ilha de Manhattam, quando margeavam o Flatiron, aquele prédio antigo, obtuso qual ferro de engomar, viram uma banca lotérica que iria sortear um prêmio inusitado de algumas levas de zeros, coisa de muitos zilhões, ou milhões de milhões de dólares, tudo aquilo que não caberia nem na cueca do José, nem nos califons de Mariquinha, a ser resgatado no Chase Bank, em conta aberta sem mistério nem dificuldade.

Flatiron ou Ferro de engomar, um dos símbolos da Broadway

O problema é que agora Mariquinha e José têm dinheiro para comprar muitos andares na Trump Tower, na 5ª Avenida, uma terrível preocupação se deve ou não trazer pro Brasil toda a bufunfa ganha, ou deixar lá, rendendo levas e boas, sem sofrer as ensaboas da nossa pátria economia.

José e Mariquinhas, como Paulo Guedes, estão agora sendo caçados como inadimplentes.

Se antes nada deviam ao fisco nacional, agora mecas e becas querem lhes garfar um terço do texto sonhado e recebido só porque assim o foi imaginado.

O que deveria fazer o José e a Mariquinha?

Em tempos de mediocridade, tudo vale a pena!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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