O Tô no Mundo vai até o Alto Sertão Sergipano, mais precisamente no Monumento Natural da Grota do Angico, entre os municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, a cerca de 200km da capital, Aracaju. Lá, une-se a diversidade da Caatinga com um refrescante banho de rio São Francisco, em mais de 2.400hectares de bioma protegido, compreendendo cactáceos, pequenos arbustos, flor de mandacaru, répteis e muita história para contar, principalmente do Cangaço. Essa aventura cada vez mais atrai turistas, ávidos por trilharem a Rota do Cangaço no Sertão de Sergipe.
O roteiro inicia partindo de Aracaju (SE) logo ao amanhecer do dia. Poço Redondo fica a cerca de 200km da capital sergipana, numa região denominada de Alto Sertão. Já no município, despede-se da rodovia e entra por uma estrada de piçarra por 12km até chegar ao Centro de Convivência da Unidade de Conservação da Grota do Angico, mantido pelo Governo de Sergipe.
No Centro de Convivência há infraestrutura para começar bem a trilha. Conta-se que ali era a antiga sede da fazenda Angico, visitada frequentemente por Lampião e seu bando. Por conta disso, um dos cômodos foi reformado e a casa antes de taipa foi mantida para resguardar a memória. A unidade também ganhou um mirante de onde se pode ver a magnitude da região de Caatinga, a perder de vista.
A trilha é considerada de fácil grau de dificuldade, guiada por um agente florestal e de turismo, que mostra os tipos principais de cactos, bromélias e árvores nativas da caatinga.
Conta-se que o Plano de Manejo do MONA Angico, em sua caracterização florística, registrou a ocorrência de mais de 157 espécies nos limites da Unidade de Conservação, distribuídas em 108 gêneros e 45 famílias, ou seja, uma rica biodiversidade que algumas delas podem ser apreciadas na trilha. Também foram identificados mamíferos e aves, répteis e anfíbios.
Atmosfera nordestina – O visitante percorre cerca de 1km de trilha partindo do Centro de Convivência, quando se depara com uma parte mais íngreme.
Chega-se à Grota do Angico propriamente dita, cenário da morte do maior ícone do movimento do Cangaço, Virgulino Ferreira, o Lampião, além de sua companheira, Maria Bonita, com nove cangaceiros. Há uma cruz em cima de uma pedra datando o fato, ocorrido em 28 de julho de 1938, ou seja, 82 anos atrás.
Há muitas histórias sobre o caso, mas é sabido que o local é místico e envolto de uma atmosfera bem nordestina e quase que sagrada. Todos os anos, em julho, pesquisadores, familiares viajam até o local, para celebrarem uma missa em homenagem ao Pai do Cangaço. A celebração é intensa e cheia de ritos.
O passeio só está começando. Relaxe um pouco mais com as histórias contadas pelos guias e deixe a atmosfera contagiar, pois mais um trecho da caminhada está por vir.
A trilha de mais 1km, ora sobe, ora desce, passando por percursos de riachos secos e muita história que vai desde Padre Cícero, Lampião, primeiras estradas de ferro, ao cangaceirismo, entre outros.
Percebe-se que além da preservação ambiental há todo o contexto sociocultural da região, protegendo o sítio histórico e ambiental da Grota do Angico, além de ser uma região de desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública, associada ao desenvolvimento de assentamentos e ramos econômicos que envolvem a Caatinga, a exemplo do mel de abelha, dos doces caseiros, dos produtos derivados do leite.
O turista observa que a trilha possui lixeiras e cordas em alguns trechos mais íngremes. O Eco Parque do Cangaço, um investimento privado à beira do rio São Francisco, está por vir.
Ao longe, ver-se o caudaloso Velho Chico, já na divisa com Alagoas. O Eco Parque é uma boa pedida para se refrescar, alimentar o corpo e relaxar bem ao estilo nordestino: em uma das redes à beira do rio e na sombra das mangueiras, com a brisa do São Francisco batendo no rosto, depois de muito uma caminhada ao sabor do calor sertanejo. Ao final da trilha, não se preocupe. A natureza é generosa refrescando o final com o caudaloso banho de rio.
Na Bagagem
Consulte uma agência de viagem. Caso queira, também poderá agendar a trilha a partir do Monumento Natural da Grota do Angico através dos telefones dos técnicos da área ambiental. A sede foi inaugurada e 2010 e pode ser agendado por meio do gestor Emanuel Souza Rocha (79) 9 9999-1493 / emanuel.rocha@sedurbs.se.gov.br ou engenheiro florestal responsável pela área Elísio Marinho (79) 98846 – 6133, email elisio.santosneto@semarh.se.gov.br
Leve bastante protetor solar e use roupas leves. Na alta temporada, faz muito calor e não chove. Caso prefira conhecer a região quando há menos enxurrada de turistas, prefira ir nos meses de junho, julho e agosto.
Partindo de Aracaju (SE) há diversos percursos, mas todos eles recorrem à BR 101. Pode-se ir pela BR 235, sentido Itabaiana/ Nossa Senhora da Glória/ Canindé (Rota do Sertão). Depois de Itabaiana, segue-se pela SE 414, SE 212, e por último SE 208. A estrada está totalmente recuperada. Chegando na cidade de Poço Redondo, percorre-se um pouco mais no sentido Canindé do São Francisco e verá do lado direito placas indicando a estrada de piçarra que levará ao Centro de Convivência do Monumento Natural da Grota do Angico ou ao Eco Parque do Cangaço.
Na região de Canindé do São Francisco (SE) há boas instalações e hospedagens. A região cada vez mais atrai os olhares da infraestrutura hoteleira. Há também bons motivos para se hospedar na cidade alagoana de Piranhas (AL), de onde o turista poderá partir em embarcações pelo rio São Francisco até o Eco Parque e de lá realizar a trilha.
Caso vá até o Eco Parque do Cangaço por conta própria, paga-se um valor pela entrada no estabelecimento. Também poderá ser agendada a visita através do telefone (79) 9 9869-6428.
Nas imediações de Canindé do São Francisco há restaurantes com bom custo/benefício, que servem desde comida nordestina à caseira. Pesquisar antes de ir é sempre uma boa dica.
Gastroterapia
Os doces da Dona Nena são o sabor do Sertão de Sergipe em compotas. Umbu, mangaba, jaca, mamão, goiaba, doce de queijo, de leite batido, em bolas, com ameixa, doce de carambola. Ufa! E as cocadas? O ponto é parada obrigatória na rodovia SE 206, entre os municípios de Nossa Senhora da Glória e Monte Alegre. Dona Nena ganhou fama na região graças aos seus mais de 25 tipos de doces caseiros fabricados artesanalmente, vendidos todos os dias, das 7 às 18h. Antes da pandemia, a procura era tão grande que chegam a ser vendidos mais de 10kg de cocada por dia.
Fotos: Silvio Oliveira
Insta: @silviotonomundo
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