Ilha do Ferro (AL): um ateliê a céu aberto

Atelies espalhados pela pequena cidade dão o tom do passeio

Dos cerca de 450 habitantes da Ilha do Ferro (AL), estima-se que o dia a dia de mais de 300 deles esteja ligado a arte, cultura e gastronomia. Imaginou? Não poderia ser diferente. A atmosfera das ruas do vilarejo emana arte. A cada passo o visitante descobre uma casa/ ateliê, ou um morador abrindo as portas da casa para receber no almoço ou para hospedagem.

Para se chegar até lá partindo de Sergipe, a benção do rio São Francisco

A Ilha do Ferro fica a 238km da capital, Maceió, ou a 186km de Aracaju. O povoado ribeirinho pertencente ao município de Pão de Açúcar, localizado no sertão alagoano à beira do rio São Francisco, e tem a maior concentração de artistas por metro quadrado. Das mãos de Zé Crente, Mestre Aberaldo, Mestre Petrônio, Yang, Dedé, Vavan, entre vários outros, a madeira e restos de galhos criam formas, cores e realçam o imaginário popular que corre o mundo em peças artesanais e bordados.

Duas vezes por semana o jovem Yang vai até a caatinga, fica horas a olhar os galhos retorcidos e ali já visualiza a dança das bailarinas, o movimento de pessoas em parques e até mesmo grandes esculturas. De suas mãos, os galhos ganham formas desde os sete anos de idade, ofício que herdou do pai, o Mestre Petrônio, famoso pelas esculturas em formatos de monstros e figuras mais no tom natural.

Vilarejo

Não tem como se perder no vilarejo. Bom mesmo caminhar sem pressa. Na mesma rua de Yang há vários outros ateliês: o Dom, do arquiteto Rafael que fixou os pés na ilha há quatro meses e nunca mais saiu, e que lá constitui a galeria de obras itinerantes de curadoria popular ou de raiz; o do Mestre Aberaldo, com os seus famosos ex-votos, bonecos e pássaros. Na entrada do ateliê de Aberaldo está instalada uma sala com várias peças e, logo depois fica a pousada capitaneada pela esposa dele, Dona Vana. É no quintal que o encantamento chama atenção, por ser lá um espaço de arte e gastronomia.

Arte em todo o canto

De rua em rua a arte se mostra mais autêntica. Os mais velhos lembram que essa inclinação do povoado começou com o artesão Fernando Rodrigues dos Santos e suas obras feitas de troncos e raízes encontradas no próprio povoado. Em sua memória, foi criado o “Espaço de Memória Artesão Fernando Rodrigues”, um museu de arte popular com diversos artefatos como: esculturas em madeira, bonecas de pano e bordados. A casa onde morou o Mestre Fernando falecido em 2009 é o Ateliê Boca do Vento. O espaço hoje é conduzido por seus herdeiros, como acontece em várias outras casas de arte da ilha.

Dedé transforma resto de embarcações em arte

As andanças por ateliês continuam com a casa do Dedé, um barqueiro que logo viu arte no resto de madeira de demolição das embarcações. Ele transforma o que encontra em bancos, mesas, porta-roupa, porta-chaves, entre outros itens. Na frente da casa, um entulhado de raízes, galhos, madeira retorcida breve ganharão o mundo. Dedé também faz condução dos visitantes que chegam pela ilha.

arte que ganha o mundo

Entre outros locais a serem visitados, o quintal de Mestre Vavan é um dos mais disputados não somente pela vista do rio, mas pelo conhecido traço do escultor em obras tamanho natural. Sãos animais, sereias, mestres do reisado, peças que só de olhar já se sabe que tem o traço do alagoano. É lá também que muitas alagoanas se encontram para traçar a renda chamada de Bordado Boa Noite.

Ateliê de Dedé

Flane pela ilha devagar. Reserve tempo. Não deixe de observar as casas datadas do início do século XX, o que conferem um chame ao povoado, além da igrejinha e do majestoso rio São Francisco, que abençoa toda essa arte proporcionando aos que lá visitam as delícias da culinária ribeirinha, a exemplo da Tilápia assada, do pitú cozido, entre outros peixes. Um lugar a ser visitado sempre.

Dicas de viagem

Yang e suas bailarinas, Naira e Dona Vana da pousada

Como chegar – Para chegar até lá partindo de Aracaju, a melhor forma BR 101 e acessar a Rota do Sertão no entroncamento de Siriri, sentido Monte Alegre de Sergipe. Logo que passa a cidade, há um entroncamento à direita, no sentido Niterói – Balsa. São mais cerca de 13km de estrada asfaltada até a beira-rio. Chegando lá, ou atravessa o rio para Pão de Açúcar de balsa e segue de carro até a Ilha, ou reserva uma embarcação do lado sergipano até o povoado Ilha do Ferro. (Deve reservar antes a travessia direta).

Embarcação à posto do dedé

A Ilha do Ferro tem um grande potencial para o turismo e lá chegam embarcações com visitantes em busca da sua arte e das suas belezas, porém ainda se constituiu em potencial. Não há grandes restaurantes e nem locais de hospedagem. Por isso, caso deseje almoçar ou fazer refeições, bom é reservar antes de ir. Vale lembrar que a maioria dos ateliês ganharam placas de sinalização do projeto ‘Alagoas feito a mão”.

Camarão do Velho Chico sob encomenda

Hospedagem – Quanto a hospedagem, apenas há casa de moradores e a disputada pousada de Dona Vana, que também reserva para almoço. Pousada da Dona Vana. (79) 99682.8438 ou (79) 99975.7257. Esse também é o contato do ateliê de Aberaldo. Há diversas casas que também recebem visitantes para hospedagem com diárias que variam entre R$ 80 a R$ 100 por pessoa.

Ateliê do Mestre Vavan, um dos mais visitados

Comidinha caseira de Naira. Recebe até 12 pessoas em sua sala de casa. (79) 99943 8947

Museu em homenagem ao Mestre Fernando – rua Matias de Souza Fontes, n 110 / Telefone: 82 3624.8008 / Instagram. Aberto de segunda a domingo, das 7h às 17h.

Não deixe de levar protetor solar. O clima do sertão é sempre quente durante o dia e mais ameno durante a noite. Se for tomar banho no Velho Chico, é sempre bom uma consulta de moradores.

Os artistas plásticos Maria Amélia Vieira e Dalton Costa alugam sua residência. É possível agendar através do telefone: (82) 99982 5610

Passeios de barco com o artesão Dedé – Telefone: (79) 99962 3252. Instagram @dedefontestorres

Fotos: Silvio Oliveira. Siga o Instagram @silviotonomundo

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