Jackson ainda apita em Aracaju?

Ninguém governou Aracaju por mais tempo do que Edvaldo Nogueira (PCdoB). Quando concluir este terceiro mandato no próximo ano, ele terá ficado 10 anos e nove meses à frente da Prefeitura. Da primeira vez, era vice-prefeito e sentou-se na cadeira principal em 31 de março de 2006, quando o então prefeito Marcelo Déda afastou-se para disputar, com êxito, o governo de Sergipe. Edvaldo reelegeu-se em 2008 e foi prefeito até o final de 2012. Elegeu-se de novo em 2016 para a atual gestão e, reelegendo-se mais uma vez no próximo pleito, terá outros quatro anos pela frente — se não sair para disputar o governo em 2022. As boas gestões o credenciam.

João Alves Filho foi prefeito por oito anos (1975-1978 e 2013-2016), mas foi outro prefeito que também governou em duas ocasiões, embora por bem menos tempo, que fez história como maior liderança política de Aracaju a partir dos anos 80 do século passado. Jackson Barreto de Lima sentou-se na cadeira de prefeito por menos de quatro anos, entre 1986 e maio de 1988, quando renunciou após sofrer a intervenção estadual, e entre 1992 e março de 1994, quando saiu para disputar o governo, vencendo a eleição no primeiro turno e sendo derrotado por Albano Franco no segundo turno.

Não é pelo tamanho dos mandatos à frente do paço municipal, portanto, que se pode medir a importância de Jackson Barreto como incontestável liderança política da capital.

Sua militância tomou corpo a partir de 1967, quando ingressou na Faculdade de Direito e quase simultaneamente ligou-se aos quadros do proscrito PCB, destacando-se como tarefeiro na política estudantil. Chegou a presidir o respeitado Diretório Acadêmico Silvio Romero e, antes de concluir a graduação, foi preso por 14 dias durante as eleições estaduais de 1970, ao lado de dezenas de estudantes e operários acusados de subversão.

Em 1969, Jackson já figurava como membro da comissão executiva municipal do MDB em Aracaju. Era o partido guarda-chuva que abrigava os militantes do Partidão. Em 1972, foi o mais votado dentre os oito vereadores eleitos pelo MDB. O partido governista Arena elegeu 10 vereadores.

Em 1974, deixou a Câmara de Aracaju e se elegeu deputado estadual naquela campanha emblemática na qual o jovem médico Gilvan Rocha foi eleito senador pelo MDB derrotando o velho cacique Leandro Maciel. Dos 6.393 votos que Jackson recebeu, cerca de 5 mil foram conquistados em Aracaju, segundo registra Jorge Carvalho no livro “Memórias da Resistência”, lançado neste ano pela Criação Editora.

Em 1978, foi o mais votado dos dois que o MDB elegeu. Em 1982 foi reeleito para a Câmara Federal, dessa vez ficando atrás de José Carlos Teixeira. E, em 1985, afastou-se do parlamento para candidatar-se prefeito de Aracaju. Nesse momento, a liderança política de Jackson Barreto se materializa.

 

ELEITO PREFEITO COM 70% DOS VOTOS

“Embora não sendo grande estudioso dos problemas de Sergipe, nem ideólogo, formulador de novas propostas, já se revelava pragmático, esperto nos conchavos e com enorme poder de comunicação e empatia com as classes subalternas”, anota Ibarê Dantas no livro “Eleições em Sergipe (1985-2000)”, Tempo Brasileiro, 2002.

Já pelo PMDB e oficializado candidato da Aliança Democrática, apoiado pelo então governador João Alves (PL), foi eleito prefeito de Aracaju com 70% dos votos válidos, derrotando o menino Marcelo Déda (PT) e Gilton Garcia (PDS), que era o candidato da família Franco.

Parêntese: no início daquele ano, num bate-papo informal com universitários num bar do Baixo Barão, naquele curto período quando a avenida Barão de Maruim concentrava a noite aracajuana, ele não escondia que seu maior desejo era derrotar os Franco, o que de fato se confirmou.

A intervenção na Prefeitura, iniciada pela condenação de sua gestão no Tribunal de Contas e confirmada na Assembleia Legislativa, ao contrário de destruir o líder popular, significou seu fortalecimento político. Usando um poder peculiar de apontar culpados entre os adversários, Jackson cresceu atacando o governador Antonio Carlos Valadares (PFL) e o PT dos deputados estaduais Marcelo Déda e Marcelo Ribeiro, votos decisivos no acatamento da intervenção e renúncia.

 

JACKSON DÁ A VOLTA POR CIMA

Mostrando grande poder de recuperação, Jackson, agora no PSB, elegeu-se o vereador mais votado da história de Aracaju, levando consigo outros sete companheiros, inclusive Edvaldo Nogueira do PCdoB. Mas o mais importante daquela eleição de 1988: elegeu Wellington Paixão prefeito da capital com mais de 57% dos votos válidos, derrotando fragorosamente o bom Lauro Maia, da Aliança Democrática (PFL, PMDB, PL e PJ) de Valadares, João Alves e José Carlos Teixeira, e o PT de Marcelo Déda, que também foi candidato e obteve pouco mais de 6% dos votos. É um fato dos mais importantes na história da política sergipana.

Em 1993, Jackson voltaria à Prefeitura de Aracaju. Em 1992, Marcelo Déda fez autocrítica por haver votado pela intervenção na prefeitura e o PT admitia apoiar o ex-prefeito se a Justiça Eleitoral mantivesse sua candidatura, agora pelo PDT. Mas, afinal, o PT saiu aliado com o PSB e acabou lançando a candidatura de Ismael Silva. O PMDB lançou Luiz Mitidieri e o PFL lançou Reinaldo Moura. Foi mais uma surra de Jackson Barreto, que conquistou 67% dos votos válidos.

Movido pela espetacular popularidade, Jackson Barreto bateu na trave em 1994 e se tivesse mais poder financeiro teria sido eleito governador 20 anos antes desse sonho se concretizar. Venceu um primeiro turno apertado contra Albano Franco, mas não teve força suficiente para encarar o poderoso senador e presidente da CNI e o peso do governo João Alves no segundo turno. Ali, Eduardo Dutra (PT) foi eleito senador junto com Valadares (PP) e Marcelo Déda foi eleito deputado federal.

Mas a derrota não diminuiu seu cacife político em Aracaju, onde fez o prefeito pela quarta vez seguida, dessa vez elegendo João Augusto Gama (PMDB) em 1996, derrotando no segundo turno Ismael Silva (PT), que cometeu a insensatez de se aliar a Maria do Carmo Alves (PFL), que havia sido derrotada no primeiro turno.

 

FÔLEGO APÓS O MAIOR ERRO POLÍTICO

Em 1998, Jackson Barreto cometeu o maior erro político da carreira e que quase lhe custou toda a sua história. Depois de ameaçar lançar-se candidato a governador, sabe-se lá o valoroso motivo que o levou a se aliar ao governador e principal adversário, Albano Franco, lançando-se candidato a senador numa improvável aliança PSDB-PMDB. Perdeu a eleição para o Senado para Maria do Carmo e viu o governador reeleger-se com relativa facilidade, derrotando João Alves no segundo turno.

Em 2000, Déda elege-se para a Prefeitura de Aracaju apoiado pelo então prefeito João Gama. Em 2002, Jackson volta a ter um mandato, retornando à Câmara Federal pelo PMN, numa aliança com o PT e o PCdoB. Reeleito prefeito em 2004, Déda parte para conquistar o governo em 2006, apoiado por Jackson, que se reelege deputado federal, agora pelo PTB. Depois vem a reeleição de Edvaldo na prefeitura e, por fim, o emblemático ano de 2010.

Jackson Barreto operou para finalmente chegar a governador de Sergipe em abril de 2014, quando Marcelo Déda deixaria o cargo para tentar o mandato de senador. Isso foi combinado em 2010, ano em que Déda disputou a reeleição e, num gesto de grandeza, ofereceu a ele a vaga de candidato a vice-governador.

Ele assumiu o governo antes do previsto, após a morte prematura de Déda, e se reelegeu governador. Foi decisivo no segundo turno da eleição que resultou na volta de Edvaldo à prefeitura, em 2016. Deixou o governo de Sergipe sem conseguir realizar a obra que gostaria, mas decidiu voltar a encarar as urnas, certamente arrependido de ter anunciado em 2014 que aquela seria sua última eleição. Perdeu a disputa para o Senado em 2018.

Jackson Barreto, 76 anos a fazer em 6 de maio, não se aposentou da política, continua ativo e disposto a interferir mais uma vez nas eleições municipais. Que ninguém duvide da sua capacidade eleitoral, principalmente em Aracaju. Ainda terá fôlego?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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