Morre Babalorixá Zé D”Obacoussou – Araripe Coutinho

O Babalorixá Zé de Obacoussou morreu ontem, 23, no Rio de Janeiro. O corpo está sendo transladado para Aracaju. Zé de Obacossou era considerado um dos maiores babalorixás do Estado de Sergipe, tendo atuado com sucesso no Rio, onde morou alguns anos, atendendo muitas personalidades famosas, entre políticos, artistas e o público em geral.


Zé de Obacoussou era pai de santo de muitas gerações e deixa uma legião de seguidores fiéis. Já vinha adoentado há um bom tempo.


O Pai de Santo Obaccoussou mantinha um terreiro no conjunto Eduardo Gomes, onde eram feitas verdadeiras festas aos orixás, numa verdadeira demonstração de fé, dentro do sincretismo religioso. Além de muito querido, D’Obacoussou era muito respeitado e venerado.


Tinha uma alma muito generosa e era muito farto em tudo que oferecia, além de ajudar aos pobres, menos favorecidos.


Todo o mundo do candomblé está de luto. O seu disco, com seus cantos, deveria ter saído em vida, mas o projeto não foi aprovado em tempo. Além de um homem de fé, o babalorixá era um grande cantor do nagô e tinha um disco no prelo “Cantos do Rei”.


“Só se é um grande sacerdote na medida que sé é um grande ser humano” – dizia o Babalorixá Zé D”Obacoussou, o mais antigo babalorixá de Aracaju.


José Augusto dos Santos, o Babalorixá Odé Bamirê, mais conhecido, também como Zé D”Obacoussou era uma estrela de primeira grandeza na constelação de raras estrelas que brilham no reino dos Orixás.


Como raridade, Zé D”Obacoussou possuia diversas músicas populares, resgatando a linguagem afro-religiosa, numa emoção sem par, ele mesmo, o Babalorixá, cantando. Exaltando entidades, hinos únicos, muitos só sabidos e cantados por Ele, num retrato de fé.


Após a sua morte, mister de registrar com a voz do mestre, os maiores cantos do nagô, esta história de mais de um século de herança musical.


Zé D”obacoussou nasceu para vivenciar e se dedicar a religião do Orixá. Teve uma infância e adolescência sofridas. Homem de poucas letras, mas possuidor de uma sensibilidade e mediunidade fantásticas. Um verdadeiro autodidata, de sabedoria religiosa e de conhecimentos humanísticos profundos.


A parte dos ensinamentos fica restrita aos cânticos inerentes aos orixás,e com frequência o Babalorixá  emite uma nota explicativa do significado e do que representa determinado canto para aquele Orixá(Divindade).


O Babalorixá não mergulha nos segredos de camarinha ou de roncó. Atitude corretíssima para a grande maioria dos adeptos da religião dos Orixás. Para estes, tais segredos devem ser transmitidos direta e pessoalmente só aos já iniciados na religião, para evitar, inclusive, que se banalize os fundamentos religiosos.


A grande referência do Babalorixá Zé D”obasoussou é exatamente, a forma única, etérea de cantar. Não havendo a preocupação de grafar os vocábulos de acordo com a ortografia Iorubá, Nagô, e sim em português, de acordo com a pronúncia, o que facilita o entendimento e a aprendizagem por parte de todos que ouvirem os cantos.


Seu exemplo, sua história de fé, o tempo não irá apagar.

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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