Musiqualidade

R E S E N H A

 

Artista: JOHNNY ALF

Box: “ENTRE AMIGOS”

Gravadora: LUA MUSIC

 

Pianista de rara habilidade técnica adquirida por conta dos anos de estudo iniciado na infância, Johnny Alf é considerado, enquanto compositor, um dos precursores da Bossa Nova. O nome artístico foi adotado quando ele foi convidado para fazer parte de um grupo artístico no Ibeu (Instituto Brasil-Estados Unidos), ainda na metade do século passado. No já distante ano de 1952, começou a atuar profissionalmente em casas noturnas e foi ao se apresentar em algumas localizadas no bairro de Copacabana (RJ), entre elas a boate Plazza e o lendário Beco das Garrafas, que ele se tornou conhecido por João Gilberto e João Donato, dois de seus inúmeros admiradores. Também intérprete de suas canções, embora não fosse dotado de uma voz extraordinária, Johnny destacou-se pela maneira suingada de cantar. Ao longo de sua longa carreira (ele nos deixou em março de 2010), gravou pouco (por volta de vinte discos), mas cravou seu nome no panteão da música popular brasileira ao criar pérolas como “Eu e a Brisa”, “O Que É Amar” e “Ilusão à Toa”, músicas que, durante o passar dos anos, vêm ganhando dezenas de regravações.

Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Lua Music, o box intitulado “Entre Amigos”, composto por três CD’s, cada um deles com um conceito próprio. Trata-se de uma bem-vinda homenagem a esse grande artista que influenciou toda uma geração de músicos. A produção do projeto é assinada por Thiago Marques Luiz que abraçou a ideia desde quando a cantora Alaíde Costa lhe falou sobre o desejo de gravar um disco somente com canções de Johnny. Assim, após o tempo de maturação necessário, foi gerado o álbum “Alaíde Canta Johnny em Tom de Canção”, um dos três que compõem o recém-lançado box.

Alaíde é daquele tipo de cantora que pega o ouvinte pela emoção. Intérprete irretocável, ela possui uma voz de timbre bastante peculiar e, aos setenta e cinco anos, se mostra em plena forma. As dez canções escolhidas para compor esse disco passam ao largo das mais conhecidas de Johnny. É justo constatar, inclusive, que não são músicas facilmente assimiláveis melodicamente falando. Corajosa, Alaíde se arrisca pelas intrincadas harmonias e se sai com inegável destreza. Dentre os melhores momentos estão as faixas “Foi o Tempo de Verão”, “Tema da Cidade Longe” e “Escuta”. Há ainda a inclusão de um bom tema inédito: “Em Tom de Canção”. Os ótimos cantores Zé Luiz Mazziotti e Marcelo Lima comparecem nos vocais de “Quem Sou Eu” e “Meu Sonho”, respectivamente, e os músicos Gilson Peranzzetta (piano) e Mauro Senise (sax) surgem como os convidados especiais em “Plenilúneo”.  

Já no CD “Johnny Alf por Seus Amigos”, os seus maiores clássicos são revisitados por artistas que com ele possuem afinidade musical. Composto por dezesseis faixas, o álbum alia intérpretes do primeiro time da nossa MPB, a exemplo de Leila Pinheiro, Emílio Santiago e Zé Renato (em “Eu e a Brisa”, “Nós” e “Céu e Mar”, respectivamente) a outros que já tiveram fases mais gloriosas, mas que continuam na ativa, como é o caso de Claudette Soares (“Gesto Final”), Maricenne Costa (“Quem Te Ama Sou Eu”) e Claudya (“Com Voz de Plenitude”). Como é normal acontecer em trabalhos desse tipo, uns se saem melhor que outros, mas no geral o resultado é positivo. Alguns dos destaques são as faixas “Fim de Semana em Eldorado” (com Joyce), “Ensaio para a Ilusão” (com Áurea Martins) e “Rapaz de Bem” (com Toquinho). Completam o time Leny Andrade, Wanderléa, Claudia Telles, Adyel Silva, Thomas Roth, Celso Lago, Filó Machado e Cibele Codonho.

O pacote se completa com o CD “Johnny Alf ao Vivo e à Vontade com Seus Convidados”, o qual traz quatorze gravações ao vivo do próprio Johnny, além de alguns duetos dele com Cauby Peixoto, Cida Moreira, Ed Motta e a já citada Leny Andrade. De maneira coloquial, ele também canta sucessos alheios como “A Noite do Meu Bem” (de Dolores Duran), “Palpite Infeliz” (de Noel Rosa), “Neu Eu” (de Dorival Caymmi) e “Corcovado” (de Tom Jobim). Mister se faz ressaltar que esse precioso acervo estava em mãos de Nelson Valencia, empresário do artista nos últimos vinte anos de sua carreira.

Em clima de confraternização e amor, a obra de Johnny Alf termina por ganhar novas tintas, cabendo, agora, às novas gerações conhecê-la e perpetuá-la. Legal à beça!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Nos dias atuais, em que a indústria fonográfica passa pela maior crise de sua história, é sempre uma grata surpresa constatar que ainda há gente que acredita na MPB de qualidade. É o caso do DJ Zé Pedro que fundou recentemente a gravadora Joia Moderna, a qual chega ao mercado nacional trazendo, de início, um lote de quatro bons lançamentos. Um deles é “A Voz da Mulher na Obra de Taiguara”. Produzido também por Thiago Marques Luiz, o álbum é composto por quatorze faixas interpretadas por cantoras de gerações distintas e tem como objetivo homenagear o compositor Taiguara, falecido há quinze anos, artista que enfileirou grandes sucessos nas décadas de sessenta e setenta. Suas criações geralmente grandiloqüentes ganharam agora tratamento sonoro acústico, o que terminou por revelar novas e bem-vindas nuanças. Há momentos realmente impagáveis, como o da cantora Célia na faixa “Mudou” e o de Claudette Soares (frise-se: a principal intérprete de Taiguara) em “Romina e Juliano”. Outros destaques ficam por conta de Luciana Mello (em “Teu Sonho Não Acabou”), Fafá de Belém (em “Universo No Teu Corpo”) e Fernanda Porto (em “Hoje”). Vale a pena conhecer!

 

· O cantor carioca Luiz Ferrar está lançando um novo e belíssimo CD. Intitulado “A Serpente e o Encantador”, o trabalho foi produzido por Raul Rachid e é composto por dezessete faixas nas quais o artista comprova o seu inato talento de grande intérprete. Com voz afinada e de grande extensão cujo timbre lembra o de Ney Matogrosso, Ferrar reúne, no eclético repertório, canções de Fred Martins, Mongol, Altay Veloso, J. Miranda, Djavan, Caetano Veloso, Kleber Albuquerque e Raul Seixas. Os melhores momentos ficam por conta de “Iguais e Diferentes”, “Engraçado Amor”, “Milagreiro”, “Ai” e “L’Hymme À L’amour”.

 

· Maíra Freitas, outra das filhas de Martinho da Vila, se prepara para lançar, ainda neste semestre, o seu primeiro CD que terá a produção assinada pela maninha mais famosa, Mart’nália.

 

· Depois de afirmar, há alguns anos, que pararia de cantar, a grande atriz Bibi Ferreira parece ter voltado atrás no seu intento. Tanto que acaba de lançar, através da gravadora Biscoito Fino, o CD intitulado “Brasileira – Uma Suíte Amorosa”. Trata-se de uma colagem de diversas canções de que Bibi sempre gostou, enfileiradas sem espaço entre elas e com reiteradas citações instrumentais de “Eu Sei Que Vou Te Amar” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), a qual também se faz presente em versão cantada. Apesar do peso natural da idade, Bibi ainda possui uma voz límpida e afinada, motivo principal para se conhecer esse seu novo trabalho. O piano (fio condutor do roteiro), a cargo de Francis Hime, permeia todo o álbum que se permite, em raras passagens (todas elas sempre bastante oportunas), as intervenções de outros poucos instrumentos: violão/guitarra (Flávio Mendes), baixo (Ney Conceição), bateria (Diego Zangado) e flauta/clarinete/sax (Dirceu Leite). O repertório é prioritariamente composto por clássicos do nosso cancioneiro, a exemplo de “Esse Cara” (de Caetano Veloso), “Olha” (de Roberto e Erasmo Carlos), “Pra Você” (de Silvio César) e “Onde Anda Você” (de Toquinho, Vinicius de Moraes e Hermano Silva), o que termina cansando um pouco o ouvinte mais exigente, posto que músicas como as citadas, já regravadas à exaustão, apresentam em geral quase nada a serem acrescentadas. Quando mergulha, no entanto, em temas mais recentes, Bibi se comprova sua incrível versatilidade, conforme se constata através de suas interpretações modernas para “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” (de Frejat e Cazuza) e “Vambora” (de Adriana Calcanhotto). Outros bons momentos ficam por conta das menos conhecidas “Meiga Presença” (de Paulo Valdez e Otávio de Moraes) e “Serenata de uma Mulher” (de Chiquinha Gonzaga e Paulo César Pinheiro). 

 

· “Sweet Face of Love – Jane Duboc Sings Jay Vaquer” é o título do novo CD da cantora Jane Duboc no qual ela canta músicas de seu filho, Jay Vaquer, em versões em inglês escritas por Jeff Gardner. Há as participações especiais de Milton Nascimento (em “Someone to Take your Place”), Pedro Mariano (em “Fire and Ice”), Isabella Taviani (em “Follow Our Tomorrow”), Jorge Vercillo (em “In the City of the Heart”) e do compositor, produtor e músico norte-americano Rob Mounsey (piano na balada “I”m Missing When I Missed You”), além – é claro – do próprio Jay em “Sweet Face of  Love”, faixa que conta também com a guitarra de Toninho Horta.

 

· Lobão está lançando, através da Sony Music, um box contendo três CD’s e um DVD, este o registro feito para o especial que foi veiculado no projeto Acústico MTV. Os discos são compilações de gravações feitas pelo artista no período de 1981 a 1991 e foram remasterizados pelo produtor e engenheiro de som Roy Cicala. Estão lá bons e conhecidíssimos temas como “Me Chama”, “Corações Psicodélicos”, “Revanche”, “Noite e Dia”, “Chorando no Campo”, “Panamericana”, “Tudo Veludo” e “Mal Nenhum”, entre vários outros. Em tempo: Lobão disponibilizou recentemente na internet duas canções inéditas: “Song for Sampa” eDas Tripas, Coração”.

 

· No mês de abril estará chegando ao mercado “O Micróbio do Samba”, novo CD de Adriana Calcanhotto. O álbum trará um repertório prioritariamente inédito e, como o próprio título já entrega, mostrará o mergulho da cantora no universo do mais genuíno dos gêneros musicais brasileiros. É esperar para ouvir!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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