Musiqualidade

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R E S E N H A

 

Cantor: CAETANO VELOSO

CD: “ZII E ZIE – MTV AO VIVO”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Um dos maiores nomes da história da música popular brasileira, o baiano Caetano Veloso sentiu-se apaixonado pela música quando ouviu a “batida diferente” do violão de João Gilberto na década de sessenta. Mesmo antes de acompanhar a viagem da irmã Maria Bethânia, em 1965, ao Rio de Janeiro onde ela participou do espetáculo “Opinião”, Caetano, ao lado de Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé, já se apresentava em shows em Salvador. Vieram, em seguida, várias participações em festivais de música e a pronta adesão, como uma das cabeças pensantes, ao chamado movimento Tropicalista. De 1969 a 1972 ele terminou por se exilar em Londres com receio de retaliações devido a suas posturas vanguardistas: é que o Brasil mergulhara em plena ditadura militar. Foi após o seu retorno que ele viu, de fato, sua carreira ser sedimentada. Compositor criativo, Caetano colecionou, ao longo dos anos, incontáveis sucessos, a exemplo de “Tigresa”, “Sampa”, “Podres Poderes”, “Baby” e “Queixa”, os quais já fazem parte do inconsciente coletivo nacional.

Artista que nunca se acomodou com os louros proporcionados pela fama, ele sabe se auto-promover como poucos. Frequentemente emite comentários contundentes que se transformam em burburinhos difundidos à exaustão pela mídia. Inato formador de opinião, vez por outra “apadrinha” algum novo talento, credenciando-o com efusivos elogios. O fato é que, com suas atitudes muitas vezes polêmicas, ele se mantém em evidência, ainda que, nos últimos anos, sua obra musical não venha mostrando o vigor de tempos pretéritos. Seu último CD de estúdio, “Zii e Zie”, lançado em 2009, foi um dos mais fracos de toda a sua vasta discografia, não obstante ter sido gravado com os músicos Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria) que o acompanham desde o álbum anterior, o mediano “Cê”, de 2006.

Mas este ano em especial promete ser um período em que Caetano deverá trabalhar bastante. Enquanto já viaja pelo Brasil em oportuna turnê ao lado de Maria Gadú, apresentando show que reúne no roteiro alguns de seus maiores sucessos, ele divide com o filho Moreno e com Kassin a produção do novo álbum de Gal Costa, a ser brevemente lançado (o qual contará com uma dúzia de canções inéditas de sua autoria), e começa a formatar o seu próprio próximo trabalho.

É nesse atual momento de intensa movimentação que a gravadora Universal faz chegar ao mercado, nos formatos CD, DVD simples e DVD duplo, “Zii e Zie – MTV ao Vivo”, registro de apresentações realizadas por Caetano em outubro do ano passado na casa de espetáculos Vivo Rio, no Rio de Janeiro. Trata-se de um show que vem sendo maturado há algum tempo e que traz uma sonoridade seca e roqueira onde se destaca, em vários momentos, a guitarra potente do já citado Pedro Sá. Ao buscar músicos jovens para o acompanhar, Caetano tenciona encontrar uma linguagem moderna para a sua música. Antenado, ele sabe que um artista, além de manter o seu público fiel, também necessita conquistar novas fatias de mercado compostas pelas gerações recentes.

O CD traz um repertório composto por dezessete faixas. Sete delas são pinçadas do anterior CD homônimo de estúdio e delas se destacam com um certo esforço “Lapa” “Perdeu” e “A Cor Amarela”. O compositor Caetano realmente inspirado se faz presente é com as poderosas releituras de dois grandes clássicos do seu cancioneiro: “Não Identificado” (em arranjo avassalador) e “Força Estranha” (acompanhada em coro pela plateia). Há ainda os bem-vindos resgates de “Irene”, “Maria Bethânia” e “Eu Sou Neguinha?” e as redescobertas de “A Voz do Morto”, “Trem das Cores” e “Aquele Frevo Axé” (esta uma parceria com Cézar Mendes, gravada originalmente por Gal em seu disco lançado em 1998). Da lavra alheia, Caetano pinça “Água”, bom tema de Kassin, e “Volver”, conhecido tango de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera. Já o cantor Caetano – é bom que se frise – continua em ótima forma vocal, inclusive no que tange ao uso dos característicos falsetes.

O DVD simples aparece com seis faixas adicionais, inclusive “Manjar de Reis” que conta com a participação de Jorge Mautner, e o DVD duplo traz, no segundo volume, nove números que foram colhidos durante apresentações da série intitulada “Obra em Progresso”, a qual foi o ponto de partida para o projeto ora em tela.

Para os milhares de admiradores do artista, esse trabalho tem cara de um encerrar de ciclo. Decerto outros mais inspirados estão por vir. Caetano tem ainda muito a contribuir com a nossa música popular brasileira: tão guerreiro e incansável quanto único, é só aguardar para ver e ouvir!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Cantora pouco conhecida pelo público em geral, vez que tinha lançado, até então, apenas dois discos (“Porte de Rainha”, em 1973, e “Coragem”, em 1980), a cantora Silvia Maria acaba de ser redescoberta pelo DJ Zé Pedro e faz chegar ao mercado, através da gravadora Joia Moderna, o CD intitulado “Ave Rara”. Produzido por Thiago Marques Luiz e inteiramente concretizado em apenas seis sessões de estúdio, o álbum resgata uma grande artista. Dona de voz segura e afinada, de timbre bonito e bem colocado (que, em algumas passagens – como em, por exemplo, “Me Dá a Penúltima”, de João Bosco e Aldir Blanc, e “Voltei”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro – chega a lembrar o de Elis Regina), Silvia selecionou um repertório de qualidade, embora algumas das canções soem complexas em demasia para atingir o ouvinte médio. Entre temas assinados por gente do porte de Milton Nascimento, Raphael Rabello e Eduardo Gudin, os melhores momentos ficam por conta das releituras de “Minha Embaixada Chegou” (de Assis Valente), “Refém da Solidão” (outra de Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e “Valsa Sem Nome” (mais uma de Baden, desta feita em parceria com Vinicius de Moraes). Outro inegável destaque é a faixa-título, primorosa criação de Edu Lobo e Aldir Blanc.

 

· O próximo CD de Sérgio Mendes contará com a participação especial de Ivete Sangalo na faixa “Chove Chuva”, grande sucesso da fase inicial da carreira de Jorge Ben Jor.

 

· O CD “Religar” de Leo Cavalcanti, mais uma produção independente fecundada em São Paulo, mostra que o cantor e compositor é um dos nomes que, doravante, merece atenção. Uma boa promessa que já começa a se transformar em realidade, Léo se mostra um letrista com boas ideias e um produtor que se esmera em trabalhar os detalhes. Composto por quatorze canções autorais (Léo assina sozinho a grande maioria; somente “Chuvarada” é uma parceria dele com Tatá Aeroplano), o álbum traz uma sonoridade atual e conta com a participação especial da emergente Tulipa Ruiz no bonitinho pseudo-reggae “Sem (Des)esperar”. Outros destaques ficam por conta das faixas “Ouvidos ao Mistério”, “Frenesi de Otário” e “A Tal da Paciência”.

 

· Para os fãs de Tim Maia, não poderia ser melhor a surpresa que a gravadora Universal preparou. É que foi posta recentemente nas lojas um box contendo oito dos melhores discos do Síndico e mais um DVD contendo o registro ao vivo de show gravado para a TV Globo em 1989. Para as novas gerações, vale a pena conhecer os trabalhos de Tim, principalmente os do início de sua carreira…

 

· Leila Pinheiro já possui inteiramente pronto, para lançamento (de início) somente no exterior, um novo CD, o qual foi gravado com o violonista Nelson Faria. Certamente será mais um título elegante na sua bela discografia.

 

· Djavan vai registrar em áudio e vídeo o show que vem percorrendo o Brasil e que alia o repertório de seu mais recente álbum (“Ária”) a várias canções de sua autoria que se transformaram em grandes sucessos. Chegará às lojas, nos formatos CD e DVD, ainda este ano.

 

· Glaucia Nahsser lançou há pouco tempo, de maneira independente, o seu quarto e melhor CD. Intitulado “Vambora”, o álbum foi produzido por Marcio Nigro e é composto por uma dúzia de canções. Delas, apenas duas são regravações (“Pensando em Você”, de Moska, e “Mais uma Vez”, de Renato Russo e Flávio Venturini). As demais surgem inéditas e são produtos de parcerias da artista (ao lado de Tiago Vianna) com diversos nomes da nossa MPB, tais como Chico César (a faixa-título), André Abujamra (“Quem Falou?”) e Magno Mello (“Leleô”). A faixa mais bonita do trabalho é incontestavelmente o samba “Malandra” (criado com a colaboração de Edu Krieger, presente como convidado especial em uma das duas versões apresentadas), mas há outros momentos bem legais a exemplo de “Canto, Logo Existo” (feita com Carlos Rennó, valorizada pelo inspirado arranjo), “Olhar de Prata” (composta com Chico Amaral) e “O Começo do Infinito” (desenvolvida com a ajuda de Carlos Careqa). Se é fato que Glaucia não possui um timbre peculiar que empolgue o ouvinte de forma avassaladora, também o é que se trata de uma intérprete correta e afinada. Vale a pena conhecer!

 

· Em breve estará chegando às lojas o novo CD do sambista Arlindo Cruz. O repertório do álbum (que se intitulará “Batuques e Romances”) conterá prioritariamente canções inéditas, mas o artista reservou espaço também para algumas regravações.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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