Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: NINAH JO
CD: “CAMINHOS DE MIM”
Selo: MILLS RECORDS

Paranaense, a cantora e compositora Ninah Jo teve a sorte de ser apadrinhada, em 2010, por Jorge Vercillo quando este a convidou para dividir os vocais da faixa “Memória do Prazer”, incluída em seu álbum intitulado “D.N.A.”. Foi o empurrão necessário para que ela, já com anos de estrada, maturasse a ideia de gravar o seu primeiro CD, o qual, enfim, chega às lojas através do selo carioca Mills Records. Trata-se de “Caminhos de Mim” (também o título da balada de Dudu Falcão presente no repertório), o qual conta com os arranjos e a direção musical a cargo do violonista Pedro Braga, fazendo-se composto por quatorze faixas, entre temas inéditos e regravações.
Chama a atenção, logo de cara, a beleza da voz da artista. Grave, encorpada e afinada ao extremo, seu timbre límpido soa como um presente divino. Dona de grande extensão e com projeção perfeita, ela integra a  escola de onde fazem parte, por exemplo, Leila Pinheiro, Clara Nunes e Leny Andrade. Como compositora, Ninah apresenta três ótimas canções, todas em parceria com Paulo César Feital. E se mostra bastante inspirada, tanto que uma delas, “Dolores Sin Soledad” (que traz a participação especial do já citado Vercillo), se consubstancia como um dos grandes destaques do repertório (as outras são “Como Sonhar-te” e “Meu Cordel”).
A ficha técnica do disco alberga grandes instrumentistas, o que faz com que os arranjos muito bem costurados se transformem em um dos pontos altos. Estão lá, entre outros, Wagner Tiso (piano), Jaques Morelenbaum (cello), Marco Lobo (percussão), Cláudio Infante (bateria), Marcelo Caldi (acordeão) e Marcelo Martins (sax).
Ousada, Ninah junta em medley duas complexas criações resultantes da parceria de Milton Nascimento com Márcio Borges (“Vera Cruz” e “O que Foi Feito de Vera”) e o faz com propriedade ímpar. Outras releituras, as de “Cabaré” (de João Bosco e Aldir Blanc) e “Leopardo” (de Vital Lima), cujos registros anterior e respectivamente feitos por Elis Regina e Marisa Gata Mansa se tornaram antológicos, terminam por ratificar a grande intérprete que Ninah é.
E se o padrinho Vercillo contribui com duas ótimas criações menos conhecidas (“Mãe de Menina”, composta com Fátima Guedes, e “Olhos de Nunca Mais”, feita com Bráulio Tavares), a cantora também termina abrindo espaço para rever dois grandes sucessos do nosso cancioneiro: “Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua” (de Sérgio Sampaio) e “Amanhã” (de Guilherme Arantes).
Marcante e intensa, Ninah Jo estreia em grande estilo e faz, desde já, com que o seu CD inaugural se consolide como um dos grandes lançamentos deste ano. Corra, ouça, confira e divulgue!

N O V I D A D E S

* O cantor e compositor Róger Kbelera é natural da nossa querida Aracaju (SE), mas em 1996 se mudou para São Paulo, iniciando sua carreira musical em bares do Largo da Matriz. O desejo antigo de eternizar suas canções terminou se concretizando com a gravação de “Nordestinaracajuano!”, o CD independente que chegou ao mercado recentemente. Produzido pela dupla Chiko Queiroga e Antônio Rogério, o álbum é composto por quatorze faixas autorais e inéditas e conta com apresentação escrita pelo grande Jarbas Mariz. Cantor de tessitura vocal agradável, Róger se mostra um compositor bem inspirado que sabe dizer o que quer de forma direta e inteligente. Ele homenageia Luiz Gonzaga através de duas músicas (“Chapéu de Couro” e “Ao Rei do Baião”, esta contando com a participação especial do já citado Queiroga) e desfia pertinentes críticas ao preconceito racial (em “Filhos de Faeton”) e à perpetuação do poder (em “Capitania Hereditária”). Mas os melhores momentos desse bem-vindo lançamento ficam por conta do pseudo repente “Perguntas e Respostas”, do pop-samba “Náufrago em Terra Firme”, do reggae “Shopping Não Sente” e do forró “O de Baixo É Meu”. Um disco que revela um talentoso artista sergipano que merece ser conhecido e valorizado!

* Sob a produção de Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, Danilo Caymmi encontra-se em estúdio carioca gravando as canções que farão parte de seu novo CD que chegará às lojas em breve. Será mais um tributo do cantor e compositor carioca ao seu pai, Dorival Caymmi, devido ao centenário de nascimento deste.

* Para quem é fã de Gilberto Gil, principalmente de suas criações nascidas nas décadas de setenta e oitenta do século passado, uma ótima pedida é o CD “Cada Tempo em seu Lugar”. Trata-se de um trabalho eminentemente acústico, selando o oportuno encontro da voz aguda, bonita e afinada da cantora Cacala Carvalho com o piano bem formatado de João Braga. São doze faixas, onze assinadas por Gil, e a derradeira (a única inédita, o samba “Brasil do Gil”) composta por Heraldo Amaral em homenagem ao artista baiano. Entre os melhores momentos do repertório escolhido (que, aliás, muito inteligentemente, foge de escolhas óbvias) estão as interessantes releituras feitas para “Expresso 2222”, “Funk-se Quem Puder”, “Olho Mágico” e “Babá Alapalá”. Em três raros momentos, surgem, em participações especiais, Arthur Maia (no baixo), Alain Pierre (ao violão) e Fernando Caneca (na guitarra). Muito legal!

* Lira (o ex-vocalista do Cordel do Fogo Encantado) já se encontra em fase de produção de seu segundo CD individual, o qual está sendo produzido por ele próprio ao lado de Pupillo.

* Martinho da Vila resolveu resgatar algumas músicas que compôs e que, de alguma maneira, terminaram se perdendo ao longo dos anos. Entre sambas de terreiro e de enredo, ele optou pelos segundos para, em número de vinte e quatro, construir o repertório do CD intitulado “Enredo”, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino. Reunidos em quatorze faixas, os sambas receberam interessantes revestimos sonoros com arranjos assinados por Leonardo Bruno, Rildo Hora, Ivan Paulo, Wanderson Martins e Maíra Freitas, esta uma das filhas de Martinho. Aliás, a prole do artista está lá em peso, pois o álbum conta também com as participações dos rebentos Mart’nália, Analimar, Martinho Tonho, Tunico da Vila e Jujuh Ferreira, além das presenças afetuosas das amigas Alcione e Beth Carvalho. Entre homenagens a grandes vultos brasileiros tais como Carlos Gomes, Noel Rosa, Machado de Assis, Almirante Tamandaré e Rui Barbosa, Martinho reverencia sua escola de samba do coração, a Vila Isabel, em vários momentos. Há canções pouco conhecidas, músicas inéditas e temas que se transformaram em grandes sucessos, a exemplo de “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade”, “Sonho de um Sonho” e “Iaiá do Cais Dourado”.

* Acabou de chegar às lojas o sétimo CD de Vanessa da Mata que recebeu o título de “Segue o Som”. Produzido a quatro mãos por Kassin e Liminha, o disco conta com treze músicas, a maioria de cunho autoral e inédito, embora haja a regravação do grande hit “Sunshine on my Shoulders”, originalmente lançado por John Denver. Enquanto isso, Maria Rita põe as canções de seu novo álbum, “Coração a Batucar”, à venda no iTunes enquanto o mesmo não é lançado no formato físico, o que está previsto para os próximos dias. Mas somente digitalmente os fãs poderão adquirir duas faixas-bônus: as regravações de “Comportamento Geral” e “Um Sorriso nos Lábios”, ambas de Gonzaguinha.

* A cantora Tetê Espíndola está lançando pelo Selo Sesc o seu mais novo projeto musical. Trata-se de uma edição dupla que inclui os títulos “Asas do Etéreo” (CD inédito) e “Pássaros na Garganta” (reedição do álbum originalmente lançado em 1982). Também compositora e exímia instrumentista (ela arrasa na craviola, instrumento de doze cordas que funde o cravo com a viola caipira), a artista assina canções ao lado de Luhli (“Aos Elementais”), Marta Catunda (“Passarinhão”) e Bené Fontelles (“Canção”). Além da presença afetiva do filho Dani Black em “Trigo do Amor”, há as participações especiais de Hermeto Pascoal (escaleta em “Crisálida-Borboleta”), Egberto Gismonti (piano em “Acácias”), Bocato (trombone em “Amarelando”) e Marcelo Pretto (percussão corporal em “Canções como Triste Acauã”). Imperdível!

* A trilha sonora de “Meu Pedacinho de Chão”, a nova telenovela global que estreia hoje às dezoito horas, foi pensada para transpor para a música todo o lirismo que a trama propõe. O maestro, compositor e arranjador Tim Rescala compôs várias músicas inéditas, as quais foram gravadas pela Orquestra Sinfônica Heliópolis e pelo Coral da Gente, e também criou novos arranjos para canções populares bastante conhecidas.

* Com apenas dezoito anos, a cantora e compositora Bruna Moraes acabou de lançar o seu primeiro CD. Trata-se de “Olho de Dentro”, um álbum que chega ao mercado através da gravadora Kuarup. Com a produção e direção musical a cargo de Pedro Baldanza (experiente contrabaixista que já tocou com grandes artistas da MPB como Elis Regina, Ney Matogrosso, Zizi Possi e Sá & Guarabyra), o disco é composto por onze faixas, sete delas de autoria da própria Bruna que se mostra uma intérprete bastante segura. Dona de voz límpida, de considerável extensão, emoldurada por um timbre belo e agudo, ela só precisa se preocupar em não cair na tentação de clonar cantoras com quem se identifica. Se na faixa de abertura, a anordestinada “Zóio de Foia”, ela demonstra digital própria, já na seguinte, a bonita “Iansã”, fica nítida a influência que Maria Rita exerce sobre ela, percepção reiterada também em “Na Vazante” e “Alguém Dirá” (de Pedro Altério e Pedro Viáfora). Ecos que reverberam também de Rosa Passos, como se percebe em “Bem Verde” e “Chorei num Samba”. Vencidos esses pecadilhos, a garota bonita de olhos claros deverá ir longe porque, de fato, se mostra acima de tantas cantantes alternativas que ora pululam por aí aos borbotões. Quando mergulha em universo alheio, ela igualmente se apresenta bastante interessante, conforme se observa na ótima regravação de “Sem Fantasia” (de Chico Buarque) em que conta com a participação especial de Lenine Guarani. Algumas das faixas que merecem ser destacadas são a autoral “Muito Mais”, “Bolinha de Papel” (de Geraldo Pereira) e “Levante do Borel” (tema inédito de Taiguara). Uma estreia muito legal de um nome que deve ser observado com atenção!

* Equivocadamente, na semana passada foi aqui informado que o quadro MUSIQUALIDADE, veiculado até agora todas as sextas-feiras, às 10 horas, através da Aperipê FM, passaria para as quintas-feiras. Favor desconsiderar! Na verdade, o quadro que continua a ser semanal passará, a partir da próxima semana, a ser transmitido às segundas-feiras no mesmo horário. Então, é só ficar ligado: dia 14 de abril, vamos sintonizar na 104,9 e conferir as novidades musicais sonoras!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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