NATIVIDADE – MMIV Anno Domini

Aproximar-se da perfeição tem sido uma das grandes metas da humanidade, independentemente da concepção política-religiosa a que se vincula o pretendente. É claro que não se está falando da obstinação doentia pela perfeição, até porque o narcisismo tem um potencial destrutivo impressionante, chegando à loucura da prática de genocídio em nome da pureza da raça. A perfeição aqui mencionada é aquela que função motora, que, além de motivar o surgimento do novo, contribui para aperfeiçoar o que já existe de beleza na terra.

 

Não se tem dúvida, também, que o ato de fazer nascer a vida é de uma perfeição ímpar, até porque aproxima divinamente o criador da própria criatura. É como se surgisse do nada a criação mais divina da arte humana, a obra-prima que somente encontra espelho nas esculturas vivas cunhadas por Deus. E em termos de esculturas vivas o artista-homem tem vários modelos a inspirar, desde a perfeição pacifista de Gandhi, passando pela felicidade estampada no rosto do Dalai Lama, ancorando-se na misericórdia de Tereza de Calcutá ou mesmo na inquietante rebeldia de Bakunin.

 

O mês de dezembro traz um sabor especial para o mundo da perfeição, certamente porque une a humana arte do fazer-nascer com o nascer do modelo apontado como divino. O mês de dezembro é o próprio mês dedicado à natividade, ao nascimento do modelo simultaneamente criador e criatura da mesma obra. O mês de dezembro, como nenhum outro, é o mais perfeito para que a humanidade se inspire na escultura-viva chamada Jesus Cristo.

 

E não poderia ser outro o mês escolhido pelo Espaço Cultural Semear-Petrobras para instalar e brindar a arte do fazer-nascer, ainda mais com uma exposição que leva o bem bolado nome “Natividade, MMIV Anno Domini”. Não foi sem razão, portanto, que a exposição contou a imediata parceria do Banco do Brasil e da Fanese, além do apoio cultural da Livraria Nobel, pois nascer através da arte é também uma forma divina de retratar o belo. O belo que será exposto a partir do dia 15 de dezembro, com a abertura da exposição às dezenove horas, fazendo nascer novas inspirações, criações e interpretações até o dia 30 de janeiro de 2005.

 

É o convite público para que se contemple a perfeição do fazer nascer através da arte, sentindo que a vida pode também ser gerada através da pintura, da fotografia, das esculturas e das instalações que desafiam e criam novos paradigmas para a humanidade. É o chamamento para compreender a vida que nasce nas telas coloridas por Adauto Machado, Cláudio Vieira, Deny, Elias Santos, Hortência Barreto, Ismael Pereira, Joel Dantas, Karine Santiago, Márcia Guimarães, Marcos Vieira, Melcíades, Silvino e  Leonardo Alencar. É a rara oportunidade de admirar a coerência artística de Eurico Luiz, o poeta do pincel que escolheu, com perfeição, o dia 8 de dezembro para conhecer pessoalmente Nossa Senhora da Conceição, a musa que inspirou e fez nascer vários dos seus mágicos trabalhos.

 

Também é um grande momento para  descobrir, ingressando no olhar de Lineu, que fotografar a vida é uma forma divina de conceder-lhe a imortalidade. A eternidade que Willy, Zeus e Joubert Moraes cuidaram de esculpir, para deleite de Alan Adi  e Fábio Sampaio com suas instalações que desafiam a monotonia daqueles que abdicaram da criação. É fazer o que fez Walter Chou, curador da Exposição, quando ensinou que “enquanto tema para o exercício da arte, Natividade é terreno fértil à criatividade destes exímios técnicos que, através da sua compreensão sobre o cotidiano, criam novas imagens e ampliam o repertório sobre o tema, tornando-se, assim, um álbum de imagens prenhes de contestação, adoração, indignação, amor, dor e alegrias”.

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