“Negação”: o combate ao negacionismo e a busca pela verdade

Liliane Costa Andrade

Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal de Sergipe (GET/UFS/CNPq)

Orientador: Dr. Dilton C. S. Maynard (DHI/ProfHistória/UFS – PPGHC/UFRJ)

Cartaz de divulgação do filme “Negação”. Fonte: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-237492/. Acesso em 22/02/2022.

 

Negação (Denial) é um filme norte-americano e britânico, de 2016, dirigido por Mick Jackson, com duração de 1h50min. Baseado em fatos reais, o longa-metragem retrata a batalha judicial movida pelo inglês David Irving (Timothy Spall), um escritor e negacionista do Holocausto cometido aos judeus pela Alemanha nazista, contra a norte-americana Deborah Lipstadt (Rachel Weisz), uma escritora e historiadora dedicada aos estudos sobre esse tema.

O processo iniciado por Irving na justiça inglesa foi motivado em decorrência das contestações e críticas que Lipstadt teceu às suas interpretações sobre o maior genocídio do século XX. Simpatizante do nazismo, em suas obras, o inglês contestava, em um claro movimento de deturpação das evidências históricas, as atrocidades sofridas pelos judeus durante o Terceiro Reich (1933-1945).

Além desses negacionistas argumentarem que não houve genocídio contra os judeus cometido pela Alemanha nazista, também afirmam que o gás Zyclon B era utilizado apenas para desinfectar os presos enfermos, e não para assassiná-los nas câmaras de gás; que essas câmaras de gás  não existiram nos campos de concentração nazistas; que a “Solução Final” foi uma tentativa de expulsar os judeus para o Leste Europeu, e não de exterminá-los; que as mortes dos adeptos do judaísmo durante a II Guerra Mundial (1939-1945) foram ocasionadas por questões naturais e pelos bombardeios Aliados; e, pasmem, que o número de judeus mortos naquele período não passaria de duzentas mil pessoas.

Todos esses argumentos foram e são, constantemente, contestados pelos historiadores, assim como a professora Lipstadt fez com David Irving. E isso se dá através dos vestígios documentais provenientes do passado, dos testemunhos das vítimas que vivenciaram aquele horror, como Primo Levi (Os afogados e os sobreviventes, 2016), empregando métodos científicos e, como nos lembra François Bédarida, numa busca incessante pela verdade; mesmo sabendo que nunca a dominará, o historiador se esforça para se aproximar dela.

A busca por essa verdade deve ser a regra de ouro de todo historiador sério. Movidos por um compromisso ético e conscientes da função social que sua profissão possui, diversos estudiosos do Holocausto e do Terceiro Reich, a exemplo de Richard Evans – que participou da batalha judicial testemunhando a favor de Lipstadt –, desmentem os argumentos dos negacionistas.

Não foram apenas duzentas mil pessoas mortas por causas naturais e devido aos bombardeios aliados. Foram cerca de seis milhões de pessoas assassinadas de forma fria e cruel. Fuziladas, sufocadas nas câmaras de gás, desnutridas. Foram milhões de vítimas de um regime intolerante, tirano e desumano, que ainda encontra em pessoas como David Irving, fiéis defensores. Felizmente, o negacionista perdeu a batalha contra a professora Lipstadt. Porém, só o fato desse lamentável episódio, que também foi retratado no livro Negação (2020), ter existido, já nos serve de alerta.

 

Para saber mais:

UNITED States Holocaust Memorial Museum. Combate à Negação do Holocausto: Origens do “Negacionismo”.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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