A recente licença do prefeito Marcelo Déda, agora para acompanhar o nascimento e os primeiros dias de vida do seu filho João Marcelo, é um bom exemplo de como se fazer a coisa certa. O gesto do prefeito de Aracaju, compartilhando com a sua companheira Eliana Aquino o prazer do nascimento de um filho, prestou um bom serviço à causa da cidadania, além da óbvia demonstração do amor que cabe ao pai no defensável latifúndio familiar. Com esta atitude, o alcaide demonstrou que compreendeu o único e correto sentido da licença paternidade, ainda equivocadamente apontada como um supérfluo direito destinado aos homens.
É que a licença paternidade, longe de simbolizar simples dias de folguedos e folgas, é um claro reconhecimento de que a tarefa de cuidar dos filhos é solidária e comum ao casal, e não um dever exclusivo e inerente à mulher. O direito à licença paternidade é, portanto, uma importante evolução social, pois não mais se admite transferir para a já sobrecarregada mulher as tarefas que são comuns à vida do casal, ainda mais quando recém saída do parto. A licença paternidade é o mesmo que dizer que ser pai é também tão importante quanto ser mãe, pois ambos são igualmente responsáveis pelo filho nascido.
Ir para a noitada, neste caso, é sinônimo de acalentar o sono do filho enquanto a mãe repousa exausta, impedindo que seja ela despertada pela corneta chorosa do novo general da casa. Dedicar-se à bebida é levar o esfomeado glutão para que solva o néctar que jorra da inesgotável fonte materna, esquecendo da sua própria sede de carinho. Cair na gandaia nada mais significa do que dormir com o rebento nos braços, sentindo o perfume que exala do seu pequeno corpo, não esmorecer quando despertado para uma nova folia, ainda que seja o trocar da fralda que teima em ficar suja nos horários mais inconvenientes possíveis.
Para que não paire dúvida no ar, é de se esclarecer que o término do prazo da licença paterna não quer dizer que chegou ao fim a responsabilidade paterna. Apenas significa que fora cumprida uma das etapas da vida compartilhada, pois outras surgirão exigindo até mais dedicação e cumplicidade. Falar, engatinhar, andar, crescer, aprender, brincar, jogar, namorar, reproduzir, dentre outros, são algumas das etapas que exigem a presença amiga de um pai, assim como é igualmente necessária a da mãe.
Aliás, é perceptível o aumento considerável do número de pais participando das atividades escolares de seus filhos, assim como triplicaram as cobranças dos próprios filhos para que não eles não faltem estes eventos. Também são muitos os pais que se tornam confidentes dos seus filhos, mostrando que a amizade é ingrediente necessário na relação pai/filho. Igualmente não é raro encontrar pais trocando experiências com outros pais sobre a educação de seus filhos, inclusive lendo livros especializados no assunto, que não coincidentemente batem recordes de leitura e vendas nas livrarias.
Aliás, quem vivenciou ou prestou atenção ao que aconteceu neste segundo domingo do mês agosto, convencionalmente dedicado aos pais, bem sabe o que estou a dizer. Em todo canto da cidade, na praia, nos restaurantes ou nos shoppings não era incomum presenciar um pai abraçado ao seu filho, olhando-se como somente olham as pessoas que sabem amar. Presentes até que eram dados e notados nos encontros, mais a presença do amor correspondido era muito mais visível.
A paternidade hoje não mais precisa pedir licença para ocupar o seu lugar de co-participe da criação, mesmo porque já não tem vergonha de externar publicamente o seu amor pelo filho. O pai durão, distante e exclusivamente provedor somente se mantém ativo porque o machismo, infelizmente, ainda teima em fixar moradia nas mentes de vários homens e mulheres. Mas tudo é questão de tempo e o tempo da criação exclusiva não tem o dom da eternidade.
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(*) Cezar Brito é advogado, conselheiro Federal da OAB e presidente da Sociedade Semear.
cezarbritto@infonet.com.br