Rock Fascista à Brasileira e o Ódio aos Nordestinos

Pedro Carvalho Oliveira
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe. Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS). Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard (DHI/UFS). E-mail: pedro@getempo.org.

Foi pela ajuda de transeuntes que estavam na praça Araribóia, próxima às estações das barcas em Niterói, no Rio de Janeiro, que um homem escapou de um grupo formado por sete skinheads neonazistas em 27 de abril de 2013. O que motivou a ira do bando teria sido o fato de que a vítima, Cirley Santos, de 33 anos, era um nordestino. O ódio a este grupo é algo proferido em muitos discursos que permeiam organizações neofascistas no Brasil desde o início dos anos 1980. No Sul e Sudeste do país, estas organizações buscam agredir verbal e fisicamente os nordestinos. A música vem sendo uma importante disseminadora destes discursos.

O White Rock, subgênero musical que ganha a preferência da maioria dos skinheads neonazistas brasileiros, enfatiza o ódio nutrido no passado pelos seguidores de Adolf Hitler e o trazem para o presente, acrescentando elementos próprios. A repulsa aos judeus, estrangeiros e homossexuais continua lá, além de críticas aos negros e outras etnias. Embora os “carecas” no Brasil costumem imitar uma subcultura européia, de origem inglesa, assumem o mesmo nacionalismo de seus inspiradores e pintam-no de verde e amarelo. Em alguns casos, a “nação” se converte em um estado ou em uma região. Assim sendo, aqueles que não fazem parte dela não são bem-vindos.

A música “Migração”, da banda paulista “Brigada NS”, presente no disco “O Retorno da Velha Ordem”, cuja capa é ilustrada por uma suástica, ilustra bem esta visão. Ao dizer que “Dia após dia/Migrando do nordeste/Centenas de imundos que são uma grande peste” são os responsáveis pela deterioração da história local e a poluição do estado, a banda, representando seu público, desumaniza os nordestinos a fim de tornar mais fácil o seu combate.

O advogado paranaense Gustavo Zanelli, residindo no Maranhão, declarou em setembro deste ano, numa rede social, que seria capaz de começar uma guerra para separar o Sul. Chamou os nordestinos de grosseiros e sugeriu, com um mapa, a proposta para realizar a separação. Embora não seja um skinhead, Zanelli partilha do discurso comum entre as bandas fascistas locais, onde a ideia de que ele é formado por indivíduos muito distintos, racial e culturalmente, de todos os outros do restante do país, é uma justificativa para a separação.

Embora não possamos garantir que o White Rock é o principal responsável por casos de agressão a nordestinos, sabemos que as canções legitimam esta violência, incentivam sua prática e associam-na às ideologias fascistas. Por este motivo, quando a agressão ocorre, ela reproduz o que é ouvido nas músicas, seja esta ou não a intenção. Para os fascistas brasileiros de hoje, o nordestino é o que Peter Gay chama de “o Outro conveniente”, alguém que é apontado como culpado por problemas que sequer causaram. Aparecem, portanto, como uma ameaça a ser combatida com violência.

Violência esta que, como ocorreu a Cirley Santos, ocorre frequentemente no Brasil. São reflexos do crescimento de um fenômeno cujas práticas de intolerância nos impedem de esquecer o passado, sendo necessário que nos voltemos sempre a ele para que crimes de ódio deste tipo não voltem a acontecer. Nosso presente não escapa dos fascismos que, metamorfoseados, buscando adaptar-se aos novos tempos, persistem. O White Rock é uma forma de pensarmos sobre ele.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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