Ao primeiro olhar, observei que a orla da cidade avista um espetáculo que chama atenção: as águas dos rios Tapajós e Amazonas não se misturam num show da natureza. Aos poucos desbravei Santarém, cidade situada no Oeste do Pará com pouco mais de 308 mil habitantes (IBGE 2021). Não poderia ser diferente, as atividades turísticas da cidade estão ligadas aos rios: gastronomia, passeios, economia e sua gente. Brisa tapajônica, calor do Equador, santareno hospitaleiro e cheio de históricas para contar. Assim a cidade se faz única e envolve em lendas, cheiros, sabores e cores de um pedacinho do Brasil que deixa o ar de querer voltar. Vamos conhecê-la?
A diferença de densidade, velocidade e temperatura das águas do Tapajós e do Amazonas são os itens responsáveis por provocarem o fenômeno natural visto em diversas partes da orla, mas é na Praça do Mirante que se ver de cima o traçado mais esverdeado do Tapajós e amarronzado do Amazonas.
A dica é descer os degraus do mirante e deparar-se com o pórtico “Eu Amo Santarém” e o famoso Muiraquitã, símbolo da cidade presente em toda as partes. Segundo a jornalista Sylvia Leite, no texto “Santarém: a terra do Muiraquitã”, a lenda gira em torno das mulheres de uma tribo exclusivamente feminina, denominadas Icamiabas, que realizavam anualmente, em noite de lua cheia, uma cerimônia sagrada para a deusa Yaci (mãe-lua) e durante o rito tinham relações sexuais com os homens da tribo Guacari, à beira do lago Yaci Uarua (Espelho da Lua). “Em seguida, entravam no lago e colhiam uma argila especial com a qual produziam amuletos para dar sorte e proteção aos seus parceiros. Os amuletos eram esverdeados, tinham forma de animais, especialmente o sapo, e chamavam-se Muiraquitãs”.
Após levar na bagagem o clique do portal, percorra a orla no sentido esquerdo do rio e chegue até o Terminal Turístico, onde no fim de tarde moradores e turistas se reúnem para se deliciar com o Tacacá, Vatapá ou a Maniçoba, típicos pratos paraenses, além de apreciar mais um espetáculo natural: o belo pôr do Sol sob as águas do Tapajós. E deixo aqui já uma dica: o nascer do Astro Rei é de igual magnitude que a despedida. É por esse espetáculo do sol espelhando sua luz no Tapajós que Santarém ficou conhecida como a Pérola do Norte.
E como o rio é um dos atrativos da cidade, mais adiante da orla fica a Praça da Matriz de Nossa Senhora da Conceição e, a sua frente, uma feira livre que durante a semana vende desde artesanatos às famosas redes, as quais são quase que sagradas por serem elas quem aliviam o sono do ribeirinho nas embarcações.
Rio como rodovia – Do outro lado da avenida Tapajós, na orla, a chamada Rampa da Matriz, um tipo de rodoviária da cidade, é o ponto nefrálgico da cidade, de onde se escoa a economia local, passa todos os dias sua gente, moradoras das ilhas.
É de impressionar o vai e vem de gente, coisas e atividades ao longo da rampa. De móveis que são carregados até as embarcações a pessoas que chegam com toda a família. Tem embarcações de todos os tipos, tamanhos, transformando os quatro principais rios de Santarém: Arapiuns, Juruena, Amazonas e Tapajós, em verdadeiras rodovias fluviais.
Perto dali fica o Mercado do Peixe, onde os pescadores, comerciantes, turistas e garças disputam o ambiente em uníssona convergência social. Aprecie também o Porto de Santarém, um dos principais entrepostos de escoamento de grãos do país, e os paneiros, cestos amazônicos expostos à frente do mercado.
Cansou? Que nada. O dia só está começando porque Santarém é uma festa ao anoitecer nos bons restaurantes e barzinhos da orla.
Rio Arapiuns – No segundo dia, a dica é escolher entre os vários passeios e conhecer um pouco mais da sua gente. Eu escolhi fazer um passeio que me levou à Comunidade Coroca, um vilarejo ribeirinho que sobrevive do turismo e da confecção das famosas cestarias da palha do tucumã, uma palmeira nativa através da qual se extrai os frutos para cosméticos.
A população gira em torno de 70 moradores que habitam Comunidade de Coroca, Vila Brasil, São Miguel, Tucumã e Vila do Oeste. Além das cestarias, eles detêm a sabedoria da criação de abelhas e extração do mel (meliponários) e e visitação de quelônios (tartarugas da Amazônia). Tudo isso em um ambiente cheio de história, árvores nativas, canto dos pássaros e uma deliciosa gastronomia a base de peixes como o Surubim, Pirarucu, Filhote, Tambaqui, entre outros.
O condutor da embarcação Gledson Oliveira conta que esse passeio é propício a quem gosta de conhecer as comunidades e ilhas mais naturais e privativas. São geralmente três paradas: Ponta do Icuxi, Ponta do Torono e praia da Ponta Grande, esta última mais procurada por sua beleza de águas mornas e transparentes. O passeio também pode ser feito ao gosto do turista, como por exemplo, parar em outras comunidades.
Gente do Arapiuns – Na Ponta Grande, bem devagar chega Dona Elenira remando um barco cheio de brasilidade. Aos poucos, ela dar boa tarde e coloca suas cestas fabricadas por suas mãos. Elenira não titubeia em contar que o ofício do artesanato ribeirinho foi aprendido por acaso, passado de gerações. A mãe dela morreu, a tia perdeu a visão, ela teve que aprender o ofício para sustentar a família e quem ganha também? Nós com um traçado impecável da palha do tucumã, colorida com corantes naturais
A noite chega, o passeio se despede com a tradicional Picaraia, um misto de tradição ancestral dos índios Borari com os costumes dos ribeirinhos paraenses. A fogueira é acessa à beira rio, a comunidade pesca o peixe ali mesmo cheio de fartura, e ao redor da fogueira, todos contemplam um céu estrelado comendo o peixe frito. A lenda do Boto vem em mente e nada melhor que finalizar o dia com um bom banho de rio sob o céu estralado deste paraíso de Brasil.
Na Bagagem
Os principais hotéis e hospedarias ficam no Centro da Cidade e há disponibilidade de estabelecimentos bem localizados ao custo de R$ 180 a R$300, a diária para o casal.
Não deixe de observar a rampa da Matriz e o vai e vem de gente e as atividades que dela são convergentes. Na praça da Matriz há uma feirinha e as protagonistas são as redes.
A orla da cidade fica repleta turistas a partir das 18h40, que lotam os bares para apreciar o pôr do sol. O nascer do sol sob o Tapajós acontece por volta das 6h. É um espetáculo
Há outras opções de passeios que acontecem partindo do porto turístico da cidade, como observação de aves e animais, observação do encontro dos rios, roteiro praia do Tapajós, roteiro do Jardins de Vitória Régia com degustação de comidinhas a partir delas e para Belterra e Alter do Chão, todos eles com apreciação do pôr do sol. Geralmente partem às 9h e só retornam às 19h e custam, em média, R$ 250, por pessoa, a combinar a parada de almoço.
A melhor temporada para conhecer as praias de agua doce do Pará é entre agosto e dezembro, considerado o verão amazônico e quando os rios estão na vazante.
Faz bastante calor na região e as temperaturas estão sempre altas, com pouca brisa. Beba bastante agua, use roupas leves e protetor solar sempre.
Não deixe de conhecer a Casa de Saulo, um misto de “beach club” amazônico com piscina, restaurante, acesso à praia e deck para a praia de Carapanari. Fica a cerca de 60km de Sanaterém no sentido Alter do Chão, na rodovia Interpraias, S/N – Km 4 Curuatatuba São Francisco do Carapanari, Santarém.
Consulte uma agência de viagens para saber sobre a realização da Piracaia. Algumas delas fazem bons eventos à beira rio, inclusive com música ao vivo e passeio noturno. No terminal turística há alguns opções.
Para se chegar a Santarém, as empresas aérea Azul e Gol disponibilizam voo no turno da tarde e noite, com duração de voo de cerca de 1h40.
Gastroterapia
O Pará tem desenvolvido uma rica gastronomia a base dos frutos, ervas e folhas da floresta amazônica que abraçam os peixes de água doce. Sem sombra de dúvida, o Tacacá, o Vatapá e a Maniçoba são encontrados em todos os restaurantes regionais e pontos turísticos. Você também vai encontrar o Arroz Paraense, Arroz de Pato, diversos pratos com jambu, uma folha de gosto ácido que adormece o paladar, além dos pratos à base do caldo tucupi, feito da mandioca.
Nos restaurantes de Santarém, há pratos que promovem releitura dos tradicionais, a exemplo de pastel de pato com jambu, bolinho de maniçoba, unha de caranguejo com jambu e tucupi, caldinho de tacaca, entre outros. Os restaurantes Piracema e Sobrado são boas referências na cidade.
*Dúvidas do roteiro enviar mensagem, entra no Instagram @silviotonomundo
Fotos: Silvio Oliveira
Leia também
Alter do Chão (PA), um destino chamado Amor
Soure (PA): a “cor local” da Ilha de Marajó