Soure (PA): a “cor local” da Ilha de Marajó

Praias onde seis meses recebem a influência das águas doces dos rios e seis meses das águas salgadas do Atlântico; fabrico de cerâmica marajoara com significados ancestrais; búfalos, além de histórias e ritos que envolvem “encantados”. Vamos conhecer Soure (PA): a “cor local” da Ilha de Marajó, no Norte do Pará? 

Praia do Pesqueiro, uma das atrações do Marajo a poucos 8km do centro de Soure

Pesquisar antes de ir é a palavra-chave para se conhecer a Ilha de Marajó. Aqui trago um pouquinho desse destino para facilitar a ida daqueles que também como eu sonham em pisar os pés na no Marajó, Norte do Pará. Mas já digo, pela tamanho da ilha e infinidade de pontos de interesses turísticos, dois dias são poucos para ter o contanto mais detalhado com a “*cor local”.

Primeiramente, temos que entender que o Arquipélago de Marajó é formado por mais de 2.500 ilhas, compreendendo os estados do Amapá e Pará. É a maior região banhada por águas fluviais e por águas oceânicas do mundo. A Ilha do Marajó é a maior ilha costeira do Brasil com mais de 533 mil habitantes distribuídos em 16 municípios.

Vista da orla de Soure ao chegar no atracadouro

Eu me hospedei em Soure, o maior cidade do Marajó, por isso considerada a Capital da Ilha, com pouco mais de 22mil habitantes. Banhada pelo rio Paracauari, um dos afluentes do Amazonas, a cidade divide com Salvaterra a melhor infraestrutura de base para se conhecer o Marajó.

Búfalos transitam pelas ruas da cidade

Ao desembarcar no terminal hidroviário da cidade vindo de Belém (ver como chegar nas dicas), logo avistei um búfalo solto em uma das praças da cidade. Vi que estava literalmente no Marajó.

Para se conhecer a região em pouco tempo, a primeira dica é escolher o que visitar: fazendas de criação de búfalos, leites e fabrico de queijos; ateliês de cerâmicas; praias de águas doces; vilas de pescadores e catadores de frutas nativas e ervas, entre outros. Preferi me ater às tradicionais cerâmicas e praias, mas pode conhecer mais? Sim, desde que tenha tempo e transporte, porque nem sempre os atrativos são pertos.

Na cidade

Centro de Soure com igreja, correto e prédio antigos

A orla de Soure mostra um pouco da beleza, bem arborizada. Lá se encontra restaurantes e hospedagens simples como é a vida do soreano. No centrinho da cidade, conheci um pouco do povoamento da região ao visitar a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, na Terceira Rua, e um coreto a sua frente com motivos marajoaras. Na praça em frente a igreja, fica o Mercado Municipal de Soure. No dia a dia, os pescadores tratam as iguarias que chegam dos rios ali mesmo. No mercado também pude conhecer frutas locais, a folha do jambu, alguns artesanatos e as garrafadas de tacacá.

Soreanos que fazem a cidade ter a “cor do Marajo”

Foi no mercado que também tive o meu primeiro contato com a “cor local”, quando encontrei o jovem Antônio Cláudio catando murici em plena praça. Lá também tomei um café da manhã ao sabor da tapioca com queijo marajoara e cuscuz de milho fresquinho na sombra de seculares mangueiras.

Cerâmicas marajoaras

Logo fui em busca dos ateliês de peças marajoaras e encontrei o Centro de Artesanato Marajoara na mesma rua do mercado municipal. Confesso que não era o que estava buscando. Percorri dois trechos no sentido esquerdo e me debrucei sobre o Ateliê M’Barayó. Carlos Amaral e Rosângela são os anfitriões do espaço.

Carlos Amaral faz o torno girar para a partir daí criar cerâmicas marajoaras

Ele se considera índio descendente da tribo Aruã (habitantes da região há mais de 3 mil anos), e logo tratou de explicar o processo de fabrico das réplicas marajoaras. Vasos, copos e amuletos, bandejas, mandalas, máscaras, entre outros itens, ricos em grafismos e simbologias ancestrais fazem da localidade quase que um território sagrado, em um espaço rústico, mas que traz a essência simples do povo marajoara.

Tingimento e grafismos
Ateliê M”Barayo

Valeu a pena a visitação. Com o pé, Carlos fez o torno movimentar e logo moldou uma Igaçaba (copo de água). O tingimento das peças é feito com coloração natural; o polimento, com dentes de peixe; além dos desenhos e códigos ancestrais que geralmente trazem animais cunhados na cerâmica com um ferrão de arraia. Foi ali que conheci um pouco mais do processo das cerâmicas marajoaras, hoje expostas em museus e que os artesãos fabricam réplicas enviadas para todo o mundo e compradas como relíquias.

Ronaldo Guedes
Arte com apuro de grafismos e formas

Um outro ateliê bem visitado que fica a 3km da cidade, mais próximo da praia de Barra Velha, é o Arte Mangue Marajó. Local de produção e comercialização da cerâmica com traços marajoaras e esculturas em madeira mais refinados, o ceramista Ronaldo Guedes possui a técnica ancestral e faz história também repassando para os mais jovens através de projetos sociais.

Um pedaço do litoral

Praia de Barra Grande e o bioma de mangue

Pertinho dali, através de uma estrada de piçarra que passa por fazendas particulares, conheci a Barra Grande, um pedaço do litoral marajoara que se estende por uma faixa de areia na maré baixa e que sofre influência fluvial e marítima. Chama atenção as altas árvores de bioma de mangue. Fiquei pouco tempo ali, mas o suficiente para deixar um gosto de querer voltar, porém estava à procura da famosa praia do Pesqueiro.

Vila do Pesqueiro e as tradiconais casas com piso alto

Chegar até ela é fácil, por estrada asfaltada. Passa-se pela Vila do Pesqueiro, um conglomerado de casas de madeira multicoloridas, estilo palafitas, famosas por abrigar uma população que encontrou na fitoterapia uma fonte de renda. Na Associação das Mulheres do Pesqueiro (Asmupesq), as moradoras comercializam medicamentos naturais, como óleo de Andiroba e vendem artesanato.

Praia do Pesqueiro

Logo depois da Vila, fica a praia do Pesqueiro, a 8km do Centro de Soure. Sim, ela realmente mostra uma beleza sem igual com um mar calmo de águas mornas e salobras e infraestrutura de bares em estilo marajoara, ou seja, de madeira com piso alto e cobertos de palha de palmeira. O local é rustico, mas de uma beleza sem igual. Ali tive o privilégio de comer picadinho de búfalo, quebrar caranguejo paraense e desfrutar do ensopado do pirarucu, olhando a todo o instante jovem passar com búfalos a serem fotografados. Simples assim, simples e encantador é esse pedacinho do Marajó.

 

Na Bagagem

Como chegar a Ilha de Marajó/ Soure?

As belezas da praia do Pesqueiro

Partindo de Belém, principal porta de entrada do Pará, para se conhecer a Ilha do Marajó o viajante terá que se locomover ao terminal hidroviário na região portuária da cidade ou ir até Icoaraci, a 20 km do Centro. O primeiro recebe passageiros que estão sem veículos e custa cerca de R$ 52, por pessoa. A viagem dura 3h até Porto Camará, em Salvaterra. Já por Icoroaci, saem balsas que levam até 4h de viagem também até o Porto de Camará e custa R$ 23,60 (econômica) e mais R$ 8,60 se optar pela sala executiva.

A partir do Porto Camará, quando chegam as embarcações são dezenas de microônibus, vans e carros particulares que fazem as três principais linhas: Salvaterra, Soure e Cachoeira do Arari. Corra e pegue logo seu acento em um deles porque o próximo só estará disponível quando outras embarcações chegarem. Entre Salvaterra e Soure há uma balsa que tem frequência de funcionamento, mas fica em operação até às 19h e, no domingo, até às 18h. No entanto, há pequenos barcos que fazem a travessia do rio e funcionam 24 horas.

Como fazer os passeios?

Praia do Pesqueiro

O acesso à praia do Pesqueiro é feito por carros particulares – mototáxis, táxis e vans – e leva cerca de 20 minutos de Soure. A praia é um dos maiores atrativos naturais da região. Pode-se contratar um taxi na cidade e fazer as duas praias e marcar o horário de retorno. O preço varia entre R$ 30 por pessoa até R$ 70, a depender do que visitar e as paradas.

Consulte o taxista Luciano, um hospitaleiro nordestino que sabe mora em Soure e sabe contar histórias da região. Ele tele te leva para conhecer os pontos turísticos próximos de Soure. Contato 91 98872 3636

Qual a melhor época para ir?

Vila do Pesqueiro

As temperaturas costumam ser altas durante todo o ano e faz calor. Quanto a melhor época, as ilhotas e as praias estão à vista no período de final de julho a dezembro, considerado o verão amazônico. Veja que há uma sazonalidade nas águas das praias entre doce e salobra e quando sobre a influência da água mais salgada dos oceanos, há também mudança no quesito da pesca da localidade.

O Ateliê M”Barayo fica na Travessa 20, Centro, entre 3ª e 4ª ruas, em Soure. O Ateliê Arte Mangue Marajó fica na estrada principal entre a rodovia e a estrada da praia de Barra Velha.

*”Cor local”, expressão que define o sentido figurado de personagens, histórias, geografia, regionalismo, locais, características especificas, épocas e tipo de uma determinada região.

Gastroterapia

Picadinho de búfalo na praia do Pesqueiro

Uma boa ideia é tomar o café da manhã no Mercado Municipal de Soure juntamente com a população e turistas que se misturam em baixo das mangueiras da praça. O cardápio é simples, mas cheio de afetividade e ao gosto do freguês. Preferi conhecer algo com o tradicional queijo de búfala marajoara e nada melhor que a tapioca para acompanhá-lo. Tapiocas e cuscuz são os mais pedidos com acompanhamentos. Também conheci na praia do Pesqueiro o picadinho de carne de búfalo, uma carne meio adocicada que valeu a pena.

Tapioca com queijo marajoara de búfula

 

*Dúvidas do roteiro enviar mensagem no Instagram @silviotonomundo

Fotos: Silvio Oliveira

 

Leia também:

Coroca (PA): avistagem de tartaruga e trançados do tucumanzeiro

Santarém (PA): banho de rio sob o céu estrelado da Amazônia

Belém (PA): cores, cheiros e sensações de uma cidade multicultural

Alter do Chão (PA): um destino chamado Amor

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais