Síndrome de Ovários Policísticos: danos colaterais

Leva tempo para alguém ser bem sucedido porque o êxito não é mais do que a recompensa natural pelo tempo gasto em fazer algo direito ( Joseph Ross )

Mulheres com a síndrome são sobrecarregadas com múltiplas morbidades e uso de medicamentos, independentemente do índice de massa corporal na idade fértil tardia: um estudo de coorte de base populacional.

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é ​​o distúrbio endócrino mais comum em mulheres em idade reprodutiva, com prevalência de 5% a 18%.No passado infelizmente costumava ser considerada principalmente uma condição reprodutiva. Mas, graças a Deus no entanto, agora é comumente aceito que mulheres com essa Síndrome apresentam alto risco de distúrbios metabólicos, incluindo obesidade, tolerância diminuída à glicose, diabetes mellitus tipo 2 (DM2), síndrome metabólica e possivelmente eventos cardiovasculares. Além disso, as mulheres com SOP apresentam risco aumentado de morbidade psicológica, asma e enxaqueca.

Surpreendentemente, apenas alguns estudos avaliaram sistematicamente a comorbidade geral em mulheres com SOP, no entanto esta deveria ser uma alta prioridade, dado o alto custo para a sociedade que resulta da morbidade relacionada à essa Síndrome. Por exemplo, apenas o DM2 relacionado à SOP foi estimado em  237 milhões de liras (US$ 310 milhões de dólares ) anualmente no Reino Unido e US$ 1,77 bilhão nos Estados Unidos.

Muitas vezes a SOP permanece a subdiagnosticada e, portanto, sub-representada nos registros nacionais e de pacientes, limitando portanto a descoberta  de comorbidades. Estudos retrospectivos relataram principalmente diagnósticos hospitalares sem nenhum dado sobre sintomas. Além disso, a atenção geralmente se concentra principalmente nas mulheres em seus anos reprodutivos, iniciais ou médios, e os dados de morbidade no final da idade reprodutiva são escassos.

O estudo desenvolvido por Kujanpää e colaboradores  Universidade na Finlândia ) esse ano, avaliou as morbidades, os sintomas autor relatados, o uso de medicamentos e o uso de serviços de saúde em mulheres de 46 anos com SOP e controles sem SOP.

Um Grupo de Pesquisadores estudou uma população que teve origem da Coorte de Nascimentos do Norte da Finlândia de 1966 e que consistiu em mulheres que relataram oligo/amenorreia ( redução ou ausência de perdas menstruais ) e hirsutismo ( aumento de pelos com características masculinas em mulheres ) aos 31 anos e/ou diagnóstico de SOP aos 46 anos (n = 246) e controles sem sintomas ou diagnóstico de SOP (n = 1573), referidas como mulheres sem SOP.

As principais medidas de finalização dessa pesquisa foram dados dos autores relatados sobre sintomas, doenças diagnosticadas e uso de medicamentos e serviços de saúde aos 46 anos.

Dessa Pesquisa foi observada após a sua finalização, que o risco geral de morbidade aumentou em 35% (razão de risco [RR] 1,35, intervalo de confiança de 95% [IC] 1,16–1,57) e uso de medicamentos em 27% [RR 1,27, IC 95% 1,08–1,50] em comparação com mulheres sem SOP, e o risco foi mantido após ajuste para o índice de massa corporal.

Importante referir de que observou-se que os diagnósticos mais prevalentes em mulheres com SOP foram enxaqueca, hipertensão, tendinite, osteoartrite, fraturas e endometriose.

Importante salientar que a SOP também foi associada a doenças autoimunes, infecções e sintomas recorrentes do trato respiratório superior. Curiosamente, o uso de serviços de saúde não diferiu entre os grupos de estudo após o ajuste para o índice de massa corporal.

 

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Tabela 1: Diagnóstico autorreferido aos 46 anos.

Esse  estudo de acompanhamento de importante base populacional ilustrou de forma incontestável do alto risco de multimorbidade entre mulheres com SOP até os 46 anos. Salientamos de que foi demonstrado que essa síndrome estava associada a um risco aumentado de diversas doenças e sintomas, alguns deles relacionados, pela primeira vez, à SOP.

Algumas das diferenças no risco de doença, e principalmente no uso de medicamentos, foram devido a presença de um IMC elevado, indicando que a SOP, por si só, não pode ser a principal causa de algumas das comorbidades. No entanto, o escore médio de morbidade de mulheres com SOP com IMC de 25 kg/m2 ou mais foi semelhante ao de mulheres com SOP que estavam abaixo do peso. Mais estudos sobre os mecanismos patogênicos das comorbidades nessa Síndrome são necessários, pois o IMC elevado não parece ser o único responsável pelo aumento da morbidade.

Aos 46 anos, as mulheres com SOP apresentaram risco aumentado de DM 2,depressão,enxaqueca,hipertensão arterial, tendinite, osteoartrite (especialmente joelho, costas ou ombro), fraturas, endometriose, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia.

Certamente, foi estabelecido que mulheres com peso normal com SOP não correm risco de desenvolver DM2, especialmente em populações nórdicas. Condições metabólicas, como hipertensão, são bem estabelecidas na SOP e também foram associadas ao risco de pré-eclâmpsia. Um estudo realizado anteriormente avaliou especificamente a doença cardiovascular nessa população, mostrando que o risco de hipertensão é aumentado na SOP, independente da obesidade, e que o risco de eventos cardiovasculares aumentou até os 49 anos.

Também relataram reações metabólicas adversas importantes em mulheres com SOP, bem como morbidade cardíaca registrada; de forma absolutamente controversa, nenhum aumento do risco de DCV a longo prazo foi detectado em estudos com populações mais velhas.

O estudo também revelou um risco aumentado de migrânea na SOP, concordando com as diversas literaturas existentes em estudos atualmente existentes sobre o assunto, sendo que um deles bastante meticuloso e bem mais detalhado, sugeriu que uma pesquisa mais aprofundada do mecanismo seria necessária, pois a enxaqueca geralmente está relacionada a flutuações hormonais no ciclo menstrual e que geralmente são interrompidas na SOP.

Resta determinar se a maior prevalência de endometriose está relacionada a avaliações ginecológicas mais extensas nesta população subfértil ou seria relacionada à ação prolongada do estrogênio e a uma resistência à progesterona na SOP.

Devemos no entanto referir de que a tendinite não foi associada à SOP antes, mas independente disso é bom frisar de que as doenças musculoesqueléticas em geral e a osteoartrite são mais comuns nas mulheres afetadas pela SOP; Também é bom esclarecer que o risco de fratura entre mulheres com SOP é bastante discutível. Por exemplo, em uma população dinamarquesa, as fraturas não foram mais comuns, ao contrário de um estudo taiwanês, assim como o do Finlandês.

Os Pesquisadores relataram também níveis mais altos de vitamina D na mesma população com SOP; no entanto, os marcadores de formação óssea e densidade mineral óssea parecem estar diminuídos na SOP. Eles sugerem que mais estudos devem ser realizados entre mulheres com SOP com diferentes fenótipos para afastar de forma mais categórica, o papel do hiperandrogenismo e distúrbios metabólicos, nessa Síndrome

Problemas do trato respiratório foram mais frequentes em mulheres com SOP, ou seja as mulheres relataram tosse sibilante, infecções respiratórias recorrentes e eczema atópico ( lesão cutânea ), infantil ou alérgica com mais frequência do que os controles. Portanto, infelizmente observa-se a evidência de uma maior prevalência de várias infecções e doenças respiratórias em mulheres com SOP  aumentando de forma significativa ( baixa imunidade? ).

Os mecanismos por trás desses distúrbios são desconhecidos, no entanto o aumento da inflamação sistêmica de baixo grau ou hiperandrogenismo podem ser fatores predisponentes

Convém referir de que a maior prevalência de eczema foi um achado novo, embora algumas manifestações dermatológicas, como a hidradenite supurativa, tenham sido previamente relacionadas à SOP.

Devemos enfantizar de que Kujanpää e colaboradores (2022) avaliaram pela primeira vez esses sintomas autorrelatados relacionados a infecções e doenças autoimunes entre mulheres com SOP. Infelizmente as mulheres afetadas relataram infecções recorrentes com maior frequência, incluindo pneumonia, infecções de ouvido e resfriados comuns, e uma maior suscetibilidade à infecção do que os controles aos 46 anos.

Além disso, sintomas relacionados a doenças autoimunes foram mais comuns em mulheres com SOP do que em controles. Esses resultados foram apoiados por uma recente revisão sistemática e meta-análise que apresenta mulheres com SOP não apenas com risco aumentado de doença autoimune da tireoide, mas também com risco aumentado de asma.

Infelizmente apenas um estudo havia analisado o uso de medicamentos entre mulheres com SOP, e embora o aumento do uso de medicamentos no estudo de Kujanpää e colaboradores tenha sido autorrelatado, o perfil de medicação foi semelhante ao relatado no estudo baseado em um registro dinamarquês. Medicamentos usados ​​para tratar doenças do trato alimentar e metabólicas foram mais frequentes na SOP.

Este grupo de medicamentos inclui não apenas a metformina, mas também medicamentos para problemas gástricos. A constatação do aumento do uso de medicamentos para distúrbios gastrointestinais funcionais pode refletir níveis mais altos de estresse e ansiedade, que demonstraram levar a sintomas gastrointestinais, bem como um risco aumentado de síndrome do intestino irritável na SOP.

O uso de medicamentos direcionados ao sistema cardiovascular, principalmente o uso de betabloqueador, foi maior na SOP. Como o tratamento de primeira linha para a hipertensão arterial são os medicamentos que têm como alvo o sistema renina-angiotensina, é possível que esses tenham sido prescritos para outras indicações além da hipertensão, como sintomas de ansiedade, que são altamente prevalentes na SOP, assim como a excitação simpática.

O aumento do uso de medicamentos que afetam o sistema nervoso na SOP era esperado, dada a morbidade psicológica associada à síndrome.

Além disso, observou-se um aumento do uso de medicamentos para tratar manifestações cutâneas na SOP, provavelmente explicado pela acne, hirsutismo e queda de cabelo, comumente associados à síndrome. Como o estudo também demonstrou maior prevalência de eczemas atópicos e outros sintomas autoimunes na SOP, mais pesquisas devem ser realizadas visando manifestações dermatológicas relacionadas à síndrome.

Mulheres com SOP relataram morbidades, sintomas e aumento do uso de medicamentos com mais frequência do que os controles. Além disso, elas classificaram sua saúde como ruim ou muito ruim quase três vezes mais do que os controles. Em consonância com isso, as mulheres afetadas relataram consultas de saúde mais frequentes, embora isso pareça ser impulsionado pelo IMC elevado.

Os estudos enfatizaram de que a multimorbidade e a auto percepção de saúde é extremamente ruim entre mulheres com SOP!!!

Finalizando podemos inferir de que as mulheres com SOP são sobrecarregadas com múltiplas morbidades e principalmente com o aumento inconsequente e irresponsável do uso de medicamentos, independentemente do índice de massa corporal.

Uma Boa e Simpática Semana….

MAKTUB!!!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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